O recente relatório do ‘Estado da Educação 2022’, divulgado na passada terça-feira pelo Conselho Nacional de Educação, corrobora o que há muito sabemos: temos uma classe docente envelhecida e alunos com crescentes dificuldades nas aprendizagens mais complexas.

Estes dois assuntos são praticamente um só. Um ensino desgastado e pouco atrativo, que não consegue acompanhar nem cativar as novas gerações, torna-se desinteressante para quem tenta ensinar e também para quem cada vez menos tem menos vontade de aprender.

Esta realidade leva a uma crescente desmotivação, colocando em causa a saúde mental e o bem-estar tanto dos professores como dos alunos, com sintomas de depressão e ansiedade crescentes, como se concluiu num estudo recente.

Dos dois lados da barricada, professores e alunos, confrontam-se diariamente com a dificuldade de lidar com um programa demasiado extenso, fragmentado, repetitivo, por vezes com conteúdos abstratos e bafientos e com pouca utilidade, deixando pouco espaço para a curiosidade, o pensamento livre e criativo. O método de ensino tradicional, de turmas às vezes com 30 alunos, sentados durante o dia inteiro a ouvir professores a fazer o seu melhor para transmitir a matéria que vem no programa, mata a vontade de aprender. E é assim que surgem os aluados, de que os professores tanto falam, os desmotivados e até alguns alunos ‘hiperativos’ e com ‘défices de atenção’. A Lua nunca esteve tão habitada! O que não é difícil de entender, porque a Lua de cada aluno está repleta de emoções, de atividades que fazem fora da escola, de amigos, de namoradas, de namorados, de brincadeiras, desafios, festas e projetos, que facilmente se impõem perante a passividade de algumas aulas.

Esta nova geração tem acesso à informação como nenhuma outra teve e está cheia de estímulos constantes e acesso a conteúdos incríveis, pelo que é difícil e não faz sentido que continue a ter uma atitude tão passiva nas aulas. Os alunos precisam de ser agentes ativos da sua aprendizagem, da procura de conhecimento, não para serem os alunos que levam as frases do livro coladas à testa para o exame, mas para passarem a ser aqueles que exploram ativamente e procuram a informação, que a interiorizam e integram. Que vão mais além. Que a expõem e apresentam de forma única e criativa, sem ser numa ficha de avaliação formatada e redutora. A genialidade nasce na diferença e na invenção e não numa linha de montagem. Neste sentido, os professores teriam a tarefa de espicaçar a curiosidade, de guiar, de apoiar, de ensinar e também de aprender e descobrir com os alunos. Para que o fosso entre ambos não fosse tão grande e para que se pudesse criar um trabalho de equipa em vez de uma crise entre duas gerações desmotivadas e cansadas. l

Psicóloga na ClinicaLab Rita de Botton
filipachasqueira@gmail.com

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Nunca a Lua esteve tão habitada

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05.03.2024

O recente relatório do ‘Estado da Educação 2022’, divulgado na passada terça-feira pelo Conselho Nacional de Educação, corrobora o que há muito sabemos: temos uma classe docente envelhecida e alunos com crescentes dificuldades nas aprendizagens mais complexas.

Estes dois assuntos são praticamente um só. Um ensino desgastado e pouco atrativo, que não consegue acompanhar nem cativar as novas gerações, torna-se desinteressante para quem tenta ensinar e também para quem cada vez menos tem menos vontade de aprender.

Esta realidade leva a uma crescente desmotivação, colocando em causa a saúde mental e o bem-estar tanto dos professores como dos alunos, com sintomas de depressão e ansiedade........

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