Fartaram-se, disseram: basta!

Por tacticismo e conveniência de circunstância política, por interesses particulares, nesta década de liderança do PS alimentou-se o crescimento do populismo e da extrema-direita.

Para quem acredita nos valores democráticos, é politicamente miserável que venhamos a comemorar os 50 anos de Abril, em Portugal, tendo o Chega a força eleitoral que conquistou e lhe concederam. A culpa não é de quem fez essa escolha, nem esses votos são inúteis, porque em democracia, esse tipo de rotulagem maniqueísta não é admissível, por violar princípios básicos de respeito pela esfera de liberdade dos outros, a diferença e a tolerância. O povo tem sempre as suas razões e ao invés de ler os sinais; perceber os mercados eleitorais que estavam a ser gerados pela ação política e responder às necessidades gerais sem distorções do sentido de serviço público ou do compromisso com o bem comum, a liderança de António Costa resolveu, por ação e por omissão, valorizar o protesto que fustigava o posicionamento e a implantação eleitoral do PSD. Por tacticismo e conveniência de circunstância política, por interesses particulares, nesta década de liderança do PS alimentou-se o crescimento do populismo e da extrema-direita, enquanto se esvaziava a esquerda pelo envolvimento numa solução de sobrevivência para o exercício do poder, depois de uma derrota eleitoral. É essa indiferença política a valores fundamentais da democracia e aos sinais existentes no território, a par de uma maior assertividade desse partido ao funcionamento das dinâmicas da sociedade, dos media e do mundo digital, que nos conduziu ao estado atual.

• Insuficiência do centro-direita para ser alternativa com conforto.

• Insuficiência da esquerda para repetir uma solução de governo sem compromisso na União Europeia e na NATO, mas com pontos focais para o exercício do poder.

• Derrota do Partido Socialista.

• Reforço eleitoral pornográfico do Chega.

• Desastre da gestão política e do posicionamento institucional de um Presidente da República que “não sabe estar”, sendo, cada vez mais, parte do problema e não da solução.

A escalada de representação eleitoral do Chega contou com 5 erros crassos da liderança de António Costa que se configuram como parte do legado destes anos de governação. Bem pode exercitar dúvidas metódicas sobre a natureza estrutural ou circunstancial da representação do voto de protesto, transformado em elefante no meio do plenário parlamentar, qual loja de porcelana democrática. As respostas às dúvidas estão na estratégia, tática, opções e ação política da última década.

Primeiro erro, o de uma solução política de governação assente na resposta a nichos eleitorais e no empoderamento a partidos, como o PAN, que minaram a relação de confiança eleitoral do PS com o Mundo Rural, com muitas comunidades do interior que vivem das tradições sintonizadas com a natureza e com uma noção de equilíbrio no exercício da autoridade do Estado perante as incivilidades, as violações da lei e a desestabilização do funcionamento da vida em sociedade. Basta falar com autarcas do Interior, para se compreender o contexto. Acresce que a deriva de circunstância à esquerda afastou o PS de pontos de equilíbrio e de compromisso que sempre fizeram parte do ideário político e de ação de Mário Soares e António Guterres, o que somado a uma falta de visão para o país além do quotidiano se traduziu numa governação aclamada na reposição de direitos, mas incapaz de responder ao que medrava na sociedade e aos desafios estruturais.

Segundo erro, a geração de uma perceção de que existiriam condições para responder afirmativamente a todas as expetativas, às decorrentes do tempo da Troika, às necessidades estruturais e aos nichos eleitorais dos envolvidos, como se os recursos não fossem finitos, a sociedade não tivesse determinados equilíbrios, que só devem ser substituídos por novos com solidez, e não existisse uma ideia de interesse geral a prosseguir.

Terceiro erro, o choque frontal parlamentar com o protagonista do populismo, sem cuidar de desgastar ou eliminar as razões de queixa das pessoas e dos territórios de implantação inicial da extrema-direita. Fustigar o Chega no parlamento, sem dar combate consequente às causas de afirmação eleitoral no território e no espaço público, revelou-se o desastre que está à vista. Por conveniência de desgaste do PSD, deram-lhe palco, centralidade e notoriedade, sem atacar as razões de sintonia corporativa e popular com a narrativa política populista.

Quarto erro, a degradação da governação pela emergência de casos e casinhos, de opções mal explicadas e de soluções suscetíveis de se constituírem, na realidade ou na perceção, em situações de injustiça, de desigualdade e de insensibilidade, enquanto se aumentava a carga fiscal e se permitia uma gritante degradação do funcionamento das instituições e dos serviços públicos essenciais.

Quinto erro, a degradação do compromisso dos portugueses com o sistema democrático pela incapacidade para afirmar um exercício político com competência, ética, valores e intransigência perante as distorções, as disfunções e o irregular funcionamento das instituições. Raramente se soube explicar o sentido e critério das opções políticas; se separou o trigo do joio no enleio com os casos mediáticos e judiciais e se respondeu à gangrena da degradação democrática com mais palavras do que ação consequente, com novos protagonistas, novas políticas e uma visão de país que integrasse respostas sustentadas para os problemas e os desafios. Essa falta de sintonia, de equilíbrio e de geração de compromissos para a transformação, a par de uma deriva à esquerda, conduziu aos resultados registados.

Para se superar o atual quadro político e eleitoral, é preciso compreender a inconsistência do que foi feito e os impactos nas pessoas e nos territórios, além dos tacticismos, dos tribalismos, dos umbigos e da barricada nos castelos conquistados. Será pedir de mais?

NOTAS FINAIS

PRESIDENTE DE MÁXIMOS, DE NOVO. Começa a ser doentio o posicionamento institucional do Presidente da República, de viva-voz ou por interposta fonte. E pensar que o mandato renovou na linha de montagem da Autoeuropa.

CLIMÍNIMOS, DE NOVO. Enquanto o Estado e alguns políticos continuarem a fingir que o exercício das liberdades individuais não está sujeito a mínimos de lei e ordem, vamos continuar a ter uma gandulagem que a propósito de causas invadem as esferas de liberdade dos outros. Imagine-se o contágio possível para outras realidades da sociedade...

INFANTIS, DE NOVO. 50 anos de democracia não foram suficientes para acautelar filtro e lucidez que impeçam confusões no boletim de voto entre AD e ADN.

Para quem acredita nos valores democráticos, é politicamente miserável que venhamos a comemorar os 50 anos de Abril, em Portugal, tendo o Chega a força eleitoral que conquistou e lhe concederam. A culpa não é de quem fez essa escolha, nem esses votos são inúteis, porque em democracia, esse tipo de rotulagem maniqueísta não é admissível, por violar princípios básicos de respeito pela esfera de liberdade dos outros, a diferença e a tolerância. O povo tem sempre as suas razões e ao invés de ler os sinais; perceber os mercados eleitorais que estavam a ser gerados pela ação política e responder às necessidades gerais sem distorções do sentido de serviço público ou do compromisso com o bem comum, a liderança de António Costa resolveu, por ação e por omissão, valorizar o protesto que fustigava o posicionamento e a implantação eleitoral do PSD. Por tacticismo e conveniência de circunstância política, por interesses particulares, nesta década de liderança do PS alimentou-se o crescimento do populismo e da extrema-direita, enquanto se esvaziava a esquerda pelo envolvimento numa solução de sobrevivência para o exercício do poder, depois de uma derrota eleitoral. É essa indiferença política a valores fundamentais da democracia e aos sinais existentes no território, a par de uma maior assertividade desse partido ao funcionamento das dinâmicas da sociedade, dos media e do mundo digital, que nos conduziu ao estado atual.

• Insuficiência do centro-direita para ser alternativa com conforto.

• Insuficiência da esquerda para repetir uma solução de governo sem compromisso na União Europeia e na NATO, mas com pontos focais para o exercício do poder.

• Derrota do Partido Socialista.

• Reforço eleitoral pornográfico do Chega.

• Desastre da gestão política e do posicionamento institucional de um Presidente da República que “não sabe estar”, sendo, cada vez mais, parte do problema e não da solução.

A escalada de representação eleitoral do Chega contou com 5 erros crassos da liderança de António Costa que se configuram como parte do legado destes anos de governação. Bem pode exercitar dúvidas metódicas sobre a natureza estrutural ou circunstancial da representação do voto de protesto, transformado em elefante no meio do plenário parlamentar, qual loja de porcelana democrática. As respostas às dúvidas estão na estratégia, tática, opções e ação política da última década.

Primeiro erro, o de uma solução política de governação assente na resposta a nichos eleitorais e no empoderamento a partidos, como o PAN, que minaram a relação de confiança eleitoral do PS com o Mundo Rural, com muitas comunidades do interior que vivem das tradições sintonizadas com a natureza e com uma noção de equilíbrio no exercício da autoridade do Estado perante as incivilidades, as violações da lei e a desestabilização do funcionamento da vida em sociedade. Basta falar com autarcas do Interior, para se compreender o contexto. Acresce que a deriva de circunstância à esquerda afastou o PS de pontos de equilíbrio e de compromisso que sempre fizeram parte do ideário político e de ação de Mário Soares e António Guterres, o que somado a uma falta de visão para o país além do quotidiano se traduziu numa governação aclamada na reposição de direitos, mas incapaz de responder ao que medrava na sociedade e aos desafios estruturais.

Segundo erro, a geração de uma perceção de que existiriam condições para responder afirmativamente a todas as expetativas, às decorrentes do tempo da Troika, às necessidades estruturais e aos nichos eleitorais dos envolvidos, como se os recursos não fossem finitos, a sociedade não tivesse determinados equilíbrios, que só devem ser substituídos por novos com solidez, e não existisse uma ideia de interesse geral a prosseguir.

Terceiro erro, o choque frontal parlamentar com o protagonista do populismo, sem cuidar de desgastar ou eliminar as razões de queixa das pessoas e dos territórios de implantação inicial da extrema-direita. Fustigar o Chega no parlamento, sem dar combate consequente às causas de afirmação eleitoral no território e no espaço público, revelou-se o desastre que está à vista. Por conveniência de desgaste do PSD, deram-lhe palco, centralidade e notoriedade, sem atacar as razões de sintonia corporativa e popular com a narrativa política populista.

Quarto erro, a degradação da governação pela emergência de casos e casinhos, de opções mal explicadas e de soluções suscetíveis de se constituírem, na realidade ou na perceção, em situações de injustiça, de desigualdade e de insensibilidade, enquanto se aumentava a carga fiscal e se permitia uma gritante degradação do funcionamento das instituições e dos serviços públicos essenciais.

Quinto erro, a degradação do compromisso dos portugueses com o sistema democrático pela incapacidade para afirmar um exercício político com competência, ética, valores e intransigência perante as distorções, as disfunções e o irregular funcionamento das instituições. Raramente se soube explicar o sentido e critério das opções políticas; se separou o trigo do joio no enleio com os casos mediáticos e judiciais e se respondeu à gangrena da degradação democrática com mais palavras do que ação consequente, com novos protagonistas, novas políticas e uma visão de país que integrasse respostas sustentadas para os problemas e os desafios. Essa falta de sintonia, de equilíbrio e de geração de compromissos para a transformação, a par de uma deriva à esquerda, conduziu aos resultados registados.

Para se superar o atual quadro político e eleitoral, é preciso compreender a inconsistência do que foi feito e os impactos nas pessoas e nos territórios, além dos tacticismos, dos tribalismos, dos umbigos e da barricada nos castelos conquistados. Será pedir de mais?

NOTAS FINAIS

PRESIDENTE DE MÁXIMOS, DE NOVO. Começa a ser doentio o posicionamento institucional do Presidente da República, de viva-voz ou por interposta fonte. E pensar que o mandato renovou na linha de montagem da Autoeuropa.

CLIMÍNIMOS, DE NOVO. Enquanto o Estado e alguns políticos continuarem a fingir que o exercício das liberdades individuais não está sujeito a mínimos de lei e ordem, vamos continuar a ter uma gandulagem que a propósito de causas invadem as esferas de liberdade dos outros. Imagine-se o contágio possível para outras realidades da sociedade...

INFANTIS, DE NOVO. 50 anos de democracia não foram suficientes para acautelar filtro e lucidez que impeçam confusões no boletim de voto entre AD e ADN.

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Fartaram-se, disseram: basta!

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12.03.2024

Fartaram-se, disseram: basta!

Por tacticismo e conveniência de circunstância política, por interesses particulares, nesta década de liderança do PS alimentou-se o crescimento do populismo e da extrema-direita.

Para quem acredita nos valores democráticos, é politicamente miserável que venhamos a comemorar os 50 anos de Abril, em Portugal, tendo o Chega a força eleitoral que conquistou e lhe concederam. A culpa não é de quem fez essa escolha, nem esses votos são inúteis, porque em democracia, esse tipo de rotulagem maniqueísta não é admissível, por violar princípios básicos de respeito pela esfera de liberdade dos outros, a diferença e a tolerância. O povo tem sempre as suas razões e ao invés de ler os sinais; perceber os mercados eleitorais que estavam a ser gerados pela ação política e responder às necessidades gerais sem distorções do sentido de serviço público ou do compromisso com o bem comum, a liderança de António Costa resolveu, por ação e por omissão, valorizar o protesto que fustigava o posicionamento e a implantação eleitoral do PSD. Por tacticismo e conveniência de circunstância política, por interesses particulares, nesta década de liderança do PS alimentou-se o crescimento do populismo e da extrema-direita, enquanto se esvaziava a esquerda pelo envolvimento numa solução de sobrevivência para o exercício do poder, depois de uma derrota eleitoral. É essa indiferença política a valores fundamentais da democracia e aos sinais existentes no território, a par de uma maior assertividade desse partido ao funcionamento das dinâmicas da sociedade, dos media e do mundo digital, que nos conduziu ao estado atual.

• Insuficiência do centro-direita para ser alternativa com conforto.

• Insuficiência da esquerda para repetir uma solução de governo sem compromisso na União Europeia e na NATO, mas com pontos focais para o exercício do poder.

• Derrota do Partido Socialista.

• Reforço eleitoral pornográfico do Chega.

• Desastre da gestão política e do posicionamento institucional de um Presidente da República que “não sabe estar”, sendo, cada vez mais, parte do problema e não da solução.

A escalada de representação eleitoral do Chega contou com 5 erros crassos da liderança de António Costa que se configuram como parte do legado destes anos de governação. Bem pode exercitar dúvidas metódicas sobre a natureza estrutural ou circunstancial da representação do voto de protesto, transformado em elefante no meio do plenário parlamentar, qual loja de porcelana democrática. As respostas às dúvidas estão na estratégia, tática, opções e ação política da última década.

Primeiro erro, o de uma solução política de governação assente na resposta a nichos eleitorais e no empoderamento a partidos, como o PAN, que minaram a relação de confiança eleitoral do PS com o Mundo Rural, com muitas comunidades do interior que vivem das tradições sintonizadas com a natureza e com uma noção de equilíbrio no exercício da autoridade do Estado perante as incivilidades, as violações da lei e a desestabilização do funcionamento da vida em sociedade. Basta falar com autarcas do Interior, para se compreender o contexto. Acresce que a deriva de circunstância à esquerda afastou o PS de pontos de equilíbrio e de compromisso que sempre fizeram parte do ideário político e de ação de Mário Soares e António Guterres, o que somado a uma falta de visão para o país além do quotidiano se traduziu numa governação aclamada na reposição de direitos, mas incapaz de responder ao que medrava na sociedade e aos desafios estruturais.

Segundo erro, a geração de uma perceção de que existiriam condições para responder afirmativamente a todas as expetativas, às decorrentes do tempo da Troika, às necessidades estruturais e aos nichos eleitorais dos envolvidos, como se os recursos não fossem finitos, a sociedade não tivesse determinados equilíbrios, que só devem ser substituídos por novos com solidez, e não existisse uma ideia de interesse geral a prosseguir.

Terceiro........

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