Por mares nunca dantes navegados

Por mares nunca dantes navegados

Henrique Gomes 12/03/2024 08:39

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O país acaba de assistir a uma mudança de ciclo político com os Chega, IL e Livre. O regime tem agora três grandes partidos e uma expressiva maioria de direita, mas a doutrina “Não é não!” colocou-o num impasse.

A maioria absoluta ganha pelo PS em 30Jan22 foi perdida com o pedido de demissão do primeiro-ministro António Costa em 7Nov23. Neste último domingo, após uma campanha eleitoral animada, tiveram lugar novas eleições legislativas com uma afluência excepcional de 6,140 milhões de votantes no território nacional, ou seja, mais 750 mil votantes que em 2022. Foi a maior votação desde sempre!

RESULTADOS ELEITORAIS

Ainda sem se conhecerem os resultados do círculo da emigração, onde poderá ser provável que, quer o PSD quer o Chega, obtenham 2 deputados cada, os resultados agregados do território nacional, relativamente às eleições de 2022, mostram que:

Partidos perdedores:

• PS. Com 1,76 milhões de votantes e 77 deputados, perde quase 500 mil votos, traduzindo-se numa perda de 22% dos votos e um terço dos deputados.

• PCP-PEV. Com 202 mil votantes e 4 deputados, perde 15% dos votos e um terço dos deputados.

Partidos ganhadores:

• AD. Com 1,81 milhões de votantes e 79 deputados, sobe os votos em 14% e os deputados em 10%.

• Chega. Com 1,10 milhões de votantes e 48 deputados, sobe os votos em 200% e os deputados em 300%.

• Livre. Com 200 mil votantes e 4 deputados, sobe os votos em 190% e os deputados em 300%.

Partidos consolidados que mantêm o nº de deputados:

• IL. Com 312 mil votantes, sobe os votos em 16% e mantém os 8 deputados.

• BE. Com 274 mil votantes, sobe os votos em 14% e mantém os 5 deputados.

• PAN. Com 118 mil votantes, sobe os votos em 44%, mas mantém um único deputado.

No global, dos votos apurados, 3,32 milhões foram para a Direita (AD+IL+CH) e 2,55 milhões para a Esquerda (PS+BE+PCP+L+PAN). Em termos de deputados, e ainda sem contar com os da imigração, estes números converteram-se, respetivamente, em 135 e 91. O país guinou à direita com uma navegação cheia de escolhos, pois não contará com o grupo parlamentar do CH com 48 (ou eventualmente 50 com a imigração) deputados: “Não é não!”.

O CHEGA NO JOGO POLÍTICO ENTRE A DIREITA E A ESQUERDA

A criação da geringonça em 2015, marca um novo paradigma nas relações parlamentares e de governo, criando um bloco coeso à esquerda e que otimiza o número de deputados face às votações obtidas. Nos últimos anos, à medida que se degradava a governação, o PS aumentou a arrogância e crispação políticas, atingindo o seu apogeu com a maioria absoluta após 2022.

Entretanto, nas eleições de 2019, o Chega obtém 66 mil votos e ganha um deputado. Partido populista, sem corpo ideológico conhecido, dá voz ao descontentamento da rua no parlamento de forma histriónica e provocadora, não se eximindo de exprimir sentimentos a roçar o mau gosto e ética e politicamente chocantes. Para o Chega, tudo vale como afirmação.

Nesta fase, o PS foi a sua caixa amplificadora do Chega pois importaria enfraquecer o PSD.

Deu-lhe palco e importância, o teatro burlesco, estava garantido. Sem nunca o respeitar, deu papagaio ao Chega e fez-lhe uma cerca: o Chega é de extrema-direita, fascista, xenófobo e racista. É um partido pária! Drena-se assim a direita e anula-se a representação do Chega.

Jogo perigoso. Em 2022, o CHEGA alcança 386 mil votos e 12 deputados. É já a terceira força política embora ainda no pelotão dos pequenos.

O espetáculo continua. O Chega vai aproveitando os escândalos do governo, o descontentamento crescente de grupos sociais e a degradação do país. O país vai a votos. A vozearia à esquerda é forte. O IL, em fase de afirmação e consolidação, confirma o isolamento do Chega. A AD é empurrada para o compromisso: Não é não!

Monta-se o circo da campanha eleitoral. Os partidos apresentam os seus programas de governo que ninguém divulga, lê ou discute, embora um ou outro seja de boa qualidade. A comunicação social organiza combates de frente a frente, de todos contra todos, entre os partidos de representação parlamentar. Curtos e parciais. Em contrapartida, às análises dos debates e das sondagens, frequentemente enviesados e a violentar o senso comum, é dedicado um tempo imenso. Não obstante, as audiências parece terem sido inferiores às de 2022.

Na opinião geral dos comentadores, o Chega perdeu quase todos os debates em que se envolveu. O Chega, que se considera não ter estrutura nem quadros, estava em todo o país, na rua junto aos mais pobres, nas arruadas e com os jovens nas redes sociais.

Os sub-representados da nossa democracia concederam a sua voz, o voto de protesto, ao Chega e deram-lhe mais 723 mil votos, quase tantos como os 750 mil da redução da abstenção.

O país acaba de assistir a uma mudança de ciclo político com os Chega, IL e Livre. O regime tem agora 3 grandes partidos e uma expressiva maioria de direita, mas a doutrina “Não é não!” colocou-o num impasse, com elevado perigo de ingovernabilidade.

A GOVERNABILIDADE AGRILHOADA

No rescaldo das eleições, para além do “Não é não”, o PS já afirmou que “não viabilizará nenhum orçamento de direita”.

Para além do colete de forças deste enquadramento, a AD acaba de herdar um caderno de encargos urgente e pesado, como sejam, as reivindicações de vários e relevantes grupos sociais, a degradação dos serviços do Estado, os compromissos do PRR.

Tudo isto num contexto internacional muito preocupante.

Uma vez mais, a direita alcança o poder em condições muito complicadas.

Ser-lhe-á necessário procurar novos mares e promover que o país político entre numa nova fase de convivência democrática e estabeleça portas de entendimento entre todos os partidos parlamentares. Por respeito aos cidadãos e em nome do bem público e o desenvolvimento do país. A população exige-o.

Não lhe sendo possível governar, a direita deverá rejeitar o pântano e promover o esclarecimento com novas eleições. Sem grilhões!

A maioria absoluta ganha pelo PS em 30Jan22 foi perdida com o pedido de demissão do primeiro-ministro António Costa em 7Nov23. Neste último domingo, após uma campanha eleitoral animada, tiveram lugar novas eleições legislativas com uma afluência excepcional de 6,140 milhões de votantes no território nacional, ou seja, mais 750 mil votantes que em 2022. Foi a maior votação desde sempre!

RESULTADOS ELEITORAIS

Ainda sem se conhecerem os resultados do círculo da emigração, onde poderá ser provável que, quer o PSD quer o Chega, obtenham 2 deputados cada, os resultados agregados do território nacional, relativamente às eleições de 2022, mostram que:

Partidos perdedores:

• PS. Com 1,76 milhões de votantes e 77 deputados, perde quase 500 mil votos, traduzindo-se numa perda de 22% dos votos e um terço dos deputados.

• PCP-PEV. Com 202 mil votantes e 4 deputados, perde 15% dos votos e um terço dos deputados.

Partidos ganhadores:

• AD. Com 1,81 milhões de votantes e 79 deputados, sobe os votos em 14% e os deputados em 10%.

• Chega. Com 1,10 milhões de votantes e 48 deputados, sobe os votos em 200% e os deputados em 300%.

• Livre. Com 200 mil votantes e 4 deputados, sobe os votos em 190% e os deputados em 300%.

Partidos consolidados que mantêm o nº de deputados:

• IL. Com 312 mil votantes, sobe os votos em 16% e mantém os 8 deputados.

• BE. Com 274 mil votantes, sobe os votos em 14% e mantém os 5 deputados.

• PAN. Com 118 mil votantes, sobe os votos em 44%, mas mantém um único deputado.

No global, dos votos apurados, 3,32 milhões foram para a Direita (AD+IL+CH) e 2,55 milhões para a Esquerda (PS+BE+PCP+L+PAN). Em termos de deputados, e ainda sem contar com os da imigração, estes números converteram-se, respetivamente, em 135 e 91. O país guinou à direita com uma navegação cheia de escolhos, pois não contará com o grupo parlamentar do CH com 48 (ou eventualmente 50 com a imigração) deputados: “Não é não!”.

O CHEGA NO JOGO POLÍTICO ENTRE A DIREITA E A ESQUERDA

A criação da geringonça em 2015, marca um novo paradigma nas relações parlamentares e de governo, criando um bloco coeso à esquerda e que otimiza o número de deputados face às votações obtidas. Nos últimos anos, à medida que se degradava a governação, o PS aumentou a arrogância e crispação políticas, atingindo o seu apogeu com a maioria absoluta após 2022.

Entretanto, nas eleições de 2019, o Chega obtém 66 mil votos e ganha um deputado. Partido populista, sem corpo ideológico conhecido, dá voz ao descontentamento da rua no parlamento de forma histriónica e provocadora, não se eximindo de exprimir sentimentos a roçar o mau gosto e ética e politicamente chocantes. Para o Chega, tudo vale como afirmação.

Nesta fase, o PS foi a sua caixa amplificadora do Chega pois importaria enfraquecer o PSD.

Deu-lhe palco e importância, o teatro burlesco, estava garantido. Sem nunca o respeitar, deu papagaio ao Chega e fez-lhe uma cerca: o Chega é de extrema-direita, fascista, xenófobo e racista. É um partido pária! Drena-se assim a direita e anula-se a representação do Chega.

Jogo perigoso. Em 2022, o CHEGA alcança 386 mil votos e 12 deputados. É já a terceira força política embora ainda no pelotão dos pequenos.

O espetáculo continua. O Chega vai aproveitando os escândalos do governo, o descontentamento crescente de grupos sociais e a degradação do país. O país vai a votos. A vozearia à esquerda é forte. O IL, em fase de afirmação e consolidação, confirma o isolamento do Chega. A AD é empurrada para o compromisso: Não é não!

Monta-se o circo da campanha eleitoral. Os partidos apresentam os seus programas de governo que ninguém divulga, lê ou discute, embora um ou outro seja de boa qualidade. A comunicação social organiza combates de frente a frente, de todos contra todos, entre os partidos de representação parlamentar. Curtos e parciais. Em contrapartida, às análises dos debates e das sondagens, frequentemente enviesados e a violentar o senso comum, é dedicado um tempo imenso. Não obstante, as audiências parece terem sido inferiores às de 2022.

Na opinião geral dos comentadores, o Chega perdeu quase todos os debates em que se envolveu. O Chega, que se considera não ter estrutura nem quadros, estava em todo o país, na rua junto aos mais pobres, nas arruadas e com os jovens nas redes sociais.

Os sub-representados da nossa democracia concederam a sua voz, o voto de protesto, ao Chega e deram-lhe mais 723 mil votos, quase tantos como os 750 mil da redução da abstenção.

O país acaba de assistir a uma mudança de ciclo político com os Chega, IL e Livre. O regime tem agora 3 grandes partidos e uma expressiva maioria de direita, mas a doutrina “Não é não!” colocou-o num impasse, com elevado perigo de ingovernabilidade.

A GOVERNABILIDADE AGRILHOADA

No rescaldo das eleições, para além do “Não é não”, o PS já afirmou que “não viabilizará nenhum orçamento de direita”.

Para além do colete de forças deste enquadramento, a AD acaba de herdar um caderno de encargos urgente e pesado, como sejam, as reivindicações de vários e relevantes grupos sociais, a degradação dos serviços do Estado, os compromissos do PRR.

Tudo isto num contexto internacional muito preocupante.

Uma vez mais, a direita alcança o poder em condições muito complicadas.

Ser-lhe-á necessário procurar novos mares e promover que o país político entre numa nova fase de convivência democrática e estabeleça portas de entendimento entre todos os partidos parlamentares. Por respeito aos cidadãos e em nome do bem público e o desenvolvimento do país. A população exige-o.

Não lhe sendo possível governar, a direita deverá rejeitar o pântano e promover o esclarecimento com novas eleições. Sem grilhões!

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A maioria absoluta ganha pelo PS em 30Jan22 foi perdida com o pedido de demissão do primeiro-ministro António Costa em 7Nov23. Neste último domingo, após uma campanha eleitoral animada, tiveram lugar novas eleições legislativas com uma afluência excepcional de 6,140 milhões de votantes no território nacional, ou seja, mais 750 mil votantes que em 2022. Foi a maior votação desde sempre!

RESULTADOS ELEITORAIS

Ainda sem se conhecerem os resultados do círculo da emigração, onde poderá ser provável que, quer o PSD quer o Chega, obtenham 2 deputados cada, os resultados agregados do território nacional, relativamente às eleições de 2022, mostram que:

Partidos perdedores:

• PS. Com 1,76 milhões de votantes e 77 deputados, perde quase 500 mil votos, traduzindo-se numa perda de 22% dos votos e um terço dos deputados.

• PCP-PEV. Com 202 mil votantes e 4 deputados, perde 15% dos votos e um terço dos deputados.

Partidos ganhadores:

• AD. Com 1,81 milhões de votantes e 79 deputados, sobe os votos em 14% e os deputados em 10%.

• Chega. Com 1,10 milhões de votantes e 48 deputados, sobe os votos em 200% e os deputados em 300%.

• Livre. Com 200 mil votantes e 4 deputados, sobe os votos em 190% e os deputados em 300%.

Partidos consolidados que mantêm o nº de deputados:

• IL. Com 312 mil votantes, sobe os votos em 16% e mantém os 8 deputados.

• BE. Com 274 mil votantes, sobe os votos em 14% e mantém os 5 deputados.

• PAN. Com 118 mil votantes, sobe os votos em 44%, mas mantém um único deputado.

No global, dos votos apurados, 3,32 milhões foram para a Direita (AD IL CH) e 2,55 milhões para a Esquerda (PS BE PCP L PAN). Em termos de deputados, e ainda sem contar com os da imigração, estes números converteram-se, respetivamente, em 135 e 91. O país guinou à direita com uma navegação cheia de escolhos, pois não contará com o grupo parlamentar do CH com 48 (ou eventualmente 50 com a imigração) deputados: “Não é não!”.

O CHEGA NO JOGO POLÍTICO ENTRE A DIREITA E A ESQUERDA

A criação da geringonça em 2015, marca um novo paradigma nas relações parlamentares e de governo, criando um bloco coeso à esquerda e que otimiza o número de deputados face às votações obtidas. Nos últimos anos, à medida que se degradava a governação, o PS aumentou a arrogância e crispação políticas, atingindo o seu apogeu com a maioria absoluta após 2022.

Entretanto, nas eleições de 2019, o Chega obtém 66 mil votos e ganha um deputado. Partido populista, sem........

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