O IKEA a brincar com o fogo
Hoje em dia pouco ou nada se pode fazer e dizer. Temos que estar sempre preocupados com os pudicos e os ofendidinhos por tudo e por nada. Isso faz com que a própria sociedade se torne mais enfadonha e previsível.
A semana passada uma campanha publicitaria da empresa multinacional sueca tornou-se rapidamente viral assumindo capas de jornais e conversas de café, levando inclusivamente atrás de si várias outras marcas que, achando piada à ideia e ao arrojo, decidiram surfar a mesma onda e acrescentar novos capítulos a uma história que marcará por certo esta campanha para as legislativas mas talvez também uma nova era da publicidade em Portugal. Diz a sabedoria popular que quem brinca com o fogo, queima-se. Jorge Coelho, saudoso ex-ministro do Partido Socialista, dizia numa das suas mais célebres tiradas mais ou menos o mesmo, “quem se mete com o PS, leva!”.
Independentemente das consequências que a referida campanha possa ter na reputação da marca junto dos consumidores portugueses (não tenho grandes dúvidas de que pouco se refletirá) o que é certo é que à parte da marca de preservativos Control e de uma ou outra tirada da Iniciativa Liberal o politicamente correto que vem tomando conta da sociedade portuguesa tem-se estendido também para o marketing e a comunicação. A própria comédia, normalmente o expoente máximo do que se pode considerar “ir até ao limite”, tem-se resguardado e muito com receio de ser cancelada por um certo “establishment” que pouco gosta de interferir com temas fraturantes ou susceptíveis de incomodar os mais sensíveis. Já não se pode usar certas palavras, nem brincar com peso, idade, cor do cabelo, região ou religião (lembro-me de tantas anedotas que ouvia na infância sobre as loiras e os alentejanos)…
Várias vezes me aparecem nos grupos do WhatsApp do telemóvel excertos de alguns episódios antigos de certas personagens que penso, se fosse hoje, não poderiam ir sequer para o ar ou que se fossem ditariam o fim de quem os produziu. Quando agimos mais a pensar no que não queremos que os outros sintam ou invés de escolhermos impactar a capacidade criativa e inovadora, estamos a escolher um caminho mais cinzento e igual, sem grande rasgo ou capacidade de destaque. É isso que sinto hoje em dia quando vejo a publicidade de tantas marcas no nosso país. A vontade de todos parecerem bonzinhos e santinhos, muito preocupados com o mundo que os rodeia, com a ecologia, o meio ambiente, a igualdade de género ou os idosos, no fundo procurando mostrar uma responsabilidade social que não encontra eco na postura das próprias dentro de portas.
Hoje em dia pouco ou nada se pode fazer e dizer. Temos que estar sempre preocupados com os pudicos e os ofendidinhos por tudo e por nada. Isso faz com que a própria sociedade se torne mais enfadonha e previsível. É óbvio que tem que haver limites para o que se diz e que não se devem passar de certos limites nem faltar ao respeito a quem quer que seja, mas não podemos passar a vida a castrar quem arrisca algo de diferente com piada e de forma inteligente sob pena de deixamos de ser pessoas e passarmos de uma vez por todas à era dos robots. No ano em que se celebram os 50 anos do 25 de Abril, para alguns a democracia é uma estrada de uma só via…
A semana passada uma campanha publicitaria da empresa multinacional sueca tornou-se rapidamente viral assumindo capas de jornais e conversas de café, levando inclusivamente atrás de si várias outras marcas que, achando piada à ideia e ao arrojo, decidiram surfar a mesma onda e acrescentar novos capítulos a uma história que marcará por certo esta campanha para as legislativas mas talvez também uma nova era da publicidade em Portugal. Diz a sabedoria popular que quem brinca com o fogo, queima-se. Jorge Coelho, saudoso ex-ministro do Partido Socialista, dizia numa das suas mais célebres tiradas mais ou menos o mesmo, “quem se mete com o PS, leva!”.
Independentemente das consequências que a referida campanha possa ter na reputação da marca junto dos consumidores portugueses (não tenho grandes dúvidas de que pouco se refletirá) o que é certo é que à parte da marca de preservativos Control e de uma ou outra tirada da Iniciativa Liberal o politicamente correto que vem tomando conta da sociedade portuguesa tem-se estendido também para o marketing e a comunicação. A própria comédia, normalmente o expoente máximo do que se pode considerar “ir até ao limite”, tem-se resguardado e muito com receio de ser cancelada por um certo “establishment” que pouco gosta de interferir com temas fraturantes ou susceptíveis de incomodar os mais sensíveis. Já não se pode usar certas palavras, nem brincar com peso, idade, cor do cabelo, região ou religião (lembro-me de tantas anedotas que ouvia na infância sobre as loiras e os alentejanos)…
Várias vezes me aparecem nos grupos do WhatsApp do telemóvel excertos de alguns episódios antigos de certas personagens que penso, se fosse hoje, não poderiam ir sequer para o ar ou que se fossem ditariam o fim de quem os produziu. Quando agimos mais a pensar no que não queremos que os outros sintam ou invés de escolhermos impactar a capacidade criativa e inovadora, estamos a escolher um caminho mais cinzento e igual, sem grande rasgo ou capacidade de destaque. É isso que sinto hoje em dia quando vejo a publicidade de tantas marcas no nosso país. A vontade de todos parecerem bonzinhos e santinhos, muito preocupados com o mundo que os rodeia, com a ecologia, o meio ambiente, a igualdade de género ou os idosos, no fundo procurando mostrar uma responsabilidade social que não encontra eco na postura das próprias dentro de portas.
Hoje em dia pouco ou nada se pode fazer e dizer. Temos que estar sempre preocupados com os pudicos e os ofendidinhos por tudo e por nada. Isso faz com que a própria sociedade se torne mais enfadonha e previsível. É óbvio que tem que haver limites para o que se diz e que não se devem passar de certos limites nem faltar ao respeito a quem quer que seja, mas não podemos passar a vida a castrar quem arrisca algo de diferente com piada e de forma inteligente sob pena de deixamos de ser pessoas e passarmos de uma vez por todas à era dos robots. No ano em que se celebram os 50 anos do 25 de Abril, para alguns a democracia é uma estrada de uma só via…
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