Na cabeça de um eleitor

Com tanta confusão em tanta coisa, há que pensar muito bem antes de votar.

1. É inevitável abordar-se genericamente os debates televisivos da pré-campanha eleitoral. Os 30 minutos são curtos, mas eficientes. As audiências não são nada más. Já as horas de comentários que seguem são uma espécie de atestado de menoridade mental aos telespetadores. A dimensão de infoentretenimento atinge o seu auge com a atribuição de notas aos participantes, ao jeito da patinagem artística. Dito isto, Montenegro (apesar da imaturidade de quem julgou ter negociado a sua substituição pontual por Nuno Melo) tem estado bem. Segue sereno, seguro e confiante. Contou muito ter cilindrado Mortágua logo na primeira ronda. Pedro Nuno Santos tem vindo a melhorar. Ganhou calma e capacidade de exposição. Tem o trabalho mais bicudo de todos, ao não poder assumir-se como uma opção diferente de António Costa. Fica obrigado a autojustificar-se por erros, o que prejudica a imagem de fazedor. O líder socialista tem estado bem no apelo ao voto útil que o pode salvar. Já André Ventura entrou numa fase menos boa. Desatou a prometer tudo a todos, o que o descredibiliza. É provável que o seu score eleitoral esteja a encolher face às sondagens, o que tem acontecido regularmente ao Chega. Claro que Ventura é aguerrido e inteligente, mas o oportunismo político (diferente do populismo) não rende sempre. Os portugueses não são tontos a votar. Há um pequeno analista racional em cada um de nós. Melhor tem estado Rui Rocha, o controverso e ditatorial líder dos liberais. Tem sido assertivo e demolidor para alguns oponentes. Aparece bem preparado. Sabe que os debates são o seu momento de glória. O objetivo é linear: juntar-se depois à AD no governo. Se um dia mandasse haveria greves gerais três vezes por semana. Ao lado de Rocha, Passos Coelho é um fofinho. Mariana Mortágua ganhou para a vida o cognome de ‘Capuchinho do Bloco’, ao invocar uma estória irreal sobre o pânico da sua avó ao receber uma carta da senhoria. É daquelas demagogias que se colam à pele. Não era necessária a mentirola para explicar uma situação bem real. Paulo Raimundo é o que é. Um comunista profissional que lê a cartilha e não sai dela. Diz o mesmo que Jerónimo, mas sem empatia. Tem a vantagem de ser educado e ter cara de boa pessoa. O problema é que está tão datado na política como António Calvário na canção. Inês Sousa Real, apesar de combalida por mais uma queda, mostra-se firme. Tem uma cassete que repete. Usa bem os seus argumentos como. Na verdade, tem razão em certos temas ambientais e animais. Mas, com Montenegro, atingiu um ponto inacreditável de demagogia, má educação (para evitar peixeirada) e vitimização feminina. Em contrapartida foi submissa e mansa com Pedro Nuno Santos. É um voto alternativo à abstenção, ao nulo ou ao perigoso branco (o tal em que alguém pode sempre acrescentar uma cruzinha no boletim). Rui Tavares confirma a sua qualidade. Sendo de uma esquerda convicta, não deixa de ser europeísta, defensor do euro, dos direitos civis e políticos ocidentais, sem obsessão nem complexos. Uma palavra para os moderadores. Uns são mais interventores, mas em regra estão bem. A exceção é Adelino Faria. A sede de protagonismo leva-o para uma espécie de entrevista dual, que é exatamente o que não deve ser. Seja como for, os debates são essenciais para a formação de opinião e uma inestimável contribuição para o esclarecimento democrático. Pena não se falar de temas essenciais como a política do Mar, a Defesa no quadro dos valores ocidentais e, sobretudo, a Justiça. Embora neste último caso ninguém esteja particularmente à vontade, uma vez que todos são parte da fustigada classe política.

2. No domingo Pedro Nuno Santos apresentou o programa do PS. Foi um sucesso. A sessão foi concorrida e teve transmissão direta em todos os canais de informação. Medina serviu o aperitivo a explicar a maravilha de país que nos deixa. A seguir veio hora e meia de líder. Como disse a insuspeita Anabela Neves foi à Fidel Castro que também gostava de improvisar. As propostas são miríficas. A catadupa de promessas é infindável. Mostram que António Costa ou era incompetente ou não era socialista. O problema vai ser arranjar dinheiro para aquilo tudo, mantendo as contas certas. Pedro Nuno Santos desfez-se ali do lado moderado que vinha usando. Mostrou ter mais a ver com a determinação política de um certo animal feroz do que com a frieza racional costista.

3. A ser verdade o que vai passando cá para fora, a Madeira será uma realidade arrepiante, tomada por um polvo digno da Sicília ou da Córsega. A megaoperação ali efetuada foi de uma envergadura jamais vista e teve profundas consequências políticas. Além disso, tem permitido o prolongamento de detenções que mais parecem prisão preventiva, enquanto escorrem cá para fora informações gravíssimas e não comprovadas. Se todo este alarido não der em nada ou a conclusão for pífia, desta vez o Ministério Público terá mesmo de ver revistos os seus poderes, através dos da democracia, os únicos verdadeiramente legítimos.

4. Os casos da Madeira e dos Açores evidenciaram a absoluta inutilidade do cargo de Representante da República, uma espécie de almofada entre as Regiões Autónomas, os seus parlamentos e o Presidente da República. Antes desse cargo existia o de ministro da República que acabou por ser extinto e substituído pelo atual, por desagradar aos insulares que o achavam um resquício colonial. A situação vigente é tão absurda que o Presidente da República tem muito mais dificuldade em dissolver um parlamento regional do que a Assembleia da República. Foi em parte por isso que Cavaco Silva chegou a fazer um violento e inesperado discurso ao país aquando da aprovação do Estatuto Administrativo dos Açores. Mais uma vez, tinha razão antes do tempo.

5. Entre debates, eleições nacionais à vista, situações político-regionais complexas, comentadores aos molhos, casos de justiça envolvendo políticos e gente da bola, estranhas leis e uma invulgar agitação social, um eleitor português deve pensar bem no que quer, não se deixando manipular. Veja-se que até a história está cheia de frases celebres que nunca foram ditas. Armando Ferreira, dirigente de um sindicato da PSP, já integrou o naipe dessas figuras em que constam Einstein e Maquiavel. Alertou simplesmente para perigos de um boicote às eleições por parte de polícias extremistas. Porém, insistem em dizer que isso era uma ameaça em si mesmo. Ridículo! Curiosamente, quem tal afirma nada disse quando, em 2017, juízes e magistrados ameaçaram mesmo um boicote, a fim protestar contra uma proposta sobre os seus estatutos. E também nada se ouviu quando, há dias, o jornal Eco noticiou que a greve dos funcionários judiciais pode impedir a afixação das listas de deputados no dia 29 deste mês, o que seria uma grave perturbação. Isto porque eles entram em greve diariamente as 17 horas e os documentos devem ser afixados até às 18.

6. O Conselho Geral Independente da RTP, onde pontificam, nomeadamente, Leonor Beleza e Arons de Carvalho, convidou o atual presidente da empresa, Nicolau Santos, a apresentar-lhe um projeto estratégico para o grupo, em função de parâmetros que o conselho definiu. O CGI abandonou o princípio de concurso para a gestão da RTP. Nicolau Santos será, portanto, reconduzido, uma vez que a carta convite fala da sua considerável experiência de gestão e de liderança, apesar das fracas audiências e da ausência de projetos concluídos em três anos. O convite foi feito no dia em que se soube que a RTP tinha regressado a prejuízos. Concretamente, 1.4 milhões, precisando ainda de um aumento de capital de cerca de 14 milhões. De notar que a empresa continua sem cobertura jornalística nos Estados Unidos, com custos fixos e numa altura em que tudo o que se passa lá é determinante, dado que há presidenciais à vista com Trump à espreita. Só há dias se abriu o concurso para a vaga. Internamente dá-se já por certo o nome de uma vencedora.

1. É inevitável abordar-se genericamente os debates televisivos da pré-campanha eleitoral. Os 30 minutos são curtos, mas eficientes. As audiências não são nada más. Já as horas de comentários que seguem são uma espécie de atestado de menoridade mental aos telespetadores. A dimensão de infoentretenimento atinge o seu auge com a atribuição de notas aos participantes, ao jeito da patinagem artística. Dito isto, Montenegro (apesar da imaturidade de quem julgou ter negociado a sua substituição pontual por Nuno Melo) tem estado bem. Segue sereno, seguro e confiante. Contou muito ter cilindrado Mortágua logo na primeira ronda. Pedro Nuno Santos tem vindo a melhorar. Ganhou calma e capacidade de exposição. Tem o trabalho mais bicudo de todos, ao não poder assumir-se como uma opção diferente de António Costa. Fica obrigado a autojustificar-se por erros, o que prejudica a imagem de fazedor. O líder socialista tem estado bem no apelo ao voto útil que o pode salvar. Já André Ventura entrou numa fase menos boa. Desatou a prometer tudo a todos, o que o descredibiliza. É provável que o seu score eleitoral esteja a encolher face às sondagens, o que tem acontecido regularmente ao Chega. Claro que Ventura é aguerrido e inteligente, mas o oportunismo político (diferente do populismo) não rende sempre. Os portugueses não são tontos a votar. Há um pequeno analista racional em cada um de nós. Melhor tem estado Rui Rocha, o controverso e ditatorial líder dos liberais. Tem sido assertivo e demolidor para alguns oponentes. Aparece bem preparado. Sabe que os debates são o seu momento de glória. O objetivo é linear: juntar-se depois à AD no governo. Se um dia mandasse haveria greves gerais três vezes por semana. Ao lado de Rocha, Passos Coelho é um fofinho. Mariana Mortágua ganhou para a vida o cognome de ‘Capuchinho do Bloco’, ao invocar uma estória irreal sobre o pânico da sua avó ao receber uma carta da senhoria. É daquelas demagogias que se colam à pele. Não era necessária a mentirola para explicar uma situação bem real. Paulo Raimundo é o que é. Um comunista profissional que lê a cartilha e não sai dela. Diz o mesmo que Jerónimo, mas sem empatia. Tem a vantagem de ser educado e ter cara de boa pessoa. O problema é que está tão datado na política como António Calvário na canção. Inês Sousa Real, apesar de combalida por mais uma queda, mostra-se firme. Tem uma cassete que repete. Usa bem os seus argumentos como. Na verdade, tem razão em certos temas ambientais e animais. Mas, com Montenegro, atingiu um ponto inacreditável de demagogia, má educação (para evitar peixeirada) e vitimização feminina. Em contrapartida foi submissa e mansa com Pedro Nuno Santos. É um voto alternativo à abstenção, ao nulo ou ao perigoso branco (o tal em que alguém pode sempre acrescentar uma cruzinha no boletim). Rui Tavares confirma a sua qualidade. Sendo de uma esquerda convicta, não deixa de ser europeísta, defensor do euro, dos direitos civis e políticos ocidentais, sem obsessão nem complexos. Uma palavra para os moderadores. Uns são mais interventores, mas em regra estão bem. A exceção é Adelino Faria. A sede de protagonismo leva-o para uma espécie de entrevista dual, que é exatamente o que não deve ser. Seja como for, os debates são essenciais para a formação de opinião e uma inestimável contribuição para o esclarecimento democrático. Pena não se falar de temas essenciais como a política do Mar, a Defesa no quadro dos valores ocidentais e, sobretudo, a Justiça. Embora neste último caso ninguém esteja particularmente à vontade, uma vez que todos são parte da fustigada classe política.

2. No domingo Pedro Nuno Santos apresentou o programa do PS. Foi um sucesso. A sessão foi concorrida e teve transmissão direta em todos os canais de informação. Medina serviu o aperitivo a explicar a maravilha de país que nos deixa. A seguir veio hora e meia de líder. Como disse a insuspeita Anabela Neves foi à Fidel Castro que também gostava de improvisar. As propostas são miríficas. A catadupa de promessas é infindável. Mostram que António Costa ou era incompetente ou não era socialista. O problema vai ser arranjar dinheiro para aquilo tudo, mantendo as contas certas. Pedro Nuno Santos desfez-se ali do lado moderado que vinha usando. Mostrou ter mais a ver com a determinação política de um certo animal feroz do que com a frieza racional costista.

3. A ser verdade o que vai passando cá para fora, a Madeira será uma realidade arrepiante, tomada por um polvo digno da Sicília ou da Córsega. A megaoperação ali efetuada foi de uma envergadura jamais vista e teve profundas consequências políticas. Além disso, tem permitido o prolongamento de detenções que mais parecem prisão preventiva, enquanto escorrem cá para fora informações gravíssimas e não comprovadas. Se todo este alarido não der em nada ou a conclusão for pífia, desta vez o Ministério Público terá mesmo de ver revistos os seus poderes, através dos da democracia, os únicos verdadeiramente legítimos.

4. Os casos da Madeira e dos Açores evidenciaram a absoluta inutilidade do cargo de Representante da República, uma espécie de almofada entre as Regiões Autónomas, os seus parlamentos e o Presidente da República. Antes desse cargo existia o de ministro da República que acabou por ser extinto e substituído pelo atual, por desagradar aos insulares que o achavam um resquício colonial. A situação vigente é tão absurda que o Presidente da República tem muito mais dificuldade em dissolver um parlamento regional do que a Assembleia da República. Foi em parte por isso que Cavaco Silva chegou a fazer um violento e inesperado discurso ao país aquando da aprovação do Estatuto Administrativo dos Açores. Mais uma vez, tinha razão antes do tempo.

5. Entre debates, eleições nacionais à vista, situações político-regionais complexas, comentadores aos molhos, casos de justiça envolvendo políticos e gente da bola, estranhas leis e uma invulgar agitação social, um eleitor português deve pensar bem no que quer, não se deixando manipular. Veja-se que até a história está cheia de frases celebres que nunca foram ditas. Armando Ferreira, dirigente de um sindicato da PSP, já integrou o naipe dessas figuras em que constam Einstein e Maquiavel. Alertou simplesmente para perigos de um boicote às eleições por parte de polícias extremistas. Porém, insistem em dizer que isso era uma ameaça em si mesmo. Ridículo! Curiosamente, quem tal afirma nada disse quando, em 2017, juízes e magistrados ameaçaram mesmo um boicote, a fim protestar contra uma proposta sobre os seus estatutos. E também nada se ouviu quando, há dias, o jornal Eco noticiou que a greve dos funcionários judiciais pode impedir a afixação das listas de deputados no dia 29 deste mês, o que seria uma grave perturbação. Isto porque eles entram em greve diariamente as 17 horas e os documentos devem ser afixados até às 18.

6. O Conselho Geral Independente da RTP, onde pontificam, nomeadamente, Leonor Beleza e Arons de Carvalho, convidou o atual presidente da empresa, Nicolau Santos, a apresentar-lhe um projeto estratégico para o grupo, em função de parâmetros que o conselho definiu. O CGI abandonou o princípio de concurso para a gestão da RTP. Nicolau Santos será, portanto, reconduzido, uma vez que a carta convite fala da sua considerável experiência de gestão e de liderança, apesar das fracas audiências e da ausência de projetos concluídos em três anos. O convite foi feito no dia em que se soube que a RTP tinha regressado a prejuízos. Concretamente, 1.4 milhões, precisando ainda de um aumento de capital de cerca de 14 milhões. De notar que a empresa continua sem cobertura jornalística nos Estados Unidos, com custos fixos e numa altura em que tudo o que se passa lá é determinante, dado que há presidenciais à vista com Trump à espreita. Só há dias se abriu o concurso para a vaga. Internamente dá-se já por certo o nome de uma vencedora.

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13.02.2024

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Com tanta confusão em tanta coisa, há que pensar muito bem antes de votar.

1. É inevitável abordar-se genericamente os debates televisivos da pré-campanha eleitoral. Os 30 minutos são curtos, mas eficientes. As audiências não são nada más. Já as horas de comentários que seguem são uma espécie de atestado de menoridade mental aos telespetadores. A dimensão de infoentretenimento atinge o seu auge com a atribuição de notas aos participantes, ao jeito da patinagem artística. Dito isto, Montenegro (apesar da imaturidade de quem julgou ter negociado a sua substituição pontual por Nuno Melo) tem estado bem. Segue sereno, seguro e confiante. Contou muito ter cilindrado Mortágua logo na primeira ronda. Pedro Nuno Santos tem vindo a melhorar. Ganhou calma e capacidade de exposição. Tem o trabalho mais bicudo de todos, ao não poder assumir-se como uma opção diferente de António Costa. Fica obrigado a autojustificar-se por erros, o que prejudica a imagem de fazedor. O líder socialista tem estado bem no apelo ao voto útil que o pode salvar. Já André Ventura entrou numa fase menos boa. Desatou a prometer tudo a todos, o que o descredibiliza. É provável que o seu score eleitoral esteja a encolher face às sondagens, o que tem acontecido regularmente ao Chega. Claro que Ventura é aguerrido e inteligente, mas o oportunismo político (diferente do populismo) não rende sempre. Os portugueses não são tontos a votar. Há um pequeno analista racional em cada um de nós. Melhor tem estado Rui Rocha, o controverso e ditatorial líder dos liberais. Tem sido assertivo e demolidor para alguns oponentes. Aparece bem preparado. Sabe que os debates são o seu momento de glória. O objetivo é linear: juntar-se depois à AD no governo. Se um dia mandasse haveria greves gerais três vezes por semana. Ao lado de Rocha, Passos Coelho é um fofinho. Mariana Mortágua ganhou para a vida o cognome de ‘Capuchinho do Bloco’, ao invocar uma estória irreal sobre o pânico da sua avó ao receber uma carta da senhoria. É daquelas demagogias que se colam à pele. Não era necessária a mentirola para explicar uma situação bem real. Paulo Raimundo é o que é. Um comunista profissional que lê a cartilha e não sai dela. Diz o mesmo que Jerónimo, mas sem empatia. Tem a vantagem de ser educado e ter cara de boa pessoa. O problema é que está tão datado na política como António Calvário na canção. Inês Sousa Real, apesar de combalida por mais uma queda, mostra-se firme. Tem uma cassete que repete. Usa bem os seus argumentos como. Na verdade, tem razão em certos temas ambientais e animais. Mas, com Montenegro, atingiu um ponto inacreditável de demagogia, má educação (para evitar peixeirada) e vitimização feminina. Em contrapartida foi submissa e mansa com Pedro Nuno Santos. É um voto alternativo à abstenção, ao nulo ou ao perigoso branco (o tal em que alguém pode sempre acrescentar uma cruzinha no boletim). Rui Tavares confirma a sua qualidade. Sendo de uma esquerda convicta, não deixa de ser europeísta, defensor do euro, dos direitos civis e políticos ocidentais, sem obsessão nem complexos. Uma palavra para os moderadores. Uns são mais interventores, mas em regra estão bem. A exceção é Adelino Faria. A sede de protagonismo leva-o para uma espécie de entrevista dual, que é exatamente o que não deve ser. Seja como for, os debates são essenciais para a formação de opinião e uma inestimável contribuição para o esclarecimento democrático. Pena não se falar de temas essenciais como a política do Mar, a Defesa no quadro dos valores ocidentais e, sobretudo, a Justiça. Embora neste último caso ninguém esteja particularmente à vontade, uma vez que todos são parte da fustigada classe política.

2. No domingo Pedro Nuno Santos apresentou o programa do PS. Foi um sucesso. A sessão foi concorrida e teve transmissão direta em todos os canais de informação. Medina serviu o aperitivo a explicar a maravilha de país que nos deixa. A seguir veio hora e meia de líder. Como disse a insuspeita Anabela Neves foi à Fidel Castro que também gostava de improvisar. As propostas são miríficas. A catadupa de promessas é infindável. Mostram que António Costa ou era incompetente ou não era socialista. O problema vai ser arranjar dinheiro para aquilo tudo, mantendo as contas certas. Pedro Nuno Santos desfez-se ali do lado moderado que vinha usando. Mostrou ter mais a ver com a determinação política de um certo animal feroz do que com a frieza racional costista.

3. A ser verdade o que vai passando cá para fora, a Madeira será uma realidade arrepiante, tomada por um polvo digno da Sicília ou da Córsega. A megaoperação ali efetuada foi de uma envergadura jamais vista e teve profundas consequências........

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