No ranking europeu que avalia a qualidade de execução da Agenda 2030 das Nações Unidas, Portugal surge na 20.ª posição. Os progressos em algumas áreas, como o acesso a fontes de energia limpas para todos, foram considerados moderados e com dificuldades de implementação.

A produção de energia renovável é fundamental para alcançar os objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS) e contribuir para um futuro mais resiliente. Em Portugal, têm sido dados importantes passos e o país é, inclusivamente, olhado como um exemplo a seguir.

De facto, em 2023, a produção renovável abasteceu 61% do consumo de energia elétrica, atingindo um total de 31,2 TWh. Trata-se do valor mais elevado de sempre, tendo a energia eólica contribuído com 25%, a hidroelétrica com 23%, a fotovoltaica com 7% e a biomassa com 6%.

O bom caminho deve ser prosseguido, até para atingirmos as metas da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, que neste capítulo pelo ODS 7 dita que deve ser garantido o acesso a fontes de energia limpa, fiáveis, sustentáveis e modernas para todos. Sim, “para todos”, sem exceção.

As prioridades são várias: garantir o acesso universal a energia renovável e acessível; aumentar a participação das energias renováveis no mix global de energia; reforçar a cooperação internacional para facilitar o acesso à pesquisa e tecnologia de energia limpa; expandir a infraestrutura e atualizar a tecnologia para fornecer serviços de energia modernos e sustentáveis para todos nos países em desenvolvimento.

Onde e como fazer mais? Voltando aos últimos números da produção renovável, parece ser claro que há um potencial fotovoltaico ainda não explorado, ou não estaríamos no país do turismo de sol e de praia. Ou seja, Portugal terá de rentabilizar esta vantagem também ao nível energético, graças às condições meteorológicas e ao facto de a energia fotovoltaica ser uma tecnologia competitiva, em termos de custos, e escalável para a produção de eletricidade.

Um recente estudo do Centro Comum de Investigação da Comissão Europeia olhou para a instalação em larga escala de sistemas fotovoltaicos em telhados, bem como para aplicações inovadoras. Por exemplo, sistemas fotovoltaicos flutuantes associados à energia hidroelétrica e sistemas fotovoltaicos bifaciais ao longo de estradas e linhas de caminho de ferro.

Os resultados revelam que a capacidade total instalada de energia fotovoltaica poderá exceder 1 TWp, o que é muito superior à capacidade total de energia fotovoltaica para 2030 prevista na estratégia da União Europeia para a energia solar (720 GWp) e seria um contributo significativo para os vários TW necessários para a transição global para a neutralidade eléctrica até 2050.

Este estudo dá força a outros focados no potencial do solar descentralizado em telhados no consumo final de eletricidade em toda a Europa. No caso de Portugal, os números podem ser muito mais expressivos e só comparados com países como o Chipre.

E é aqui que entram as Comunidades de Energia Renovável (CER), um modelo com centrais de produção de energia fotovoltaica e de outras fontes de energia renovável, que integra diversos membros (entidades locais, empresas, juntas de freguesia, municípios, IPSS, coletividades e cidadãos) e que contribui para a produção e partilha local de energia, aproximando o produtor do consumidor, reduzindo os custos de transporte, a sobrecarga da rede e as necessidades de importação, por exemplo de combustíveis fósseis.

A transição energética pode ser mais rápida se tiver como pressuposto formas descentralizadas e colaborativas, em que os consumidores podem ter um papel mais ativo, passando a ser produtores e também comercializadores da sua eletricidade, reduzindo custos e aumentando proveitos. Com a implementação de CER, isto passa a ser uma realidade e, tal como a Agenda 2030 procura, pode incluir todos, mesmo famílias economicamente mais vulneráveis.

QOSHE - Mais (e melhor) energia para cumprir a Agenda 2030 - Rui Queiroga
menu_open
Columnists Actual . Favourites . Archive
We use cookies to provide some features and experiences in QOSHE

More information  .  Close
Aa Aa Aa
- A +

Mais (e melhor) energia para cumprir a Agenda 2030

12 11
21.03.2024

No ranking europeu que avalia a qualidade de execução da Agenda 2030 das Nações Unidas, Portugal surge na 20.ª posição. Os progressos em algumas áreas, como o acesso a fontes de energia limpas para todos, foram considerados moderados e com dificuldades de implementação.

A produção de energia renovável é fundamental para alcançar os objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS) e contribuir para um futuro mais resiliente. Em Portugal, têm sido dados importantes passos e o país é, inclusivamente, olhado como um exemplo a seguir.

De facto, em 2023, a produção renovável abasteceu 61% do consumo de energia elétrica, atingindo um total de 31,2 TWh. Trata-se do valor mais elevado de sempre, tendo a energia eólica contribuído com 25%, a hidroelétrica com 23%, a fotovoltaica com 7% e a biomassa com 6%.

O bom caminho deve ser prosseguido, até para atingirmos as metas da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, que neste capítulo pelo ODS 7........

© Jornal Económico


Get it on Google Play