A autoridade: da sua falta, dos que a fomentam e dos que aproveitam da penúria dela

Não é por coincidência, e menos ainda por total incapacidade analítica, que, todos os dias, os media promovem a imagem triunfante dos mais perigosos agressores da autoridade.

1. Muitos são os que, hoje, se queixam da falta de autoridade no país.

Dizem que as polícias não conseguem exercer a autoridade: mais concretamente, de que as não deixam bater e disparar quando e como entendem.

Dizem o mesmo quando falam dos professores e da sua relação com os alunos: falta-lhes, acreditam, a cana de bambu que vergastava as pernas dos insubordinados e preguiçosos.

Queixam-se, ainda, da falta de respeito pelos magistrados e pela Justiça; que esta é branda, mesmo quando aplica, em média, as mais elevadas penas de prisão da UE.

Queixam-se, enfim, da falta de respeito pelas instituições e símbolos do Estado: por exemplo, do depurado design da bandeira nacional que, sem grande inspiração - admita-se – serve, agora, de timbre aos documentos oficiais.

Queixam-se, como crentes que juram ser, da falta de respeito pela Igreja e pelos padres – vá-se lá saber porquê -, mas nunca referem o que diz o Papa Francisco sobre os grandes temas do catolicismo e da sociedade, de quem, objetivamente, não gostam, nem respeitam.

Queixam-se, em suma, da falta de respeito pelos que, entre nós, sempre mandaram.

Da falta de apreço e reconhecimento da autoridade dos que, há cinco décadas, deixaram de mandar e isso dói-lhes verdadeiramente.

Fazem-no raivosos e empolgados, arrancando berros de ira do seu auditório, apontando o dedo aos que consideram os causadores de tal caos: os famigerados seguidores de abril e sua descendência.

E, quando o fazem, insultam, sem pejo, por palavras e gestos, os seus interlocutores e adversários - mesmo que altos responsáveis do Estado - contribuindo, assim, para agravar ainda mais, a erosão da autoridade, de que dizem carecer o país.

2. Quem ouvir, hoje, os programas das televisões, rapidamente constata que eles reproduzem, sem critério, nem sombra de repúdio, todo o tipo de estrepitosas desconsiderações contra aqueles que, legitimamente, exercem qualquer tipo de autoridade política, social, cultural e científica.

O desgaste da autoridade – e, com ela, o da verdade - em todos estes planos da vida em sociedade tem muitas causas e responsáveis: entre eles, os que periodicamente comentam e opinam nas TVs sobre matérias de que pouco sabem e, mesmo, sobre as de que nada sabem.

Fechados em círculos corporativos cada vez mais estreitos, os detentores dos poderes mediáticos e alguns dos seus profissionais - pivots, comentadores, diretores de órgãos de comunicação e, mesmo, alguns jornalistas – entram facilmente em êxtase com os ditos supostamente espirituosos de uns e de outros.

Para manterem a ilusão da sua presumida autoridade intelectual – sobrepondo-a à dos que são alvo dos seus comentários - se necessário for, alteram mesmo a realidade sobre que se debruçam, ficcionando a existência de uma outra.

Sobre esta podem, portanto, falar livremente, pois, não existindo, a não ser nas cabeças do círculo privado que frequentam, não correm o risco de ser contrariados e desmentidos com os argumentos simples e evidentes dos que a tal núcleo de iluminados não pertencem.

Mudando, rotativamente, de posição funcional nos painéis fechados que agora organizam nas TVs, evitam, sobretudo, confrontar-se com posições sustentadas de quem, fora do seu círculo, verdadeiramente sabe.

Tratando-se entre eles pelo nome próprio e por tu – como veem fazer nos media anglo-saxónicos, mesmo que o British «you» não corresponda, necessariamente, ao nosso «tu» – peroram, excitados, sobre as hipotéticas construções que, sem nenhum tipo de sustentação, vão aventando e difundindo: «Oh Manel, não sou disto um especialista, mas acho que…tu sabes, não é?»

Outros, ainda mais afoitos tentam, por antecipação, amesquinhar a idoneidade e competência dos que sabem, chegando mesmo, quando não for suficiente, a cortar-lhes, a palavra, sempre que esta se não ajusta à hipótese que militantemente sustentam.

Quem, porventura, tiver visionado alguns dos episódios de uma série francesa (Um Caso por Resolver), exibida recentemente na RTP 2, ficará mais esclarecido sobre o que digo: está lá tudo.

Em tais episódios evidenciam-se, sem subterfúgios, os interesses contraditórios e os conúbios que, por meio da chantagem e do medo ou, pelo contrário, da bajulação e promoção mediática de alguns detentores do poder, o que tais órgãos de comunicação são capazes de fazer, para impor – no caso à Justiça - a verdade relativa, que, momentaneamente, lhes interessa que prevaleça.

Muitos órgãos de comunicação, em especial as TVs, colaboram, pois, mais do que admitem, com os objetivos dos que – esses sim - propositadamente, arrasam, à patada, a autoridade de quem, em democracia, exerce o poder que legitimamente lhes foi conferido pela Constituição e as leis ou por uma instituição – uma universidade, por exemplo - reconhecida cultural e cientificamente pela sociedade.

As referências negativas constantes e, frequentemente, desprestigiantes das altas instâncias político-institucionais do país assemelham-se muito, por isso, às que – mais histrionicamente – são gritadas, diretamente e já sem qualquer tipo de filtro, pelos galvanizadores políticos do núcleo de forças anticonstitucionais.

De tão parecidas – mesmo que diferentes na essência e nos objetivos - tais referências cruzadas acabam, de resto, por se justificarem mutuamente.

Não, não é apenas por coincidência, e menos ainda por total incapacidade analítica, que todos os dias os media nacionais promovem a imagem triunfante dos agressores da autoridade consagrada e conferida pela Constituição aos que, nos termos desta, compete exercer qualquer tipo de poder.

3. Muitos têm sido os que procuraram diferenciar o conceito de «poder» do de «autoridade».

Várias definições foram, ao longo da História, sendo ensaiadas por diferentes pensadores e filósofos.

A partir dos dispositivos da Constituição da V República francesa, Antoine Garapon – um juiz e pensador francês - procurou fundamentar, no que à Justiça diz respeito, as diferenças entre esses dois conceitos.

Garapon sustentou, contra a tradicional inclusão dos tribunais no âmbito de um dos poderes do Estado - o «Poder Judicial» - a melhor adequação do conceito de «Autoridade Judicial» ao ato de realizar Justiça em nome do povo.

Defendeu, portanto, que a autoridade das decisões judiciais reside, precisamente, no exercício vinculado que os magistrados fazem dos seus poderes constitucionais e legais.

É, pois, a «autoridade» que, segundo ele, legitima o exercício dos poderes do juiz e não o contrário.

No fundo, o regresso, por outra via, ao que Montesquieu, afinal, defendera, séculos antes:

« Les juges de la nation ne sont (…) que la bouche qui prononce les paroles de la loi ».

Numa abordagem mais religiosa, vale a pena ler, também, no Diário de Notícias, de 11 dezembro de 2021, um esclarecedor e didático artigo de Anselmo Borges sobre a confusão e diferença destes conceitos.

O autor disserta aí sobre a distinção entre «poder» e «autoridade» no seio da Igreja, mas a abordagem clara e simples que dela faz, serve bem para todos os que se dedicam a estudar, mais abrangentemente, a essencial diferença dos dois conceitos.

A verdade é que, depreciada a autoridade dos que exercem legitimamente o poder, este último tende a anular-se, perdendo, igualmente, os seus titulares a capacidade para tomarem decisões vinculantes e aceites como legítimas.

Isto, precisamente, por tais funções se validarem, não no poder que representam, mas na autoridade que lhes foi outorgada pela Constituição e a lei, ou num saber superior que todos lhes reconhecem.

4. Não parece, pois, estranho que os que, hoje, mais gritam, alertando contra a debilidade do estatuto dos que, em diversos níveis da sociedade, exercem o poder em Portugal, sejam, precisamente, os que mais procuram abalar o seu prestígio e, sobretudo, a sua autoridade.

É que essa autoridade reside e decorre, precisamente, do complexo edifício constitucional e social que tanto odeiam e querem derrubar.

Nunca, ninguém trabalhou tanto e tão bem nesse sentido; reconheça-se.

Estando, assim, na origem da continuada perda de autoridade dos órgãos institucionais da República e dos que científica e culturalmente a engrandecem são eles que retiram, também, maiores vantagens políticas dessa erosão.

Por isso, enquanto a minam como podem, não param de gritar: «aqui d’el rei que já não há autoridade neste país».

É importante, por isso, não alinhar levianamente – como é moda fazer-se, agora, nos media - na campanha de desrespeito institucional dos que, legitimamente, representam um dos poderes do Estado e exercem a autoridade para dar corpo aos objetivos constitucionais de que os incumbiram.

1. Muitos são os que, hoje, se queixam da falta de autoridade no país.

Dizem que as polícias não conseguem exercer a autoridade: mais concretamente, de que as não deixam bater e disparar quando e como entendem.

Dizem o mesmo quando falam dos professores e da sua relação com os alunos: falta-lhes, acreditam, a cana de bambu que vergastava as pernas dos insubordinados e preguiçosos.

Queixam-se, ainda, da falta de respeito pelos magistrados e pela Justiça; que esta é branda, mesmo quando aplica, em média, as mais elevadas penas de prisão da UE.

Queixam-se, enfim, da falta de respeito pelas instituições e símbolos do Estado: por exemplo, do depurado design da bandeira nacional que, sem grande inspiração - admita-se – serve, agora, de timbre aos documentos oficiais.

Queixam-se, como crentes que juram ser, da falta de respeito pela Igreja e pelos padres – vá-se lá saber porquê -, mas nunca referem o que diz o Papa Francisco sobre os grandes temas do catolicismo e da sociedade, de quem, objetivamente, não gostam, nem respeitam.

Queixam-se, em suma, da falta de respeito pelos que, entre nós, sempre mandaram.

Da falta de apreço e reconhecimento da autoridade dos que, há cinco décadas, deixaram de mandar e isso dói-lhes verdadeiramente.

Fazem-no raivosos e empolgados, arrancando berros de ira do seu auditório, apontando o dedo aos que consideram os causadores de tal caos: os famigerados seguidores de abril e sua descendência.

E, quando o fazem, insultam, sem pejo, por palavras e gestos, os seus interlocutores e adversários - mesmo que altos responsáveis do Estado - contribuindo, assim, para agravar ainda mais, a erosão da autoridade, de que dizem carecer o país.

2. Quem ouvir, hoje, os programas das televisões, rapidamente constata que eles reproduzem, sem critério, nem sombra de repúdio, todo o tipo de estrepitosas desconsiderações contra aqueles que, legitimamente, exercem qualquer tipo de autoridade política, social, cultural e científica.

O desgaste da autoridade – e, com ela, o da verdade - em todos estes planos da vida em sociedade tem muitas causas e responsáveis: entre eles, os que periodicamente comentam e opinam nas TVs sobre matérias de que pouco sabem e, mesmo, sobre as de que nada sabem.

Fechados em círculos corporativos cada vez mais estreitos, os detentores dos poderes mediáticos e alguns dos seus profissionais - pivots, comentadores, diretores de órgãos de comunicação e, mesmo, alguns jornalistas – entram facilmente em êxtase com os ditos supostamente espirituosos de uns e de outros.

Para manterem a ilusão da sua presumida autoridade intelectual – sobrepondo-a à dos que são alvo dos seus comentários - se necessário for, alteram mesmo a realidade sobre que se debruçam, ficcionando a existência de uma outra.

Sobre esta podem, portanto, falar livremente, pois, não existindo, a não ser nas cabeças do círculo privado que frequentam, não correm o risco de ser contrariados e desmentidos com os argumentos simples e evidentes dos que a tal núcleo de iluminados não pertencem.

Mudando, rotativamente, de posição funcional nos painéis fechados que agora organizam nas TVs, evitam, sobretudo, confrontar-se com posições sustentadas de quem, fora do seu círculo, verdadeiramente sabe.

Tratando-se entre eles pelo nome próprio e por tu – como veem fazer nos media anglo-saxónicos, mesmo que o British «you» não corresponda, necessariamente, ao nosso «tu» – peroram, excitados, sobre as hipotéticas construções que, sem nenhum tipo de sustentação, vão aventando e difundindo: «Oh Manel, não sou disto um especialista, mas acho que…tu sabes, não é?»

Outros, ainda mais afoitos tentam, por antecipação, amesquinhar a idoneidade e competência dos que sabem, chegando mesmo, quando não for suficiente, a cortar-lhes, a palavra, sempre que esta se não ajusta à hipótese que militantemente sustentam.

Quem, porventura, tiver visionado alguns dos episódios de uma série francesa (Um Caso por Resolver), exibida recentemente na RTP 2, ficará mais esclarecido sobre o que digo: está lá tudo.

Em tais episódios evidenciam-se, sem subterfúgios, os interesses contraditórios e os conúbios que, por meio da chantagem e do medo ou, pelo contrário, da bajulação e promoção mediática de alguns detentores do poder, o que tais órgãos de comunicação são capazes de fazer, para impor – no caso à Justiça - a verdade relativa, que, momentaneamente, lhes interessa que prevaleça.

Muitos órgãos de comunicação, em especial as TVs, colaboram, pois, mais do que admitem, com os objetivos dos que – esses sim - propositadamente, arrasam, à patada, a autoridade de quem, em democracia, exerce o poder que legitimamente lhes foi conferido pela Constituição e as leis ou por uma instituição – uma universidade, por exemplo - reconhecida cultural e cientificamente pela sociedade.

As referências negativas constantes e, frequentemente, desprestigiantes das altas instâncias político-institucionais do país assemelham-se muito, por isso, às que – mais histrionicamente – são gritadas, diretamente e já sem qualquer tipo de filtro, pelos galvanizadores políticos do núcleo de forças anticonstitucionais.

De tão parecidas – mesmo que diferentes na essência e nos objetivos - tais referências cruzadas acabam, de resto, por se justificarem mutuamente.

Não, não é apenas por coincidência, e menos ainda por total incapacidade analítica, que todos os dias os media nacionais promovem a imagem triunfante dos agressores da autoridade consagrada e conferida pela Constituição aos que, nos termos desta, compete exercer qualquer tipo de poder.

3. Muitos têm sido os que procuraram diferenciar o conceito de «poder» do de «autoridade».

Várias definições foram, ao longo da História, sendo ensaiadas por diferentes pensadores e filósofos.

A partir dos dispositivos da Constituição da V República francesa, Antoine Garapon – um juiz e pensador francês - procurou fundamentar, no que à Justiça diz respeito, as diferenças entre esses dois conceitos.

Garapon sustentou, contra a tradicional inclusão dos tribunais no âmbito de um dos poderes do Estado - o «Poder Judicial» - a melhor adequação do conceito de «Autoridade Judicial» ao ato de realizar Justiça em nome do povo.

Defendeu, portanto, que a autoridade das decisões judiciais reside, precisamente, no exercício vinculado que os magistrados fazem dos seus poderes constitucionais e legais.

É, pois, a «autoridade» que, segundo ele, legitima o exercício dos poderes do juiz e não o contrário.

No fundo, o regresso, por outra via, ao que Montesquieu, afinal, defendera, séculos antes:

« Les juges de la nation ne sont (…) que la bouche qui prononce les paroles de la loi ».

Numa abordagem mais religiosa, vale a pena ler, também, no Diário de Notícias, de 11 dezembro de 2021, um esclarecedor e didático artigo de Anselmo Borges sobre a confusão e diferença destes conceitos.

O autor disserta aí sobre a distinção entre «poder» e «autoridade» no seio da Igreja, mas a abordagem clara e simples que dela faz, serve bem para todos os que se dedicam a estudar, mais abrangentemente, a essencial diferença dos dois conceitos.

A verdade é que, depreciada a autoridade dos que exercem legitimamente o poder, este último tende a anular-se, perdendo, igualmente, os seus titulares a capacidade para tomarem decisões vinculantes e aceites como legítimas.

Isto, precisamente, por tais funções se validarem, não no poder que representam, mas na autoridade que lhes foi outorgada pela Constituição e a lei, ou num saber superior que todos lhes reconhecem.

4. Não parece, pois, estranho que os que, hoje, mais gritam, alertando contra a debilidade do estatuto dos que, em diversos níveis da sociedade, exercem o poder em Portugal, sejam, precisamente, os que mais procuram abalar o seu prestígio e, sobretudo, a sua autoridade.

É que essa autoridade reside e decorre, precisamente, do complexo edifício constitucional e social que tanto odeiam e querem derrubar.

Nunca, ninguém trabalhou tanto e tão bem nesse sentido; reconheça-se.

Estando, assim, na origem da continuada perda de autoridade dos órgãos institucionais da República e dos que científica e culturalmente a engrandecem são eles que retiram, também, maiores vantagens políticas dessa erosão.

Por isso, enquanto a minam como podem, não param de gritar: «aqui d’el rei que já não há autoridade neste país».

É importante, por isso, não alinhar levianamente – como é moda fazer-se, agora, nos media - na campanha de desrespeito institucional dos que, legitimamente, representam um dos poderes do Estado e exercem a autoridade para dar corpo aos objetivos constitucionais de que os incumbiram.

A Vida e a Lei

A autoridade: da sua falta, dos que a fomentam e dos que aproveitam da penúria dela

Não é por coincidência, e menos ainda por total incapacidade analítica, que, todos os dias, os media promovem a image

Na Linha da Frente

Keinemusik, a febre berlinense chega a Portugal

É uma nova forma de ouvir batidas mais intensas de uma forma suave e até doce na forma como entra no ouvido. São esta

Por Uma Democracia de Qualidade

E agora?

Não acredito em nenhum partido político que apresente um programa de governo de cem ou duzentas páginas e não apresen

Rédea Solta

O PS não pode transformar-se num atrelado

Deixar Mortágua bipolarizar a sociedade portuguesa é diminuir o PS e torná-lo num mero fornecedor de votos.

Técnico

Uma questão de peso

Para lá dos usos legítimos no tratamento da diabetes e obesidade, o semaglutido tem sido utilizado com propósitos mer

Conta Corrente

O cimento de uma gelatina de morango

Não creio que seja essa a vocação do PS. O protesto. O nicho. O umbigo como a medida de todas as coisas. A incapacida

Supremo Tribunal dos EUA suspende lei do Texas que permite deter emigrantes

Milhares de migrantes que atravessam para os a fronteira dos México para os EUA e entregam-se à polícia de fronteiras

Editorial

Montenegro ou Pedro Nuno, qual deles representa a mudança?

Talvez os eleitores tenham sentido que um voto na AD não se traduziria necessariamente na mudança desejada.

Jogos Olímpicos. Andebol português afastado

A seleção nacional de andebol teve o apuramento na mão, mas falhou por culpa própria

1

Kate Middleton e William irão falar “quando acharem que estão prontos”, diz fonte próxima

2

ASAE. Atividade de cinco lojas suspensa

3

Boa Morte vai treinar a seleção da Guiné-Bissau

4

Nuno Júdice. O poeta que pariu a sua némesis

5

Tensões no Mar do Sul da China

6

TGV Português ou a Ignorância em Alta Velocidade

09:56

A autoridade: da sua falta, dos que a fomentam e dos que aproveitam da penúria dela

09:52

Keinemusik, a febre berlinense chega a Portugal

09:47

E agora?

09:45

O PS não pode transformar-se num atrelado

09:41

Uma questão de peso

09:38

O cimento de uma gelatina de morango

QOSHE - A autoridade: da sua falta, dos que a fomentam e dos que aproveitam da penúria dela - António Cluny
menu_open
Columnists Actual . Favourites . Archive
We use cookies to provide some features and experiences in QOSHE

More information  .  Close
Aa Aa Aa
- A +

A autoridade: da sua falta, dos que a fomentam e dos que aproveitam da penúria dela

8 1
19.03.2024

A autoridade: da sua falta, dos que a fomentam e dos que aproveitam da penúria dela

Não é por coincidência, e menos ainda por total incapacidade analítica, que, todos os dias, os media promovem a imagem triunfante dos mais perigosos agressores da autoridade.

1. Muitos são os que, hoje, se queixam da falta de autoridade no país.

Dizem que as polícias não conseguem exercer a autoridade: mais concretamente, de que as não deixam bater e disparar quando e como entendem.

Dizem o mesmo quando falam dos professores e da sua relação com os alunos: falta-lhes, acreditam, a cana de bambu que vergastava as pernas dos insubordinados e preguiçosos.

Queixam-se, ainda, da falta de respeito pelos magistrados e pela Justiça; que esta é branda, mesmo quando aplica, em média, as mais elevadas penas de prisão da UE.

Queixam-se, enfim, da falta de respeito pelas instituições e símbolos do Estado: por exemplo, do depurado design da bandeira nacional que, sem grande inspiração - admita-se – serve, agora, de timbre aos documentos oficiais.

Queixam-se, como crentes que juram ser, da falta de respeito pela Igreja e pelos padres – vá-se lá saber porquê -, mas nunca referem o que diz o Papa Francisco sobre os grandes temas do catolicismo e da sociedade, de quem, objetivamente, não gostam, nem respeitam.

Queixam-se, em suma, da falta de respeito pelos que, entre nós, sempre mandaram.

Da falta de apreço e reconhecimento da autoridade dos que, há cinco décadas, deixaram de mandar e isso dói-lhes verdadeiramente.

Fazem-no raivosos e empolgados, arrancando berros de ira do seu auditório, apontando o dedo aos que consideram os causadores de tal caos: os famigerados seguidores de abril e sua descendência.

E, quando o fazem, insultam, sem pejo, por palavras e gestos, os seus interlocutores e adversários - mesmo que altos responsáveis do Estado - contribuindo, assim, para agravar ainda mais, a erosão da autoridade, de que dizem carecer o país.

2. Quem ouvir, hoje, os programas das televisões, rapidamente constata que eles reproduzem, sem critério, nem sombra de repúdio, todo o tipo de estrepitosas desconsiderações contra aqueles que, legitimamente, exercem qualquer tipo de autoridade política, social, cultural e científica.

O desgaste da autoridade – e, com ela, o da verdade - em todos estes planos da vida em sociedade tem muitas causas e responsáveis: entre eles, os que periodicamente comentam e opinam nas TVs sobre matérias de que pouco sabem e, mesmo, sobre as de que nada sabem.

Fechados em círculos corporativos cada vez mais estreitos, os detentores dos poderes mediáticos e alguns dos seus profissionais - pivots, comentadores, diretores de órgãos de comunicação e, mesmo, alguns jornalistas – entram facilmente em êxtase com os ditos supostamente espirituosos de uns e de outros.

Para manterem a ilusão da sua presumida autoridade intelectual – sobrepondo-a à dos que são alvo dos seus comentários - se necessário for, alteram mesmo a realidade sobre que se debruçam, ficcionando a existência de uma outra.

Sobre esta podem, portanto, falar livremente, pois, não existindo, a não ser nas cabeças do círculo privado que frequentam, não correm o risco de ser contrariados e desmentidos com os argumentos simples e evidentes dos que a tal núcleo de iluminados não pertencem.

Mudando, rotativamente, de posição funcional nos painéis fechados que agora organizam nas TVs, evitam, sobretudo, confrontar-se com posições sustentadas de quem, fora do seu círculo, verdadeiramente sabe.

Tratando-se entre eles pelo nome próprio e por tu – como veem fazer nos media anglo-saxónicos, mesmo que o British «you» não corresponda, necessariamente, ao nosso «tu» – peroram, excitados, sobre as hipotéticas construções que, sem nenhum tipo de sustentação, vão aventando e difundindo: «Oh Manel, não sou disto um especialista, mas acho que…tu sabes, não é?»

Outros, ainda mais afoitos tentam, por antecipação, amesquinhar a idoneidade e competência dos que sabem, chegando mesmo, quando não for suficiente, a cortar-lhes, a palavra, sempre que esta se não ajusta à hipótese que militantemente sustentam.

Quem, porventura, tiver visionado alguns dos episódios de uma série francesa (Um Caso por Resolver), exibida recentemente na RTP 2, ficará mais esclarecido sobre o que digo: está lá tudo.

Em tais episódios evidenciam-se, sem subterfúgios, os interesses contraditórios e os conúbios que, por meio da chantagem e do medo ou, pelo contrário, da bajulação e promoção mediática de alguns detentores do poder, o que tais órgãos de comunicação são capazes de fazer, para impor – no caso à Justiça - a verdade relativa, que, momentaneamente, lhes interessa que prevaleça.

Muitos órgãos de comunicação, em especial as TVs, colaboram, pois, mais do que admitem, com os objetivos dos que – esses sim - propositadamente, arrasam, à patada, a autoridade de quem, em democracia, exerce o poder que legitimamente lhes foi conferido pela Constituição e as leis ou por uma instituição – uma universidade, por exemplo - reconhecida cultural e cientificamente pela sociedade.

As........

© Jornal i


Get it on Google Play