A Dança das cadeiras na Assembleia da República: Um Espetáculo de Desilusão

Numa jornada marcada por tensões e reviravoltas, o cenário político português foi palco de uma sequência dramática de eventos, culminando só esta quarta-feira, 30 horas depois do previsto, na eleição de José Pedro Aguiar-Branco como Presidente da mesa da Assembleia da República e, igualmente, a eleição dos vice-presidentes.

Após quatro rondas de votação, estas 30 horas foram marcadas por discussões acaloradas, acusações de falsidade e acordos desfeitos, deixando a nu as fissuras e rivalidades (quase futebolísticas) que existem no espectro político do país e vão durar nesta legislatura.

Este episódio não foi apenas mais um capítulo na política portuguesa, mas um espelho que reflete uma realidade preocupante. Os discursos proferidos pelos representantes dos partidos, após tomada de posse do novo Presidente da Assembleia da República, foram maioritariamente imbuídos de atrito e conflito, mais do que palavras, foram manifestações de uma crescente polarização e desencanto com o processo democrático.

A ausência de elevação e respeito mútuo no debate político não é apenas lamentável; é um sintoma de uma crise mais profunda que ameaça o cerne da nossa convivência democrática.

No ano em que comemoramos 50 anos da Revolução de 25 de Abril, um marco fundamental na nossa história democrática, estes acontecimentos ganham uma dimensão ainda mais simbólica. Neste momento tão significativo, esperar-se-ia uma celebração da maturidade democrática, uma reflexão sobre os valores de liberdade e igualdade que nos guiaram até aqui. Em vez disso, somos confrontados com um cenário de divisão e desrespeito, que desvirtua os ideais pelos quais tantos lutaram.

A cada acusação de falsidade, a cada acordo desfeito, o tecido da confiança, essencial ao funcionamento da democracia, vai-se desgastando. Este espetáculo de antagonismo não é apenas desanimador para aqueles que ainda acreditam no valor do diálogo e do consenso; é também um repelente eficaz para a participação cívica.

Como podemos esperar que os cidadãos se sintam motivados a participar no processo político, quando os seus representantes parecem mais interessados em disputas partidárias do que no bem comum?

Este último evento na Assembleia da República serve como um lembrete, doloroso, de que a política, na sua forma atual, está a distanciar-se cada vez mais dos ideais democráticos de inclusão, diálogo e respeito pelas diferenças. Se continuar a ser marcada por disputas desmedidas e discursos de baixo calão, corre o risco de se tornar uma arena onde apenas os mais combativos — e não necessariamente os mais sábios ou justos — prevalecem.

A descredibilização da democracia, um fenómeno que este episódio exemplifica tão vividamente, é uma ameaça que não podemos ignorar. Ela não apenas afasta as pessoas da política, mas também destrói as bases da nossa coesão social e da nossa capacidade coletiva de enfrentar desafios comuns.

Além disso, este clima de antagonismo precede um momento de particular importância: esta quinta-feira, o primeiro-ministro indigitado, Luís Montenegro, apresentará ao Presidente da República a constituição e formação do próximo Governo. Este ato, fundamental no processo democrático, ocorre num contexto de fricção e desunião que não augura um caminho fácil para a governação que se avizinha.

É imperativo que reconheçamos este momento como um ponto de inflexão. Devemos exigir e trabalhar por uma política que privilegie a construção de pontes em vez da ampliação de fossos; uma política que eleve o debate, respeite as diferenças e procure o consenso em prol do bem comum. Só assim poderemos aspirar a revigorar a fé no processo democrático e reaproximar os cidadãos na hercúlea tarefa de construir um futuro melhor para todos.

Neste momento de reflexão, cabe a cada um de nós, cidadãos, políticos e líderes de opinião, perguntar-se: que tipo de democracia queremos?

Uma que se alimenta de conflitos e exclusões ou uma que floresce com o diálogo e a inclusão?

A resposta a esta pergunta determinará o futuro da nossa sociedade portuguesa. Esperemos que seja uma escolha sábia.

É fundamental o respeito pelas instituições democráticas, que constituem o alicerce sobre o qual a nossa sociedade está construída. De igual modo, devemos todos rejeitar as expressões ditas "de café" e outras formas de comunicação que diminuem o nível do debate político. Todos nós. A política precisa de elevação, de educação e de um respeito profundo pelas diferentes opiniões e pelos cidadãos que representa.

A política deve ser um espaço de debate construtivo, onde diferentes visões para o futuro podem ser discutidas com respeito e consideração pelo bem-estar coletivo. Os desafios que enfrentamos são demasiado significativos para serem ofuscados por disputas mesquinhas e comportamentos que só servem para afastar as pessoas da participação ativa na nossa democracia.

O legado do 25 de Abril é um testemunho do valor da liberdade e da importância da unidade na diversidade. À medida que Portugal se prepara para entrar num novo capítulo com a formação do próximo Governo, é crucial relembrar esses princípios. A responsabilidade recai sobre todos os atores políticos e, de facto, sobre todos os cidadãos, para cultivar um ambiente que favoreça o diálogo, o respeito mútuo e a cooperação.

Ao fazermos isso, não só honramos o espírito da Revolução dos Cravos, como também reafirmamos o nosso compromisso com uma democracia viva, inclusiva e resiliente. Que este momento de introspeção sirva como um ponto de partida para uma renovação do nosso compromisso coletivo com esses ideais, garantindo que a democracia em Portugal continua a ser uma luz de esperança para as gerações futuras.

Após quatro rondas de votação, estas 30 horas foram marcadas por discussões acaloradas, acusações de falsidade e acordos desfeitos, deixando a nu as fissuras e rivalidades (quase futebolísticas) que existem no espectro político do país e vão durar nesta legislatura.

Este episódio não foi apenas mais um capítulo na política portuguesa, mas um espelho que reflete uma realidade preocupante. Os discursos proferidos pelos representantes dos partidos, após tomada de posse do novo Presidente da Assembleia da República, foram maioritariamente imbuídos de atrito e conflito, mais do que palavras, foram manifestações de uma crescente polarização e desencanto com o processo democrático.

A ausência de elevação e respeito mútuo no debate político não é apenas lamentável; é um sintoma de uma crise mais profunda que ameaça o cerne da nossa convivência democrática.

No ano em que comemoramos 50 anos da Revolução de 25 de Abril, um marco fundamental na nossa história democrática, estes acontecimentos ganham uma dimensão ainda mais simbólica. Neste momento tão significativo, esperar-se-ia uma celebração da maturidade democrática, uma reflexão sobre os valores de liberdade e igualdade que nos guiaram até aqui. Em vez disso, somos confrontados com um cenário de divisão e desrespeito, que desvirtua os ideais pelos quais tantos lutaram.

A cada acusação de falsidade, a cada acordo desfeito, o tecido da confiança, essencial ao funcionamento da democracia, vai-se desgastando. Este espetáculo de antagonismo não é apenas desanimador para aqueles que ainda acreditam no valor do diálogo e do consenso; é também um repelente eficaz para a participação cívica.

Como podemos esperar que os cidadãos se sintam motivados a participar no processo político, quando os seus representantes parecem mais interessados em disputas partidárias do que no bem comum?

Este último evento na Assembleia da República serve como um lembrete, doloroso, de que a política, na sua forma atual, está a distanciar-se cada vez mais dos ideais democráticos de inclusão, diálogo e respeito pelas diferenças. Se continuar a ser marcada por disputas desmedidas e discursos de baixo calão, corre o risco de se tornar uma arena onde apenas os mais combativos — e não necessariamente os mais sábios ou justos — prevalecem.

A descredibilização da democracia, um fenómeno que este episódio exemplifica tão vividamente, é uma ameaça que não podemos ignorar. Ela não apenas afasta as pessoas da política, mas também destrói as bases da nossa coesão social e da nossa capacidade coletiva de enfrentar desafios comuns.

Além disso, este clima de antagonismo precede um momento de particular importância: esta quinta-feira, o primeiro-ministro indigitado, Luís Montenegro, apresentará ao Presidente da República a constituição e formação do próximo Governo. Este ato, fundamental no processo democrático, ocorre num contexto de fricção e desunião que não augura um caminho fácil para a governação que se avizinha.

É imperativo que reconheçamos este momento como um ponto de inflexão. Devemos exigir e trabalhar por uma política que privilegie a construção de pontes em vez da ampliação de fossos; uma política que eleve o debate, respeite as diferenças e procure o consenso em prol do bem comum. Só assim poderemos aspirar a revigorar a fé no processo democrático e reaproximar os cidadãos na hercúlea tarefa de construir um futuro melhor para todos.

Neste momento de reflexão, cabe a cada um de nós, cidadãos, políticos e líderes de opinião, perguntar-se: que tipo de democracia queremos?

Uma que se alimenta de conflitos e exclusões ou uma que floresce com o diálogo e a inclusão?

A resposta a esta pergunta determinará o futuro da nossa sociedade portuguesa. Esperemos que seja uma escolha sábia.

É fundamental o respeito pelas instituições democráticas, que constituem o alicerce sobre o qual a nossa sociedade está construída. De igual modo, devemos todos rejeitar as expressões ditas "de café" e outras formas de comunicação que diminuem o nível do debate político. Todos nós. A política precisa de elevação, de educação e de um respeito profundo pelas diferentes opiniões e pelos cidadãos que representa.

A política deve ser um espaço de debate construtivo, onde diferentes visões para o futuro podem ser discutidas com respeito e consideração pelo bem-estar coletivo. Os desafios que enfrentamos são demasiado significativos para serem ofuscados por disputas mesquinhas e comportamentos que só servem para afastar as pessoas da participação ativa na nossa democracia.

O legado do 25 de Abril é um testemunho do valor da liberdade e da importância da unidade na diversidade. À medida que Portugal se prepara para entrar num novo capítulo com a formação do próximo Governo, é crucial relembrar esses princípios. A responsabilidade recai sobre todos os atores políticos e, de facto, sobre todos os cidadãos, para cultivar um ambiente que favoreça o diálogo, o respeito mútuo e a cooperação.

Ao fazermos isso, não só honramos o espírito da Revolução dos Cravos, como também reafirmamos o nosso compromisso com uma democracia viva, inclusiva e resiliente. Que este momento de introspeção sirva como um ponto de partida para uma renovação do nosso compromisso coletivo com esses ideais, garantindo que a democracia em Portugal continua a ser uma luz de esperança para as gerações futuras.

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A Dança das cadeiras na Assembleia da República: Um Espetáculo de Desilusão

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28.03.2024

A Dança das cadeiras na Assembleia da República: Um Espetáculo de Desilusão

Numa jornada marcada por tensões e reviravoltas, o cenário político português foi palco de uma sequência dramática de eventos, culminando só esta quarta-feira, 30 horas depois do previsto, na eleição de José Pedro Aguiar-Branco como Presidente da mesa da Assembleia da República e, igualmente, a eleição dos vice-presidentes.

Após quatro rondas de votação, estas 30 horas foram marcadas por discussões acaloradas, acusações de falsidade e acordos desfeitos, deixando a nu as fissuras e rivalidades (quase futebolísticas) que existem no espectro político do país e vão durar nesta legislatura.

Este episódio não foi apenas mais um capítulo na política portuguesa, mas um espelho que reflete uma realidade preocupante. Os discursos proferidos pelos representantes dos partidos, após tomada de posse do novo Presidente da Assembleia da República, foram maioritariamente imbuídos de atrito e conflito, mais do que palavras, foram manifestações de uma crescente polarização e desencanto com o processo democrático.

A ausência de elevação e respeito mútuo no debate político não é apenas lamentável; é um sintoma de uma crise mais profunda que ameaça o cerne da nossa convivência democrática.

No ano em que comemoramos 50 anos da Revolução de 25 de Abril, um marco fundamental na nossa história democrática, estes acontecimentos ganham uma dimensão ainda mais simbólica. Neste momento tão significativo, esperar-se-ia uma celebração da maturidade democrática, uma reflexão sobre os valores de liberdade e igualdade que nos guiaram até aqui. Em vez disso, somos confrontados com um cenário de divisão e desrespeito, que desvirtua os ideais pelos quais tantos lutaram.

A cada acusação de falsidade, a cada acordo desfeito, o tecido da confiança, essencial ao funcionamento da democracia, vai-se desgastando. Este espetáculo de antagonismo não é apenas desanimador para aqueles que ainda acreditam no valor do diálogo e do consenso; é também um repelente eficaz para a participação cívica.

Como podemos esperar que os cidadãos se sintam motivados a participar no processo político, quando os seus representantes parecem mais interessados em disputas partidárias do que no bem comum?

Este último evento na Assembleia da República serve como um lembrete, doloroso, de que a política, na sua forma atual, está a distanciar-se cada vez mais dos ideais democráticos de inclusão, diálogo e respeito pelas diferenças. Se continuar a ser marcada por disputas desmedidas e discursos de baixo calão, corre o risco de se tornar uma arena onde apenas os mais combativos — e não necessariamente os mais sábios ou justos — prevalecem.

A descredibilização da democracia, um fenómeno que este episódio exemplifica tão vividamente, é uma ameaça que não podemos ignorar. Ela não apenas afasta as pessoas da política, mas também destrói as bases da nossa coesão social e da nossa capacidade coletiva de enfrentar desafios comuns.

Além disso, este clima de antagonismo precede um momento de particular importância: esta quinta-feira, o........

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