Um futuro quase feito só de passados

Domingo é dia de votar, num quadro de manutenção ou de mudança, podendo haver diversas opções, algumas soluções de maioria para governar e uma improvável possibilidade de maioria absoluta.

Em rota de aproximação ao fim da primeira campanha eleitoral nacional do ano, é incontornável a centralidade do passado como mote, argumento ou bandeira para ser agitada, a toque de medo ou de esperança. O drama da condução política e da política através do espelho retrovisor é a falta de ambição para construir soluções para o futuro que não estejam maculadas pelo passado. É claro que o passado, a memória e a história são sempre importantes para as aprendizagens, a configuração das respostas no presente e a construção das soluções de futuro, mas não têm de ser o elemento central, porque a realidade e os desafios são diferentes. Falta visão, rasgo e ambição para quebrar com algumas das ameias do passado, mais ou menos longínquo. Falta coragem para assumir o que deve ser assumido de rutura com o que foi, para se fazer mais e melhor, além do quadro das trincheiras em que se transformou a política e a sociedade portuguesa, sem espaço para o compromisso e para a respostas sustentada aos problemas estruturais.

Haverá sempre os que olham para trás com saudosismo de outros tempos como se os dislates que produzem e reproduzem alguma vez fossem tolerados por esses destinos de saudade.

Há os que à falta de presente buscam no passado o aditivo que falta para o posicionamento atual e para a mobilização do eleitorado, sempre com narrativas ajustadas às pretensões, nem sempre sintonizadas com a realidade e as perceções.

Há os que procuram reconstruir os laços que foram quebrados pelas ideias ou ações do passado, sendo seletivos em relação a esse tempo ou assumindo ruturas parciais com as práticas adotadas.

Esta trilogia do tempo (passado, presente e futuro), que diz pouco aos mais jovens, colocados entre o momento e o futuro que projetam em função das referências nacionais e internacionais, é maionese da narrativa política ensaiada em campanha, com as inevitáveis polarizações e esforços de posicionamento das forças políticas.

Domingo é dia de votar, num quadro de manutenção ou de mudança, podendo haver diversas opções, algumas soluções de maioria para governar e uma improvável possibilidade de emergência de uma maioria absoluta. No meio de tanto ruído, é cada vez mais difícil construir perceções e compromissos com os eleitores, sendo evidente a importância do tempo entre eleições, durante os mandatos, na construção de uma relação de confiança e de interação entre eleitos e eleitores. Depois, na emergência da agitação de campanha, será só ativar as ideias, as propostas e as iniciativas para o futuro.

Mas, não. Apesar dos protagonistas centrais serem novos, houve demasiado enleio com o passado e falta de coragem para afirmar uma visão de futuro solta das amarras com o passado e a negação pode ser complicada.

O PS, depois das oscilações de estratégia política inicial, entre o fazer diferente e o prosseguir o rumo defendendo ao limite o legado, seja isso o que for, acaba colado ao exercício dos últimos anos, com uma renovada predisposição para a reposição da solução de governo de 2015.

A Aliança Democrática, resgatada do baú por insuficiência de afirmação política prévia, com o apêndice do PPM, tentou uma fuga em frente na esperança, mas tropeçou nas saídas do armário de figuras do passado, eventualmente mobilizadores dos nichos eleitorais dispersos.

O Chega confirmou a deriva populista, saudosista, amplificada por uma desesperada configuração de sentido de Estado enquanto prometia tudo a todos, num exercício de bailado e namoro com o mercado eleitoral gerado nos últimos anos, por ação e por omissão das forças democráticas.

A IL, com líder recauchutado, desespera por manter a atração jovem suficiente para ganhar relevância na solução de eventual governo à direita.

O BE, o PAN e o Livre jogaram a manutenção de relevância política para serem parte de uma solução anunciada, entre o maniqueísmo, o preconceito, o fundamentalismo e o lirismo de algumas propostas sem nexo com a realidade.

Num espaço mediático marcado pelo exagero do tempo do comentário em detrimento da proposta e dos protagonistas políticos, a campanha eleitoral confirmou a polarização, a radicalização das narrativas e a fragilização da margem de manobra para o compromisso, cada vez mais fustigado pela tribalização e pelas trincheiras incentivadas a mote de mobilização.

Um futuro quase só feito de passados é pouco para o que temos pela frente, no limiar dos 50 anos da Revolução de Abril e com o deslaço que se sente na sociedade portuguesa.

Domingo, vote para não ter sobressaltos com as escolhas dos outros.

NOTAS FINAIS

DESCONFIADOS.PT. De acordo com o European Social Survey, apesar de manterem a confiança no sistema democrático, 62% dos cidadãos em Portugal tendem a não confiar na Assembleia da República, mais de metade (53%) dos inquiridos tendem a não confiar no sistema de justiça e 54%) tendem a confiar na União Europeia (face a 47% da média europeia). É preciso reduzir as causas que geram a desconfiança.

PANO ENCHARCADO NAS VENTAS. O fundamentalismo e a intolerância são do piorio dos nossos tempos. Aos miseráveis que insistem e persistem no arremesso de tintas e bloqueios em nome do clima, a realidade é esta, em Portugal. Segundo a REN, a produção de energia renovável abasteceu 88% do consumo de energia elétrica no país em fevereiro.

PORTUGAL EM ROTA. Trinta anos depois, Portugal lança o seu segundo satélite para o espaço, o “Aeros”, que vai observar os oceanos desde a “vizinhança” da Estação Espacial Internacional, com as comunicações e a recolha de dados e imagens serão feitas a partir do teleporto de Santa Maria, nos Açores, mantido pela Thales Edisoft Portugal, convergindo para o projeto o CEiiA, em Matosinhos, e as Universidades do Algarve, Porto e Minho, o Instituto Superior Técnico e o Imar – Instituto do Mar, entre outros, através do programa de cooperação MIT-Portugal.

Em rota de aproximação ao fim da primeira campanha eleitoral nacional do ano, é incontornável a centralidade do passado como mote, argumento ou bandeira para ser agitada, a toque de medo ou de esperança. O drama da condução política e da política através do espelho retrovisor é a falta de ambição para construir soluções para o futuro que não estejam maculadas pelo passado. É claro que o passado, a memória e a história são sempre importantes para as aprendizagens, a configuração das respostas no presente e a construção das soluções de futuro, mas não têm de ser o elemento central, porque a realidade e os desafios são diferentes. Falta visão, rasgo e ambição para quebrar com algumas das ameias do passado, mais ou menos longínquo. Falta coragem para assumir o que deve ser assumido de rutura com o que foi, para se fazer mais e melhor, além do quadro das trincheiras em que se transformou a política e a sociedade portuguesa, sem espaço para o compromisso e para a respostas sustentada aos problemas estruturais.

Haverá sempre os que olham para trás com saudosismo de outros tempos como se os dislates que produzem e reproduzem alguma vez fossem tolerados por esses destinos de saudade.

Há os que à falta de presente buscam no passado o aditivo que falta para o posicionamento atual e para a mobilização do eleitorado, sempre com narrativas ajustadas às pretensões, nem sempre sintonizadas com a realidade e as perceções.

Há os que procuram reconstruir os laços que foram quebrados pelas ideias ou ações do passado, sendo seletivos em relação a esse tempo ou assumindo ruturas parciais com as práticas adotadas.

Esta trilogia do tempo (passado, presente e futuro), que diz pouco aos mais jovens, colocados entre o momento e o futuro que projetam em função das referências nacionais e internacionais, é maionese da narrativa política ensaiada em campanha, com as inevitáveis polarizações e esforços de posicionamento das forças políticas.

Domingo é dia de votar, num quadro de manutenção ou de mudança, podendo haver diversas opções, algumas soluções de maioria para governar e uma improvável possibilidade de emergência de uma maioria absoluta. No meio de tanto ruído, é cada vez mais difícil construir perceções e compromissos com os eleitores, sendo evidente a importância do tempo entre eleições, durante os mandatos, na construção de uma relação de confiança e de interação entre eleitos e eleitores. Depois, na emergência da agitação de campanha, será só ativar as ideias, as propostas e as iniciativas para o futuro.

Mas, não. Apesar dos protagonistas centrais serem novos, houve demasiado enleio com o passado e falta de coragem para afirmar uma visão de futuro solta das amarras com o passado e a negação pode ser complicada.

O PS, depois das oscilações de estratégia política inicial, entre o fazer diferente e o prosseguir o rumo defendendo ao limite o legado, seja isso o que for, acaba colado ao exercício dos últimos anos, com uma renovada predisposição para a reposição da solução de governo de 2015.

A Aliança Democrática, resgatada do baú por insuficiência de afirmação política prévia, com o apêndice do PPM, tentou uma fuga em frente na esperança, mas tropeçou nas saídas do armário de figuras do passado, eventualmente mobilizadores dos nichos eleitorais dispersos.

O Chega confirmou a deriva populista, saudosista, amplificada por uma desesperada configuração de sentido de Estado enquanto prometia tudo a todos, num exercício de bailado e namoro com o mercado eleitoral gerado nos últimos anos, por ação e por omissão das forças democráticas.

A IL, com líder recauchutado, desespera por manter a atração jovem suficiente para ganhar relevância na solução de eventual governo à direita.

O BE, o PAN e o Livre jogaram a manutenção de relevância política para serem parte de uma solução anunciada, entre o maniqueísmo, o preconceito, o fundamentalismo e o lirismo de algumas propostas sem nexo com a realidade.

Num espaço mediático marcado pelo exagero do tempo do comentário em detrimento da proposta e dos protagonistas políticos, a campanha eleitoral confirmou a polarização, a radicalização das narrativas e a fragilização da margem de manobra para o compromisso, cada vez mais fustigado pela tribalização e pelas trincheiras incentivadas a mote de mobilização.

Um futuro quase só feito de passados é pouco para o que temos pela frente, no limiar dos 50 anos da Revolução de Abril e com o deslaço que se sente na sociedade portuguesa.

Domingo, vote para não ter sobressaltos com as escolhas dos outros.

NOTAS FINAIS

DESCONFIADOS.PT. De acordo com o European Social Survey, apesar de manterem a confiança no sistema democrático, 62% dos cidadãos em Portugal tendem a não confiar na Assembleia da República, mais de metade (53%) dos inquiridos tendem a não confiar no sistema de justiça e 54%) tendem a confiar na União Europeia (face a 47% da média europeia). É preciso reduzir as causas que geram a desconfiança.

PANO ENCHARCADO NAS VENTAS. O fundamentalismo e a intolerância são do piorio dos nossos tempos. Aos miseráveis que insistem e persistem no arremesso de tintas e bloqueios em nome do clima, a realidade é esta, em Portugal. Segundo a REN, a produção de energia renovável abasteceu 88% do consumo de energia elétrica no país em fevereiro.

PORTUGAL EM ROTA. Trinta anos depois, Portugal lança o seu segundo satélite para o espaço, o “Aeros”, que vai observar os oceanos desde a “vizinhança” da Estação Espacial Internacional, com as comunicações e a recolha de dados e imagens serão feitas a partir do teleporto de Santa Maria, nos Açores, mantido pela Thales Edisoft Portugal, convergindo para o projeto o CEiiA, em Matosinhos, e as Universidades do Algarve, Porto e Minho, o Instituto Superior Técnico e o Imar – Instituto do Mar, entre outros, através do programa de cooperação MIT-Portugal.

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Um futuro quase feito só de passados

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05.03.2024

Um futuro quase feito só de passados

Domingo é dia de votar, num quadro de manutenção ou de mudança, podendo haver diversas opções, algumas soluções de maioria para governar e uma improvável possibilidade de maioria absoluta.

Em rota de aproximação ao fim da primeira campanha eleitoral nacional do ano, é incontornável a centralidade do passado como mote, argumento ou bandeira para ser agitada, a toque de medo ou de esperança. O drama da condução política e da política através do espelho retrovisor é a falta de ambição para construir soluções para o futuro que não estejam maculadas pelo passado. É claro que o passado, a memória e a história são sempre importantes para as aprendizagens, a configuração das respostas no presente e a construção das soluções de futuro, mas não têm de ser o elemento central, porque a realidade e os desafios são diferentes. Falta visão, rasgo e ambição para quebrar com algumas das ameias do passado, mais ou menos longínquo. Falta coragem para assumir o que deve ser assumido de rutura com o que foi, para se fazer mais e melhor, além do quadro das trincheiras em que se transformou a política e a sociedade portuguesa, sem espaço para o compromisso e para a respostas sustentada aos problemas estruturais.

Haverá sempre os que olham para trás com saudosismo de outros tempos como se os dislates que produzem e reproduzem alguma vez fossem tolerados por esses destinos de saudade.

Há os que à falta de presente buscam no passado o aditivo que falta para o posicionamento atual e para a mobilização do eleitorado, sempre com narrativas ajustadas às pretensões, nem sempre sintonizadas com a realidade e as perceções.

Há os que procuram reconstruir os laços que foram quebrados pelas ideias ou ações do passado, sendo seletivos em relação a esse tempo ou assumindo ruturas parciais com as práticas adotadas.

Esta trilogia do tempo (passado, presente e futuro), que diz pouco aos mais jovens, colocados entre o momento e o futuro que projetam em função das referências nacionais e internacionais, é maionese da narrativa política ensaiada em campanha, com as inevitáveis polarizações e esforços de posicionamento das forças políticas.

Domingo é dia de votar, num quadro de manutenção ou de mudança, podendo haver diversas opções, algumas soluções de maioria para governar e uma improvável possibilidade de emergência de uma maioria absoluta. No meio de tanto ruído, é cada vez mais difícil construir perceções e compromissos com os eleitores, sendo evidente a importância do tempo entre eleições, durante os mandatos, na construção de uma relação de confiança e de interação entre eleitos e eleitores. Depois, na emergência da agitação de campanha, será só ativar as ideias, as propostas e as iniciativas para o futuro.

Mas, não. Apesar dos protagonistas centrais serem novos, houve demasiado enleio com o passado e falta de coragem para afirmar uma visão de futuro solta das amarras com o passado e a negação pode ser complicada.

O PS, depois das oscilações de estratégia política inicial, entre o fazer diferente e o prosseguir o rumo defendendo ao limite o legado, seja isso o que for, acaba colado ao exercício dos últimos anos, com uma renovada predisposição para a reposição da solução de governo de 2015.

A Aliança Democrática, resgatada do baú por insuficiência de afirmação política prévia, com o apêndice do PPM, tentou uma fuga em frente na esperança, mas tropeçou nas saídas do armário de figuras do passado, eventualmente mobilizadores dos nichos eleitorais dispersos.

O Chega confirmou a deriva populista, saudosista, amplificada por uma desesperada configuração de sentido de Estado enquanto prometia tudo a todos, num exercício de bailado e namoro com o........

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