O Novo Aeroporto de Lisboa – uma história com 55 anos

O Novo Aeroporto de Lisboa – uma história com 55 anos

Sónia Leal Martins 19/01/2024 15:03

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A localização do Novo Aeroporto de Lisboa é uma decisão importante e por isso tem vindo a ser ponderada e estudada, mas tem de ser tomada. Não temos tempo para continuar a avaliar e a estudar, é preciso decidir.

O Novo Aeroporto de Lisboa ainda não existe, mas tem muita história. Recuemos ao dia 8 de março de 1969 quando o Ministério das Comunicações cria o Gabinete do Novo Aeroporto e define a sua competência e constituição.

Podemos ler no Decreto-lei 48902, de 8 de março que “a possibilidade de adiar por mais alguns anos a resolução deste importante problema nacional foi devidamente ponderada. Impõe-se, portanto, enfrentar o problema rapidamente”.

Há 55 anos que o Aeroporto de Lisboa é um problema nacional que exige uma resolução rápida. Ora, uma resolução rápida é algo que é concretizado num curto espaço de tempo, tendo em conta a dimensão do que estamos a tratar – neste caso estamos perante um problema que poderá demorar 60 anos a resolver. Sim, já passaram 55 anos e não sabemos sequer a localização do novo Aeroporto.

O 25 de abril de 1974 adia este processo que volta a surgir em 1999, no governo de António Guterres, quando se veio apontar a Ota como a localização de excelência para o aeroporto de Lisboa – gastou-se qualquer coisa como 40 milhões de euros nos estudos para o aeroporto da Ota.

Mas esses já lá vão.

Mais tarde, com José Sócrates, voltamos a ter notícia de mais um estudo, desta vez a análise tem como objetivo comparar o estudo já existente da Ota com a opção de Alcochete, concluindo-se que o Campo de Tiro de Alcochete era economicamente mais vantajoso que a opção da Ota.

A boa gestão do governo Socialista levou José Sócrates, em 2011, a comunicar ao País que tinha chegado mais uma bancarrota e que íamos ser intervencionados pelo Fundo Monetário Internacional. A Troika recomendou que Portugal estudasse uma localização para o aeroporto numa das bases áreas da região de Lisboa, uma vez que seria uma solução economicamente mais vantajosa – surge então a hipótese da Base Aérea do Montijo. Mas, mais uma vez, a decisão da localização do Aeroporto ficou adiada.

Em 2016, a Autoridade Nacional de Aviação Civil encomenda à Roland Berger um “estudo sobre a validação de cenários de evolução da procura de tráfego e desenvolvimento da capacidade da infraestrutura aeroportuária de Lisboa. No documento podemos ler que, das soluções alternativas analisadas conclui-se que Portela + Montijo apresenta-se como a solução mais atrativa sendo viável pelo menos até 2050”.

Perante isto, toma-se uma decisão. Criar um grupo de trabalho constituído pelo Governo, Força Aérea, ANA e NAV que teve como objetivo analisar tudo o que se conhecia até à data sobre a nova localização do Aeroporto – o que resulta num memorando entre o Estado e a ANA. Este memorando, assinado em 2019, “contém o enquadramento do processo de negociação para o desenvolvimento da capacidade aeroportuária da região de Lisboa, através do aumento da capacidade do Aeroporto Humberto Delgado e da abertura de um novo aeroporto civil no Montijo”.

Parecia, finalmente, que tínhamos uma decisão, pese embora a contestação existente continuasse bem presente, uma vez que a opção Montijo apresentava muitas fragilidades de sustentabilidade ambiental. Mas não, não há decisão do Governo liderado por António Costa, e, em 2022, decide criar uma Comissão Técnica Independente (CTI) que tinha como principal objetivo estudar 5 hipóteses para a localização do Novo Aeroporto de Lisboa, que depois passaram a 9. Hipóteses não faltam, decisões é que não existem.

A CTI, em dezembro de 2023, apresenta o resultado do trabalho realizado e anuncia que Alcochete e Vendas Novas são as opções mais viáveis. Comparando as duas opções, Alcochete é a mais bem classificada por apresentar mais vantagens. Esta proposta não reúne consenso, como seria de esperar, e os promotores da localização do aeroporto em Santarém apresentam uma série de argumentos para contrariar os resultados apresentados pela CTI, que considerou a opção Santarém “inviável” devido a “problemas de navegação e à proximidade à Base Aérea de Monte Real”.

Mas ontem, afinal, Santarém pode voltar a jogo: Rosário Partidário, Presidente da Comissão, vem dizer que pode haver uma reavaliação caso se alterem as circunstâncias.

No espaço de um mês, passámos de ter um documento que apontava o caminho para a decisão da localização do aeroporto, para a possibilidade de mais um estudo, que viabilize Santarém.

E se depois disto, vierem os promotores do Montijo e Alcochete pedir uma reavaliação? Em que ficamos?

O erário público já despendeu de muitos milhões de euros em estudos e há muito que o Aeroporto Humberto Delgado atingiu o limite da sua capacidade, causando prejuízos sérios ao setor do Turismo.

A localização do Novo Aeroporto de Lisboa é uma decisão importante e, por isso, tem vindo a ser ponderada e estudada, mas tem de ser tomada. Não temos tempo para continuar a avaliar e a estudar, é preciso decidir.

O impacto de um aeroporto numa região é muito positivo e por isso, considero, não fosse eu uma cidadã da região de Setúbal, que a localização do novo aeroporto deve ficar neste distrito – a ciência assim o entende e a sustentabilidade financeira também.

Veremos se outros interesses se sobrepõem.

O Novo Aeroporto de Lisboa ainda não existe, mas tem muita história. Recuemos ao dia 8 de março de 1969 quando o Ministério das Comunicações cria o Gabinete do Novo Aeroporto e define a sua competência e constituição.

Podemos ler no Decreto-lei 48902, de 8 de março que “a possibilidade de adiar por mais alguns anos a resolução deste importante problema nacional foi devidamente ponderada. Impõe-se, portanto, enfrentar o problema rapidamente”.

Há 55 anos que o Aeroporto de Lisboa é um problema nacional que exige uma resolução rápida. Ora, uma resolução rápida é algo que é concretizado num curto espaço de tempo, tendo em conta a dimensão do que estamos a tratar – neste caso estamos perante um problema que poderá demorar 60 anos a resolver. Sim, já passaram 55 anos e não sabemos sequer a localização do novo Aeroporto.

O 25 de abril de 1974 adia este processo que volta a surgir em 1999, no governo de António Guterres, quando se veio apontar a Ota como a localização de excelência para o aeroporto de Lisboa – gastou-se qualquer coisa como 40 milhões de euros nos estudos para o aeroporto da Ota.

Mas esses já lá vão.

Mais tarde, com José Sócrates, voltamos a ter notícia de mais um estudo, desta vez a análise tem como objetivo comparar o estudo já existente da Ota com a opção de Alcochete, concluindo-se que o Campo de Tiro de Alcochete era economicamente mais vantajoso que a opção da Ota.

A boa gestão do governo Socialista levou José Sócrates, em 2011, a comunicar ao País que tinha chegado mais uma bancarrota e que íamos ser intervencionados pelo Fundo Monetário Internacional. A Troika recomendou que Portugal estudasse uma localização para o aeroporto numa das bases áreas da região de Lisboa, uma vez que seria uma solução economicamente mais vantajosa – surge então a hipótese da Base Aérea do Montijo. Mas, mais uma vez, a decisão da localização do Aeroporto ficou adiada.

Em 2016, a Autoridade Nacional de Aviação Civil encomenda à Roland Berger um “estudo sobre a validação de cenários de evolução da procura de tráfego e desenvolvimento da capacidade da infraestrutura aeroportuária de Lisboa. No documento podemos ler que, das soluções alternativas analisadas conclui-se que Portela + Montijo apresenta-se como a solução mais atrativa sendo viável pelo menos até 2050”.

Perante isto, toma-se uma decisão. Criar um grupo de trabalho constituído pelo Governo, Força Aérea, ANA e NAV que teve como objetivo analisar tudo o que se conhecia até à data sobre a nova localização do Aeroporto – o que resulta num memorando entre o Estado e a ANA. Este memorando, assinado em 2019, “contém o enquadramento do processo de negociação para o desenvolvimento da capacidade aeroportuária da região de Lisboa, através do aumento da capacidade do Aeroporto Humberto Delgado e da abertura de um novo aeroporto civil no Montijo”.

Parecia, finalmente, que tínhamos uma decisão, pese embora a contestação existente continuasse bem presente, uma vez que a opção Montijo apresentava muitas fragilidades de sustentabilidade ambiental. Mas não, não há decisão do Governo liderado por António Costa, e, em 2022, decide criar uma Comissão Técnica Independente (CTI) que tinha como principal objetivo estudar 5 hipóteses para a localização do Novo Aeroporto de Lisboa, que depois passaram a 9. Hipóteses não faltam, decisões é que não existem.

A CTI, em dezembro de 2023, apresenta o resultado do trabalho realizado e anuncia que Alcochete e Vendas Novas são as opções mais viáveis. Comparando as duas opções, Alcochete é a mais bem classificada por apresentar mais vantagens. Esta proposta não reúne consenso, como seria de esperar, e os promotores da localização do aeroporto em Santarém apresentam uma série de argumentos para contrariar os resultados apresentados pela CTI, que considerou a opção Santarém “inviável” devido a “problemas de navegação e à proximidade à Base Aérea de Monte Real”.

Mas ontem, afinal, Santarém pode voltar a jogo: Rosário Partidário, Presidente da Comissão, vem dizer que pode haver uma reavaliação caso se alterem as circunstâncias.

No espaço de um mês, passámos de ter um documento que apontava o caminho para a decisão da localização do aeroporto, para a possibilidade de mais um estudo, que viabilize Santarém.

E se depois disto, vierem os promotores do Montijo e Alcochete pedir uma reavaliação? Em que ficamos?

O erário público já despendeu de muitos milhões de euros em estudos e há muito que o Aeroporto Humberto Delgado atingiu o limite da sua capacidade, causando prejuízos sérios ao setor do Turismo.

A localização do Novo Aeroporto de Lisboa é uma decisão importante e, por isso, tem vindo a ser ponderada e estudada, mas tem de ser tomada. Não temos tempo para continuar a avaliar e a estudar, é preciso decidir.

O impacto de um aeroporto numa região é muito positivo e por isso, considero, não fosse eu uma cidadã da região de Setúbal, que a localização do novo aeroporto deve ficar neste distrito – a ciência assim o entende e a sustentabilidade financeira também.

Veremos se outros interesses se sobrepõem.

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Sónia Leal Martins 19/01/2024 15:03

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O Novo Aeroporto de Lisboa ainda não existe, mas tem muita história. Recuemos ao dia 8 de março de 1969 quando o Ministério das Comunicações cria o Gabinete do Novo Aeroporto e define a sua competência e constituição.

Podemos ler no Decreto-lei 48902, de 8 de março que “a possibilidade de adiar por mais alguns anos a resolução deste importante problema nacional foi devidamente ponderada. Impõe-se, portanto, enfrentar o problema rapidamente”.

Há 55 anos que o Aeroporto de Lisboa é um problema nacional que exige uma resolução rápida. Ora, uma resolução rápida é algo que é concretizado num curto espaço de tempo, tendo em conta a dimensão do que estamos a tratar – neste caso estamos perante um problema que poderá demorar 60 anos a resolver. Sim, já passaram 55 anos e não sabemos sequer a localização do novo Aeroporto.

O 25 de abril de 1974 adia este processo que volta a surgir em 1999, no governo de António Guterres, quando se veio apontar a Ota como a localização de excelência para o aeroporto de Lisboa – gastou-se qualquer coisa como 40 milhões de euros nos estudos para o aeroporto da Ota.

Mas esses já lá vão.

Mais tarde, com José Sócrates, voltamos a ter notícia de mais um estudo, desta vez a análise tem como objetivo comparar o estudo já existente da Ota com a opção de Alcochete, concluindo-se que o Campo de Tiro de Alcochete era economicamente mais vantajoso que a opção da Ota.

A boa gestão do governo Socialista levou José Sócrates, em 2011, a comunicar ao País que tinha chegado mais uma bancarrota e que íamos ser intervencionados pelo Fundo Monetário Internacional. A Troika recomendou que Portugal estudasse uma localização para o aeroporto numa das bases áreas da região de Lisboa, uma vez que seria uma solução economicamente mais vantajosa – surge então a hipótese da Base Aérea do Montijo. Mas, mais uma vez, a decisão da localização do Aeroporto ficou adiada.

Em 2016, a Autoridade Nacional de Aviação Civil encomenda à Roland Berger um “estudo sobre a validação de cenários de evolução da procura de tráfego e desenvolvimento da capacidade da infraestrutura aeroportuária de Lisboa. No........

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