Antecipando a semana da Conferência do Clima 2023 – a COP28 – multiplicaram-se as notícias sobre a dimensão que atinge hoje a crise ecológica e como revertê-la.

Uma das afirmações mais emblemáticas chegou da Europa.

Em conjunto, Fatih Birol, Diretor-executivo da Agência Internacional de Energia, Werner Hoyer, Presidente do Banco Europeu de Investimento e Christine Lagarde, Presidente do Banco Central Europeu, declararam que este é o momento para tornar a economia europeia resistente às alterações climáticas.

Estas afirmações surgem antes do rescaldo do PRR, cujo objetivo é “tornar as economias e sociedades europeias mais sustentáveis, resilientes e preparadas para as transições ecológica e digital”. É caso para perguntar se terá o PRR ficado aquém das expectativas, ou se terá o digital levado a melhor ao ecológico.

Os responsáveis europeus têm bem presente as vozes que alertam para a evolução das taxas de juro e o impacto que estas poderão ter na acumulação da dívida. Assim, Olivier Blanchard escreveu recentemente que os rácios da dívida sobre o PIB irão aumentar por algum tempo, o que, não sendo grave, torna necessário prestar atenção para evitar que possam voltar a explodir. Martin Wolf, no entanto, interpretou a mensagem de Blanchard como uma indicação de que se esperam escolhas orçamentais e fiscais dolorosas para os próximos tempos.

A tríade europeia procurou acalmar as inquietações, assegurando no seu uníssono que existirão instrumentos de financiamento, tais como as obrigações verdes a ser emitidas pela União Europeia, para fazer face a todo o investimento que se antevê como necessário.

A tónica destes decisores são tecnologias limpas, o setor alvo são as energias renováveis e a mensagem é assegurar a competitividade europeia.

Algum do fervor reformista europeu explica-se como uma reação a movimentações do outro lado do Atlântico – Joe Biden há muito que anunciou o seu plano de transição ambiental (Inflation Reduction Act), que permitirá relançar a economia americana através de forte investimento público. A Europa reagiu apenas com o atraso que a caracteriza.

No país do liberalismo, o Estado voltará a ser o perpetrador das grandes inovações, leia-se revoluções tecnológicas – será o regresso do Estado empreendedor, como o apelida Mariana Mazzucato.

Para conseguirem seguir o líder e recuperar a competitividade perdida, os europeus deverão ser capazes de se libertarem do espartilho do défice e da dívida. Será mesmo este o tempo do investimento público europeu?

QOSHE - Transição ecológica, um eufemismo para investimento público? - Sofia Vale
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Transição ecológica, um eufemismo para investimento público?

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30.11.2023

Antecipando a semana da Conferência do Clima 2023 – a COP28 – multiplicaram-se as notícias sobre a dimensão que atinge hoje a crise ecológica e como revertê-la.

Uma das afirmações mais emblemáticas chegou da Europa.

Em conjunto, Fatih Birol, Diretor-executivo da Agência Internacional de Energia, Werner Hoyer, Presidente do Banco Europeu de Investimento e Christine Lagarde, Presidente do Banco Central Europeu, declararam que este é o momento para tornar a economia europeia resistente às alterações climáticas.

Estas afirmações surgem antes do rescaldo do PRR, cujo objetivo é “tornar as economias e sociedades........

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