Rali das Tascas

Aqueles sítios onde a comida ainda sabe a casa, ao antigamente, que nos fazem viajar pelos sabores da nossa infância, cozinhados pelas nossas mães ou avós.

Os portugueses adoram comer fora. Quem trabalhou noutro país (sobretudo os mais desenvolvidos) sabe que existe muito o hábito de se almoçar o que se traz de casa, numa copa ou cozinha improvisada ou vai-se a um qualquer fast food, primeiro porque não existe oferta dentro de uma boa relação qualidade/preço e depois porque muitos não têm uma gastronomia típica como a nossa. Nós por cá temos uma coisa maravilhosa chamada “tasca” ou “tasco”, restaurante de bairro, o que lhe quiserem chamar. Aqueles sítios onde a comida ainda sabe a casa, ao antigamente, que nos fazem viajar pelos sabores da nossa infância, cozinhados pelas nossas mães ou avós. Chamam-lhe cozinha honesta, comida de tacho ou de conforto. Repletas de adereços tão tipicamente nossos, com referências ao futebol, piadas sobre os amigos e a vida em forma de azulejos, loiças de barro ou inox e toalhas de papel.

É um hábito que se vai perdendo, porque os proprietários vão ficando mais velhos e não há ninguém na família que queira pegar naquilo. Os filhos foram ensinados que bom é ser doutor ou engenheiro e muitos já vão perdendo a apetência do palato para sabores caseiros e tradicionais, preferindo espumas e reconstruções de pratos com nomes muito mais pomposos mas nem com metade do sabor. Muito se vai perdendo da nossa cultura e do nosso país com o encerramento destes espaços que nos aquecem a alma e o estômago. Há quem tenha a ideia de que uma tasca é uma coisa pouco higiénica e com produtos duvidosos o que na maioria dos casos não podia estar mais longe da verdade. São forjadas no meio de muito amor pelo que se faz, pelos produtos da terra e pelo gosto em servir e conversar com quem por ali passa, dizia-me o senhor João, na Imperial de Campo de Ourique.

São as doses “que dão para dois”, a conversa sobre o jogo de ontem à noite e os galhardetes orgulhosamente pendurados na parede. Os ovos cozidos na vitrine, o arroz doce ou leite creme queimado ao momento, a mousse “que não é Alsa” e os bitoques com ovo a cavalo. Por ali ainda se lavam as mãos num lavatório na sala e a conta muitas das vezes ainda é feita na própria da toalha de papel. O couvert é composto por azeitonas e pão caseiro e existem sempre sempre os deliciosos pratos do dia que são normalmente pratos típicos portugueses que acompanham com arroz “desenhado” por uma forma ou com batata frita caseira. Não pode também faltar o vinho da casa, aliás o jarrinho de vinho que “é muito bom” e ao qual não podemos fazer qualquer critica como se estivéssemos com isso a chamar nomes à mãe do proprietário.

Decidi por isso na semana passada começar um rali das tascas que me vai levar a muitas das ainda existentes em Lisboa, algumas que já conhecia outras sugeridas por amigos e das quais quero deixar aqui boa nota nas próximas crónicas. Porque comer também é partilhar e habitualmente quando queremos ir almoçar ou jantar a qualquer lado ou não nos lembramos de nada ou vamos sempre aos mesmos sítios. Quem nunca? Este é um trabalho um pouco egoísta eu sei, porque vou escrever sobre o que mais gosto de comer, experimentando os sítios e não “porque ouvi dizer que…”. Se não servir para mais nada pelo menos que as dicas vos despertem a curiosidade… e vos abram o apetite!

Os portugueses adoram comer fora. Quem trabalhou noutro país (sobretudo os mais desenvolvidos) sabe que existe muito o hábito de se almoçar o que se traz de casa, numa copa ou cozinha improvisada ou vai-se a um qualquer fast food, primeiro porque não existe oferta dentro de uma boa relação qualidade/preço e depois porque muitos não têm uma gastronomia típica como a nossa. Nós por cá temos uma coisa maravilhosa chamada “tasca” ou “tasco”, restaurante de bairro, o que lhe quiserem chamar. Aqueles sítios onde a comida ainda sabe a casa, ao antigamente, que nos fazem viajar pelos sabores da nossa infância, cozinhados pelas nossas mães ou avós. Chamam-lhe cozinha honesta, comida de tacho ou de conforto. Repletas de adereços tão tipicamente nossos, com referências ao futebol, piadas sobre os amigos e a vida em forma de azulejos, loiças de barro ou inox e toalhas de papel.

É um hábito que se vai perdendo, porque os proprietários vão ficando mais velhos e não há ninguém na família que queira pegar naquilo. Os filhos foram ensinados que bom é ser doutor ou engenheiro e muitos já vão perdendo a apetência do palato para sabores caseiros e tradicionais, preferindo espumas e reconstruções de pratos com nomes muito mais pomposos mas nem com metade do sabor. Muito se vai perdendo da nossa cultura e do nosso país com o encerramento destes espaços que nos aquecem a alma e o estômago. Há quem tenha a ideia de que uma tasca é uma coisa pouco higiénica e com produtos duvidosos o que na maioria dos casos não podia estar mais longe da verdade. São forjadas no meio de muito amor pelo que se faz, pelos produtos da terra e pelo gosto em servir e conversar com quem por ali passa, dizia-me o senhor João, na Imperial de Campo de Ourique.

São as doses “que dão para dois”, a conversa sobre o jogo de ontem à noite e os galhardetes orgulhosamente pendurados na parede. Os ovos cozidos na vitrine, o arroz doce ou leite creme queimado ao momento, a mousse “que não é Alsa” e os bitoques com ovo a cavalo. Por ali ainda se lavam as mãos num lavatório na sala e a conta muitas das vezes ainda é feita na própria da toalha de papel. O couvert é composto por azeitonas e pão caseiro e existem sempre sempre os deliciosos pratos do dia que são normalmente pratos típicos portugueses que acompanham com arroz “desenhado” por uma forma ou com batata frita caseira. Não pode também faltar o vinho da casa, aliás o jarrinho de vinho que “é muito bom” e ao qual não podemos fazer qualquer critica como se estivéssemos com isso a chamar nomes à mãe do proprietário.

Decidi por isso na semana passada começar um rali das tascas que me vai levar a muitas das ainda existentes em Lisboa, algumas que já conhecia outras sugeridas por amigos e das quais quero deixar aqui boa nota nas próximas crónicas. Porque comer também é partilhar e habitualmente quando queremos ir almoçar ou jantar a qualquer lado ou não nos lembramos de nada ou vamos sempre aos mesmos sítios. Quem nunca? Este é um trabalho um pouco egoísta eu sei, porque vou escrever sobre o que mais gosto de comer, experimentando os sítios e não “porque ouvi dizer que…”. Se não servir para mais nada pelo menos que as dicas vos despertem a curiosidade… e vos abram o apetite!

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06.02.2024

Rali das Tascas

Aqueles sítios onde a comida ainda sabe a casa, ao antigamente, que nos fazem viajar pelos sabores da nossa infância, cozinhados pelas nossas mães ou avós.

Os portugueses adoram comer fora. Quem trabalhou noutro país (sobretudo os mais desenvolvidos) sabe que existe muito o hábito de se almoçar o que se traz de casa, numa copa ou cozinha improvisada ou vai-se a um qualquer fast food, primeiro porque não existe oferta dentro de uma boa relação qualidade/preço e depois porque muitos não têm uma gastronomia típica como a nossa. Nós por cá temos uma coisa maravilhosa chamada “tasca” ou “tasco”, restaurante de bairro, o que lhe quiserem chamar. Aqueles sítios onde a comida ainda sabe a casa, ao antigamente, que nos fazem viajar pelos sabores da nossa infância, cozinhados pelas nossas mães ou avós. Chamam-lhe cozinha honesta, comida de tacho ou de conforto. Repletas de adereços tão tipicamente nossos, com referências ao futebol, piadas sobre os amigos e a vida em forma de azulejos, loiças de barro ou inox e toalhas de papel.

É um hábito que se vai perdendo, porque os proprietários vão ficando mais velhos e não há ninguém na família que queira pegar naquilo. Os filhos foram ensinados que bom é ser doutor ou engenheiro e muitos já vão perdendo a apetência do palato para sabores caseiros e tradicionais, preferindo espumas e reconstruções de pratos com nomes muito mais pomposos mas nem com metade do sabor. Muito se vai perdendo da nossa cultura e do nosso país com o encerramento destes espaços que nos aquecem a alma e o estômago. Há quem tenha a ideia de que uma tasca é uma coisa pouco higiénica e com produtos duvidosos o que na maioria dos casos não podia estar mais longe da verdade. São forjadas no meio de muito amor pelo que se faz, pelos produtos da terra e pelo gosto em servir e conversar com quem por ali passa, dizia-me o senhor João, na Imperial de Campo de Ourique.

São as doses “que dão para dois”, a conversa sobre o jogo de ontem à noite e os galhardetes orgulhosamente pendurados na parede. Os ovos cozidos na vitrine, o arroz doce ou leite creme queimado ao momento, a mousse “que não é Alsa” e os bitoques com ovo a cavalo. Por ali ainda se lavam as mãos num lavatório na sala e a conta muitas das vezes ainda é feita na própria da toalha de papel. O couvert é composto por azeitonas e pão caseiro e existem sempre sempre........

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