Mobilizar abstencionistas

Legislativas: o mais decisivo talvez seja tirar de casa os potenciais abstencionistas que não são sempre os mesmos e que são mais do que os indecisos.

Nota prévia: Está por fazer o levantamento do número de “boys and girls” nomeados (ou reconduzidos) pelo governo PS para os próximos três anos, desde que António Costa anunciou a sua demissão. Numa análise sumária, já se contam mais de mil, sendo a Segurança Social a entidade mais “acolhedora”. Fosse ela assim para os desvalidos.

1. Com as devidas cautelas, pode-se admitir que as mais recentes sondagens apontam para uma potencial vitória da AD nas legislativas, a qual pode andar perto de uma maioria absoluta com o complemento dos liberais. Isto sobretudo se a adesão for concentrada nos maiores aglomerados populacionais para não desperdiçar votos. Contando com o Chega, então é claro que vai haver uma maioria de direita. Só que será inútil, uma vez que Montenegro assegura que “não é não” e que com ele não haverá Ventura. De forma que quem quiser contar com o Chega terá de lhe tirar o lugar, ao qual ele tenciona recandidatar-se mesmo que perca. Tal significa que para gerar uma alternativa ao PS sozinho ou a uma nova “geringonça”, o voto mais eficaz será na AD ou na IL. A isso chamam os dirigentes da AD votar útil. À esquerda o fenómeno não atinge as mesmas proporções. Há um acordo óbvio para recriar uma geringonça ou coisa parecida. Luís Montenegro tem baseado a sua campanha no pressuposto do voto útil e é possível que já se sinta isso nas sondagens publicadas na sexta feira na RTP e, menos, na da TVI. Em ambos os casos, o Chega recebe respetivamente 13% e 16% dos votos, sem a distribuição de indecisos. A maioria absoluta sem o Chega está à vista. É provável que Ventura esteja a sofrer um ajustamento regressivo nas intenções de voto, seja por efeito do voto útil, seja por se estar a identificar demais com os outros partidos no campo das promessas, tipo tudo para todos. A normalização do discurso político tem sempre custos para os radicais. Já nas presidenciais, Ventura perdeu terreno na ponta final. Seja como for, a probabilidade de o Chega ser decisivo à direita é ainda fortíssima. Daí a batalha que se trava à volta dos 20% que se afirmam indecisos. Estranhamente, a direita moderada tem tendência para ignorar os potenciais abstencionistas, que em Portugal rondam os 35%, embora os números possam atingir os 40%, dada a existência da chamada abstenção técnica (o fenómeno tem sobretudo a ver com a emigração de cidadãos que não se registam no exterior). O que interessa para o caso são, no entanto, os abstencionistas deliberados. Desde logo, porque nada indica que sejam sempre os mesmos. Pelo contrário, há gente moderada que prefere ficar em casa do que mudar o sentido de voto. Um eleitor regular do PS desgostoso com Costa e o partido não salta necessariamente para o PSD ou para o Bloco. Convencer abstencionistas não é menos relevante do que andar a catar indecisos. Talvez uma parte da vitória ou da derrota do dia 10 de março esteja mais na mobilização de parte do núcleo de potenciais abstencionistas do que noutro segmento.

2. Com o debate das rádios havido ontem, terminaram os confrontos diretos entre os líderes dos partidos parlamentares. A ida às rádios foi a mais esclarecedora. Permitiu uma abordagem relativamente detalhada de temas fundamentais que vinham ficando de fora como a Segurança Social, a Justiça, a Defesa, as leis eleitorais e até a utilização de telemóveis nas escolas. A circunstância do tempo ser bastante mais alargado ajudou. Mesmo assim soube a pouco. André Ventura faltou, o que permitiu uma conversa mais fluida e menos agressiva. Dias antes, houve outro plenário partidário na RTP que expôs a existência de um bloco unido à esquerda e de uma direita fracionada pelo Chega. Os moços da Climáximo picaram o ponto, sem perturbar o moderador, Carlos Daniel, que foi de todos quem esteve melhor.

3. Um assunto que os dirigentes partidários nunca abordaram é a cruel falta de apoios concretos aos muitos milhares de deficientes. Há múltiplas situações específicas e dramáticas de deficiência a afetarem seres humanos frágeis e as suas famílias. Para eles, nunca há uma palavra específica e sobretudo medidas concretas e práticas. Como é habitual no nosso país, a moldura legal para o problema é espetacular. O horror está na realidade.

4. Miguel Albuquerque, apesar de arguido no processo da Madeira, mantém em aberto uma recandidatura a presidente do governo regional. É incómodo para toda a gente, do PSD à própria reputação da região. Montenegro disse suavemente que se fosse com ele não faria o mesmo, o que irritou o líder madeirense. Albuquerque não tem qualquer espaço ético para voltar a apresentar-se, visto que foi ele que se demitiu. Se tivesse aguentado era diferente.

5. Está, entretanto, ultrapassada a fase em que um conhecido juiz de instrução seguia diligentemente o guião do Ministério Público. Atualmente, sucedem-se casos de desconformidade na análise e na aplicação de medidas, com as teses do MP a não serem validadas, muito menos de cruz. Um dos exemplos recentes veio do juiz Nuno Dias Costa que arrasou a acusação contra ex-dirigentes da Misericórdia de Lisboa, nomeadamente Helena Lopes da Costa. O juiz é o mesmo que não validou plenamente a pretensão do MP no caso Influencer, no quadro do qual o primeiro-ministro está a ser investigado, o que levou à sua demissão e à convocação de legislativas. Há quem fale em guerra entre magistraturas e há quem entenda que estamos numa fase em que as garantias dos arguidos se sobrepõem às teorias do MP, se não vierem sustentadas em provas substanciais. É uma possibilidade lamentável a ter em conta. Desde logo porque pode significar que muita gente já foi indevidamente perseguida anteriormente. Melhor será pensar que os juízes de instrução estão mais sensibilizados para preservar as liberdades e menos recetivos a aceitar megaprocessos que levam quase vinte anos a resolver, arrasando a vida de inocentes e favorecendo culpados.

6. Todos devem ser tratados com equidade dentro da sua especificidade. Vem isto a propósito das sucessivas reivindicações de classes que garantem a segurança dos cidadãos. Por inabilidade do Governo, os primeiros beneficiados com um significativo subsídio de risco foram os elementos da Polícia Judiciária. Poderá ter sido uma paga para aceitarem a extinção do SEF, admitem algumas fontes. De imediato surgiram reivindicações de polícias, soldados da GNR, guardas prisionais, bombeiros sapadores, ASAE (?) e agora militares. Era expectável. O problema vai transitar para o governo seguinte, sendo sério e urgente. Haverá que decidir com rapidez e critério. Há situações e funções distintas para cada elemento e cada instituição, em função da exposição ao risco e do respetivo cenário. O facto é que não se pode deixar de tratar da situação de cada um, atendendo também aos limites orçamentais. É uma herança que não dá para enjeitar. As forças de segurança e de defesa são essenciais à democracia e à soberania. Não existir um esforço de aproximação de posições entre as partes é fazer com que haja cada vez menos candidatos a essas profissões de risco, fragilizando o regime democrático.

7. Vale a pena ler o livro do jornalista João Céu e Silva que relata as peripécias à volta da publicação do Portugal e o Futuro, da autoria do Marechal Spínola. A obra foi uma alavanca decisiva para o Movimento dos Capitães que gerou o 25 de Abril. Além de outras coisas, Céu e Silva faz justiça e resgata a figura de Valdemar Paradela de Abreu, que desafiou o chefe militar a falar, ciente de que o livro não seria apenas um imenso sucesso comercial, mas um elemento decisivo para uma mudança da situação política. A História conta-nos que raramente há livros essenciais sem destemidos editores. E assim foi! A história do livro está aí. Falta o filme ou mesmo uma série para a Netflix.

Nota prévia: Está por fazer o levantamento do número de “boys and girls” nomeados (ou reconduzidos) pelo governo PS para os próximos três anos, desde que António Costa anunciou a sua demissão. Numa análise sumária, já se contam mais de mil, sendo a Segurança Social a entidade mais “acolhedora”. Fosse ela assim para os desvalidos.

1. Com as devidas cautelas, pode-se admitir que as mais recentes sondagens apontam para uma potencial vitória da AD nas legislativas, a qual pode andar perto de uma maioria absoluta com o complemento dos liberais. Isto sobretudo se a adesão for concentrada nos maiores aglomerados populacionais para não desperdiçar votos. Contando com o Chega, então é claro que vai haver uma maioria de direita. Só que será inútil, uma vez que Montenegro assegura que “não é não” e que com ele não haverá Ventura. De forma que quem quiser contar com o Chega terá de lhe tirar o lugar, ao qual ele tenciona recandidatar-se mesmo que perca. Tal significa que para gerar uma alternativa ao PS sozinho ou a uma nova “geringonça”, o voto mais eficaz será na AD ou na IL. A isso chamam os dirigentes da AD votar útil. À esquerda o fenómeno não atinge as mesmas proporções. Há um acordo óbvio para recriar uma geringonça ou coisa parecida. Luís Montenegro tem baseado a sua campanha no pressuposto do voto útil e é possível que já se sinta isso nas sondagens publicadas na sexta feira na RTP e, menos, na da TVI. Em ambos os casos, o Chega recebe respetivamente 13% e 16% dos votos, sem a distribuição de indecisos. A maioria absoluta sem o Chega está à vista. É provável que Ventura esteja a sofrer um ajustamento regressivo nas intenções de voto, seja por efeito do voto útil, seja por se estar a identificar demais com os outros partidos no campo das promessas, tipo tudo para todos. A normalização do discurso político tem sempre custos para os radicais. Já nas presidenciais, Ventura perdeu terreno na ponta final. Seja como for, a probabilidade de o Chega ser decisivo à direita é ainda fortíssima. Daí a batalha que se trava à volta dos 20% que se afirmam indecisos. Estranhamente, a direita moderada tem tendência para ignorar os potenciais abstencionistas, que em Portugal rondam os 35%, embora os números possam atingir os 40%, dada a existência da chamada abstenção técnica (o fenómeno tem sobretudo a ver com a emigração de cidadãos que não se registam no exterior). O que interessa para o caso são, no entanto, os abstencionistas deliberados. Desde logo, porque nada indica que sejam sempre os mesmos. Pelo contrário, há gente moderada que prefere ficar em casa do que mudar o sentido de voto. Um eleitor regular do PS desgostoso com Costa e o partido não salta necessariamente para o PSD ou para o Bloco. Convencer abstencionistas não é menos relevante do que andar a catar indecisos. Talvez uma parte da vitória ou da derrota do dia 10 de março esteja mais na mobilização de parte do núcleo de potenciais abstencionistas do que noutro segmento.

2. Com o debate das rádios havido ontem, terminaram os confrontos diretos entre os líderes dos partidos parlamentares. A ida às rádios foi a mais esclarecedora. Permitiu uma abordagem relativamente detalhada de temas fundamentais que vinham ficando de fora como a Segurança Social, a Justiça, a Defesa, as leis eleitorais e até a utilização de telemóveis nas escolas. A circunstância do tempo ser bastante mais alargado ajudou. Mesmo assim soube a pouco. André Ventura faltou, o que permitiu uma conversa mais fluida e menos agressiva. Dias antes, houve outro plenário partidário na RTP que expôs a existência de um bloco unido à esquerda e de uma direita fracionada pelo Chega. Os moços da Climáximo picaram o ponto, sem perturbar o moderador, Carlos Daniel, que foi de todos quem esteve melhor.

3. Um assunto que os dirigentes partidários nunca abordaram é a cruel falta de apoios concretos aos muitos milhares de deficientes. Há múltiplas situações específicas e dramáticas de deficiência a afetarem seres humanos frágeis e as suas famílias. Para eles, nunca há uma palavra específica e sobretudo medidas concretas e práticas. Como é habitual no nosso país, a moldura legal para o problema é espetacular. O horror está na realidade.

4. Miguel Albuquerque, apesar de arguido no processo da Madeira, mantém em aberto uma recandidatura a presidente do governo regional. É incómodo para toda a gente, do PSD à própria reputação da região. Montenegro disse suavemente que se fosse com ele não faria o mesmo, o que irritou o líder madeirense. Albuquerque não tem qualquer espaço ético para voltar a apresentar-se, visto que foi ele que se demitiu. Se tivesse aguentado era diferente.

5. Está, entretanto, ultrapassada a fase em que um conhecido juiz de instrução seguia diligentemente o guião do Ministério Público. Atualmente, sucedem-se casos de desconformidade na análise e na aplicação de medidas, com as teses do MP a não serem validadas, muito menos de cruz. Um dos exemplos recentes veio do juiz Nuno Dias Costa que arrasou a acusação contra ex-dirigentes da Misericórdia de Lisboa, nomeadamente Helena Lopes da Costa. O juiz é o mesmo que não validou plenamente a pretensão do MP no caso Influencer, no quadro do qual o primeiro-ministro está a ser investigado, o que levou à sua demissão e à convocação de legislativas. Há quem fale em guerra entre magistraturas e há quem entenda que estamos numa fase em que as garantias dos arguidos se sobrepõem às teorias do MP, se não vierem sustentadas em provas substanciais. É uma possibilidade lamentável a ter em conta. Desde logo porque pode significar que muita gente já foi indevidamente perseguida anteriormente. Melhor será pensar que os juízes de instrução estão mais sensibilizados para preservar as liberdades e menos recetivos a aceitar megaprocessos que levam quase vinte anos a resolver, arrasando a vida de inocentes e favorecendo culpados.

6. Todos devem ser tratados com equidade dentro da sua especificidade. Vem isto a propósito das sucessivas reivindicações de classes que garantem a segurança dos cidadãos. Por inabilidade do Governo, os primeiros beneficiados com um significativo subsídio de risco foram os elementos da Polícia Judiciária. Poderá ter sido uma paga para aceitarem a extinção do SEF, admitem algumas fontes. De imediato surgiram reivindicações de polícias, soldados da GNR, guardas prisionais, bombeiros sapadores, ASAE (?) e agora militares. Era expectável. O problema vai transitar para o governo seguinte, sendo sério e urgente. Haverá que decidir com rapidez e critério. Há situações e funções distintas para cada elemento e cada instituição, em função da exposição ao risco e do respetivo cenário. O facto é que não se pode deixar de tratar da situação de cada um, atendendo também aos limites orçamentais. É uma herança que não dá para enjeitar. As forças de segurança e de defesa são essenciais à democracia e à soberania. Não existir um esforço de aproximação de posições entre as partes é fazer com que haja cada vez menos candidatos a essas profissões de risco, fragilizando o regime democrático.

7. Vale a pena ler o livro do jornalista João Céu e Silva que relata as peripécias à volta da publicação do Portugal e o Futuro, da autoria do Marechal Spínola. A obra foi uma alavanca decisiva para o Movimento dos Capitães que gerou o 25 de Abril. Além de outras coisas, Céu e Silva faz justiça e resgata a figura de Valdemar Paradela de Abreu, que desafiou o chefe militar a falar, ciente de que o livro não seria apenas um imenso sucesso comercial, mas um elemento decisivo para uma mudança da situação política. A História conta-nos que raramente há livros essenciais sem destemidos editores. E assim foi! A história do livro está aí. Falta o filme ou mesmo uma série para a Netflix.

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27.02.2024

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Legislativas: o mais decisivo talvez seja tirar de casa os potenciais abstencionistas que não são sempre os mesmos e que são mais do que os indecisos.

Nota prévia: Está por fazer o levantamento do número de “boys and girls” nomeados (ou reconduzidos) pelo governo PS para os próximos três anos, desde que António Costa anunciou a sua demissão. Numa análise sumária, já se contam mais de mil, sendo a Segurança Social a entidade mais “acolhedora”. Fosse ela assim para os desvalidos.

1. Com as devidas cautelas, pode-se admitir que as mais recentes sondagens apontam para uma potencial vitória da AD nas legislativas, a qual pode andar perto de uma maioria absoluta com o complemento dos liberais. Isto sobretudo se a adesão for concentrada nos maiores aglomerados populacionais para não desperdiçar votos. Contando com o Chega, então é claro que vai haver uma maioria de direita. Só que será inútil, uma vez que Montenegro assegura que “não é não” e que com ele não haverá Ventura. De forma que quem quiser contar com o Chega terá de lhe tirar o lugar, ao qual ele tenciona recandidatar-se mesmo que perca. Tal significa que para gerar uma alternativa ao PS sozinho ou a uma nova “geringonça”, o voto mais eficaz será na AD ou na IL. A isso chamam os dirigentes da AD votar útil. À esquerda o fenómeno não atinge as mesmas proporções. Há um acordo óbvio para recriar uma geringonça ou coisa parecida. Luís Montenegro tem baseado a sua campanha no pressuposto do voto útil e é possível que já se sinta isso nas sondagens publicadas na sexta feira na RTP e, menos, na da TVI. Em ambos os casos, o Chega recebe respetivamente 13% e 16% dos votos, sem a distribuição de indecisos. A maioria absoluta sem o Chega está à vista. É provável que Ventura esteja a sofrer um ajustamento regressivo nas intenções de voto, seja por efeito do voto útil, seja por se estar a identificar demais com os outros partidos no campo das promessas, tipo tudo para todos. A normalização do discurso político tem sempre custos para os radicais. Já nas presidenciais, Ventura perdeu terreno na ponta final. Seja como for, a probabilidade de o Chega ser decisivo à direita é ainda fortíssima. Daí a batalha que se trava à volta dos 20% que se afirmam indecisos. Estranhamente, a direita moderada tem tendência para ignorar os potenciais abstencionistas, que em Portugal rondam os 35%, embora os números possam atingir os 40%, dada a existência da chamada abstenção técnica (o fenómeno tem sobretudo a ver com a emigração de cidadãos que não se registam no exterior). O que interessa para o caso são, no entanto, os abstencionistas deliberados. Desde logo, porque nada indica que sejam sempre os mesmos. Pelo contrário, há gente moderada que prefere ficar em casa do que mudar o sentido de voto. Um eleitor regular do PS desgostoso com Costa e o partido não salta necessariamente para o PSD ou para o Bloco. Convencer abstencionistas não é menos relevante do que andar a catar indecisos. Talvez uma parte da vitória ou da derrota do dia 10 de março esteja mais na mobilização de parte do núcleo de potenciais abstencionistas do que noutro segmento.

2. Com o debate das rádios havido ontem, terminaram os confrontos diretos entre os líderes dos partidos parlamentares. A ida às rádios foi a mais esclarecedora. Permitiu uma abordagem relativamente detalhada de temas fundamentais que vinham ficando de fora como a Segurança Social, a Justiça, a Defesa, as leis eleitorais e até a utilização de telemóveis nas escolas. A circunstância do tempo ser bastante mais alargado ajudou. Mesmo assim soube a pouco. André Ventura faltou, o que permitiu uma conversa mais fluida e menos agressiva. Dias antes, houve outro plenário partidário na RTP que expôs a existência de um bloco unido à esquerda e de uma direita fracionada pelo Chega. Os moços da Climáximo picaram o ponto, sem perturbar o moderador, Carlos Daniel, que foi de todos quem esteve melhor.

3. Um assunto que os dirigentes partidários nunca abordaram é a cruel falta de apoios concretos aos muitos milhares de deficientes. Há múltiplas situações específicas e dramáticas de deficiência a afetarem seres humanos frágeis e as suas famílias. Para eles, nunca há uma palavra específica e sobretudo medidas concretas e práticas. Como é habitual no nosso país, a moldura legal para o problema é espetacular. O horror está na realidade.

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