A política como profissão

A política como profissão

Sónia Leal Martins 24/11/2023 15:46

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Verifica-se um afastamento cada vez maior da atividade política ativa dos políticos com profissão e há cada vez menos pessoas disponíveis para trilharem o percurso notável de políticos profissionais.

Max Weber, um dos fundadores da sociologia moderna, proferiu em 1919 uma Conferência sobre “A Política como vocação”, uma reflexão que se mantém atual e pertinente.

Na atividade político partidária coexistem e são especialmente relevantes três classes de indivíduos – políticos com profissão, políticos profissionais e profissionais da política.

Os políticos com profissão são pessoas com uma formação e carreira profissional autónoma, prestigiada e respeitada pelos seus pares que, sendo militantes de um partido político se disponibilizam para o exercício de cargos partidários e públicos em áreas da sua competência. Incluem-se neste conjunto, gestores, advogados, médicos, etc., com curriculum académico e profissional reconhecido nestes domínios e que, por razões de coerência ideológica e sentido de serviço público integram a atividade política em determinados períodos da sua vida profissional, na maioria dos casos com prejuízos materiais significativos já que auferem na sua atividade profissional fora da área pública valores significativamente superiores.

Os políticos profissionais são aqueles que decidem construir uma carreira competente, dedicada e estruturada no âmbito da atividade política. Para tal, adquirem uma formação académica de base adequada, nos domínios sociais e políticos, melhoram permanentemente os seus conhecimentos intelectuais em áreas complementares e estruturam uma carreira profissional pública, nacional e internacional na área política. Tornam-se dirigentes políticos partidários competentes, muito bem preparados tecnicamente e capazes de exercerem a atividade política com os mais elevados padrões de qualidade e eficiência.

Por último, os profissionais da política, são aqueles que vivem da atividade política partidária, e que, por conseguinte, dependem profissionalmente da situação em que o partido se encontra e do seu próprio posicionamento dentro do partido. São «partido-dependentes» sendo frequentemente apelidados por “indivíduos do aparelho”.

São fundamentais para manterem as “máquinas” partidárias – Comissões Políticas Nacionais, Distritais, Concelhias, Secções Locais, Secções Profissionais, etc. – e para a mobilização em campanhas eleitorais, sendo posteriormente recompensados com a atribuição de lugares públicos quando o partido assume o poder. Por norma, a formação académica é escassa, o curriculum profissional insuficiente e raramente obtém o reconhecimento dos seus pares.

Em todos os partidos democráticos ocidentais, que têm os seus militantes anónimos, generosos e desinteressados coexistem, dum modo equilibrado, os três tipos de profissionais mencionados que, em certa medida, executam funções e tarefas distintas, pelo que o nosso país não é exceção.

A situação particular dos partidos portugueses que lideram o exercício do poder apresenta, no entanto, dois aspetos pouco recomendáveis.

O primeiro reside no “cocktail” das três tipologias com uma grande predominância dos elementos da classe dos profissionais da política em relação aos restantes. A diminuição, a prazo da qualidade intelectual e técnica da atividade política será, assim, inevitável.

O segundo reside no caos entre a primeira e a terceira categoria nas nomeações governamentais para lugares de direção de entidades públicas. Só se trata da nomeação de alguém do “aparelho” quando provém da terceira classificação, ou seja, quando se trata de um indivíduo sem qualificações académicas e curriculum profissional adequado para o exercício dos lugares em causa.

Finalmente e como consequência das duas preocupações anteriores, verifica-se um afastamento cada vez maior da atividade política ativa dos políticos com profissão e há cada vez menos pessoas disponíveis para trilharem o percurso notável de políticos profissionais.

Se esta tendência se mantiver, se continuarmos a desistir da atividade política séria e construtiva e se os movimentos de regeneração que surgiram recentemente se limitarem a organizar conferências e colóquios, a degradação da qualidade da nossa vida política será inevitável, e, como consequência direta, a degradação da vida económica e social do país. E é pena, porque não tinha de ser assim.

Um exemplo claro do que aqui escrevi é, entre muitos o do ex-ministro João Galamba, que apesar de todas as demonstrações da sua incapacidade e da falta de sentido de Estado resistiu até mais não em demitir-se. Demitiu-se, é verdade, mas regressou ao Parlamento. Esta atitude é demonstrativa da sua ausência enquanto profissional fora da política. Muitos destes governantes nunca conseguiram sequer uma oportunidade para trabalhar numa empresa privada.

Max Weber, um dos fundadores da sociologia moderna, proferiu em 1919 uma Conferência sobre “A Política como vocação”, uma reflexão que se mantém atual e pertinente.

Na atividade político partidária coexistem e são especialmente relevantes três classes de indivíduos – políticos com profissão, políticos profissionais e profissionais da política.

Os políticos com profissão são pessoas com uma formação e carreira profissional autónoma, prestigiada e respeitada pelos seus pares que, sendo militantes de um partido político se disponibilizam para o exercício de cargos partidários e públicos em áreas da sua competência. Incluem-se neste conjunto, gestores, advogados, médicos, etc., com curriculum académico e profissional reconhecido nestes domínios e que, por razões de coerência ideológica e sentido de serviço público integram a atividade política em determinados períodos da sua vida profissional, na maioria dos casos com prejuízos materiais significativos já que auferem na sua atividade profissional fora da área pública valores significativamente superiores.

Os políticos profissionais são aqueles que decidem construir uma carreira competente, dedicada e estruturada no âmbito da atividade política. Para tal, adquirem uma formação académica de base adequada, nos domínios sociais e políticos, melhoram permanentemente os seus conhecimentos intelectuais em áreas complementares e estruturam uma carreira profissional pública, nacional e internacional na área política. Tornam-se dirigentes políticos partidários competentes, muito bem preparados tecnicamente e capazes de exercerem a atividade política com os mais elevados padrões de qualidade e eficiência.

Por último, os profissionais da política, são aqueles que vivem da atividade política partidária, e que, por conseguinte, dependem profissionalmente da situação em que o partido se encontra e do seu próprio posicionamento dentro do partido. São «partido-dependentes» sendo frequentemente apelidados por “indivíduos do aparelho”.

São fundamentais para manterem as “máquinas” partidárias – Comissões Políticas Nacionais, Distritais, Concelhias, Secções Locais, Secções Profissionais, etc. – e para a mobilização em campanhas eleitorais, sendo posteriormente recompensados com a atribuição de lugares públicos quando o partido assume o poder. Por norma, a formação académica é escassa, o curriculum profissional insuficiente e raramente obtém o reconhecimento dos seus pares.

Em todos os partidos democráticos ocidentais, que têm os seus militantes anónimos, generosos e desinteressados coexistem, dum modo equilibrado, os três tipos de profissionais mencionados que, em certa medida, executam funções e tarefas distintas, pelo que o nosso país não é exceção.

A situação particular dos partidos portugueses que lideram o exercício do poder apresenta, no entanto, dois aspetos pouco recomendáveis.

O primeiro reside no “cocktail” das três tipologias com uma grande predominância dos elementos da classe dos profissionais da política em relação aos restantes. A diminuição, a prazo da qualidade intelectual e técnica da atividade política será, assim, inevitável.

O segundo reside no caos entre a primeira e a terceira categoria nas nomeações governamentais para lugares de direção de entidades públicas. Só se trata da nomeação de alguém do “aparelho” quando provém da terceira classificação, ou seja, quando se trata de um indivíduo sem qualificações académicas e curriculum profissional adequado para o exercício dos lugares em causa.

Finalmente e como consequência das duas preocupações anteriores, verifica-se um afastamento cada vez maior da atividade política ativa dos políticos com profissão e há cada vez menos pessoas disponíveis para trilharem o percurso notável de políticos profissionais.

Se esta tendência se mantiver, se continuarmos a desistir da atividade política séria e construtiva e se os movimentos de regeneração que surgiram recentemente se limitarem a organizar conferências e colóquios, a degradação da qualidade da nossa vida política será inevitável, e, como consequência direta, a degradação da vida económica e social do país. E é pena, porque não tinha de ser assim.

Um exemplo claro do que aqui escrevi é, entre muitos o do ex-ministro João Galamba, que apesar de todas as demonstrações da sua incapacidade e da falta de sentido de Estado resistiu até mais não em demitir-se. Demitiu-se, é verdade, mas regressou ao Parlamento. Esta atitude é demonstrativa da sua ausência enquanto profissional fora da política. Muitos destes governantes nunca conseguiram sequer uma oportunidade para trabalhar numa empresa privada.

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Max Weber, um dos fundadores da sociologia moderna, proferiu em 1919 uma Conferência sobre “A Política como vocação”, uma reflexão que se mantém atual e pertinente.

Na atividade político partidária coexistem e são especialmente relevantes três classes de indivíduos – políticos com profissão, políticos profissionais e profissionais da política.

Os políticos com profissão são pessoas com uma formação e carreira profissional autónoma, prestigiada e respeitada pelos seus pares que, sendo militantes de um partido político se disponibilizam para o exercício de cargos partidários e públicos em áreas da sua competência. Incluem-se neste conjunto, gestores, advogados, médicos, etc., com curriculum académico e profissional reconhecido nestes domínios e que, por razões de coerência ideológica e sentido de serviço público integram a atividade política em determinados períodos da sua vida profissional, na maioria dos casos com prejuízos materiais significativos já que auferem na sua atividade profissional fora da área pública valores significativamente superiores.

Os políticos profissionais são aqueles que decidem construir uma carreira competente, dedicada e estruturada no âmbito da atividade política. Para tal, adquirem uma formação académica de base adequada, nos domínios sociais e políticos, melhoram permanentemente os seus conhecimentos intelectuais em áreas complementares e estruturam uma carreira profissional pública, nacional e internacional na área política. Tornam-se dirigentes políticos partidários competentes, muito bem preparados tecnicamente e capazes de exercerem a atividade política com os mais elevados padrões de qualidade e eficiência.

Por último, os profissionais da política, são aqueles que vivem da atividade política partidária, e que, por conseguinte, dependem profissionalmente da situação em que o partido se encontra e do seu próprio posicionamento dentro do partido. São «partido-dependentes» sendo frequentemente apelidados........

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