Há dez anos, José Sócrates foi preso por suspeitas de corrupção no caso Freeport. Pouco depois, escrevi que o seu ‘maior crime’ não seria esse mas sim a destruição da PT, a grande empresa portuguesa que, de um dia para o outro, perdeu todo o valor. E porquê? Essencialmente, porque se desfez do seu melhor negócio, a operadora Vivo, vendida aos espanhóis. A transação, apadrinhada por José Sócrates, só tinha uma explicação: salvar o Grupo Espírito Santo, que se debatia com uma grave crise financeira, e que, com a venda da Vivo, embolsava uns milhares de milhões de euros.

A PT acabou por ir por água-abaixo, com um prejuízo brutal para o Estado Português, e o sacrifício não serviu de nada, pois o Grupo Espírito Santo também viria a afundar-se.

Há dez anos escrevi que a imigração ia tornar-se um barril de pólvora – e que isso arrastaria o enorme crescimento da extrema-direita, lançando a Europa no caos. Num tempo em que a palavra ‘sustentável’ era usada a torto e a direito, tornava-se evidente que a migração em massa para a Europa era tudo menos sustentável.

Os choques culturais – diferenças de língua, de hábitos, de religião, de comportamento, de vestuário, de valores, etc. – iriam ser enormes, a rejeição seria inevitável, o racismo cresceria exponencialmente.

Em Portugal, por cada mil imigrantes que deixássemos entrar, viriam dez mil, e atrás destes viriam cem mil, e assim sucessivamente em progressão geométrica.

Nalguma altura haveria que dizer ‘basta’.

Assim, antes de se chegar aí, era preferível começar a controlar as entradas.

Isto era absolutamente evidente.

Mas quem o dizia era catalogado de xenófobo, racista, etc.

Há dez anos, escrevi que a tendência para a indiferenciação dos sexos, a ideia de que homens e mulheres são iguais em tudo, ia trazer graves problemas sociais. Contrariando a natureza, negando a biologia, a aplicação da ideia provocaria necessariamente ruturas.

Tudo se baseava num equívoco: confundir ‘igualdade de direitos’ com ‘igualdade biológica’.

Mulheres e homens – tendo biologias diferentes, características diferentes, necessidades diferentes – devem ser iguais em direitos.

Esta é a ideia certa.

A insistência na afirmação de que entre homens e mulheres não há diferenças nenhumas acabaria por funcionar como um boomerang, voltando-se contra quem a defendia.

Dez anos passados, tudo aquilo que escrevi se verificou. A imigração tornou-se um dos grandes problemas do Ocidente, levou ao crescimento da extrema-direita, e hoje os partidos do centro gritam «Ó tio, ó tio!», dizendo que vêm aí os fascistas. O que se passa em Portugal, com o crescimento do Chega, é só um exemplo.

Por outro lado, a indiferenciação dos sexos está a provocar os problemas que conhecemos, sendo alvo de chacota e alimentando anedotas brejeiras à volta das casas de banho mistas, atingindo o absurdo quando um concurso de beleza feminina elegeu um homem como miss Portugal.

Finalmente, Sócrates foi mesmo acusado de corrupção no processo de venda da PT, tendo-o feito alegadamente a pedido de Ricardo Salgado, e recebendo para o efeito chorudas luvas.

Perante tudo isto, que é objetivo, pergunto: como se explica que aquilo que para mim era evidente há dez anos ninguém na classe política tenha visto?

Serei um visionário e os políticos serão todos cegos?

A questão é outra.

O problema é que o debate político na Europa desde o fim da 2.ª guerra mundial foi sempre dominado pela esquerda – e a sociedade acobardou-se.

Como aquelas senhoras que têm medo de enfrentar as peixeiras, mesmo quando o peixe cheira mal, a direita foi cedendo nos seus princípios, com receio de ser enxovalhada pela esquerda.

Durante décadas, a palavra ‘direita’ não era vista como uma forma diferente de ver as coisas na política: era uma palavra odiosa.

Dizer que alguém era ‘de direita’ constituía um insulto.

Entre nós, ainda há dois anos o líder do PSD se dizia «de centro-esquerda»!

Tivemos, portanto, na Europa, durante muito tempo, uma esquerda atrevida e uma sociedade com medo de a enfrentar. O resultado está à vista. A imigração está a provocar graves ruturas, a extrema-direita cresceu muito e os partidos moderados caíram a pique. A ideologia de género é posta em causa por toda a parte e ajuda os partidos extremistas. Em Portugal, um juiz destituído de sentido da realidade atrapalhou o caso Marquês, e José Sócrates só agora vai ser julgado.

Esperemos que esta reviravolta judicial possa ter igual efeito noutras áreas, ajudando alguns políticos a tomarem consciência dos disparates que têm feito – e todos possamos voltar a olhar o país e o mundo de uma forma ‘normal’: controlando as fronteiras, chamando homem ao homem e mulher à mulher, e não aceitando que alguém que leva uma vida luxuosa possa ter o desplante de dizer que vive à custa de um amigo.

Era bom que nos deixássemos de fantasias e regressássemos à Terra.

jose.a.saraiva@nascerdosol.pt

QOSHE - Há dez anos - José António Saraiva
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Há dez anos

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04.02.2024

Há dez anos, José Sócrates foi preso por suspeitas de corrupção no caso Freeport. Pouco depois, escrevi que o seu ‘maior crime’ não seria esse mas sim a destruição da PT, a grande empresa portuguesa que, de um dia para o outro, perdeu todo o valor. E porquê? Essencialmente, porque se desfez do seu melhor negócio, a operadora Vivo, vendida aos espanhóis. A transação, apadrinhada por José Sócrates, só tinha uma explicação: salvar o Grupo Espírito Santo, que se debatia com uma grave crise financeira, e que, com a venda da Vivo, embolsava uns milhares de milhões de euros.

A PT acabou por ir por água-abaixo, com um prejuízo brutal para o Estado Português, e o sacrifício não serviu de nada, pois o Grupo Espírito Santo também viria a afundar-se.

Há dez anos escrevi que a imigração ia tornar-se um barril de pólvora – e que isso arrastaria o enorme crescimento da extrema-direita, lançando a Europa no caos. Num tempo em que a palavra ‘sustentável’ era usada a torto e a direito, tornava-se evidente que a migração em massa para a Europa era tudo menos sustentável.

Os choques culturais – diferenças de língua, de hábitos, de religião, de comportamento, de vestuário, de valores, etc. – iriam ser enormes, a rejeição seria inevitável,........

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