A guerra na Ucrânia, que já dura quase há dois anos, praticamente desapareceu do mapa informativo, embora se vá tendo alguma informação avulsa. Desde o início da invasão bárbara dos russos que não vemos imagens chocantes, se é que posso usar o termo, em comparação com o que vimos da Faixa de Gaza. Ainda há dias, uma voz equilibrada dizia na televisão que a Rússia destruiu já 55 hospitais, mas não vimos imagens como as que nos chegam do Médio Oriente.

A estratégia ucraniana é, seguramente, bem diferente da do Hamas, que começou por dar a informação que teriam morrido largas centenas de pessoas num ataque a um hospital, tendo o número diminuído ligeiramente com o passar dos dias. O Hamas usa os palestinianos como escudos humanos e pouco se importa que sejam 500 ou 10. Na sua bíblia, apenas consta a morte de mártires para escandalizar o mundo, ficando Israel como o mau da fita. A estratégia dos fundamentalistas do Hamas é tão diabólica que se dá ao luxo de dizer que libertaram duas mulheres por questões humanitárias – sim, estamos a falar dos que degolaram dezenas de pessoas com o mesmo à vontade com que nós bebemos uma bica a seguir ao almoço.

Tenho lido e visto muita coisa sobre o conflito, o último programa de Fareed Zakaria, o GPS, foi um deles, e, confesso, não vejo como algum dia se poderá resolver aquele conflito. De um lado, fanáticos que não aceitam o Estado de Israel e toda a cultura ocidental, e do outro um primeiro-ministro ligado à extrema-direita radical que também não quer reconhecer o direito à autodeterminação dos palestinianos. Como é óbvio, condeno os ataques de Israel a toda a Faixa de Gaza, mas, à semelhança do conflito da Ucrânia, não vejo como poderá ser resolvido sem Israel destruir o Hamas.

Parece evidente para muitas figuras moderadas que o ataque de Israel devia ser mais contido, mas será que algum dia, dessa forma, vão conseguir destruir homens que vivem escondidos nos mais de 500 quilómetros de túneis, muitos deles debaixo de infraestruturas como hospitais? Curiosamente, aqueles que dizem o disparate de que Israel está a levar a cabo o genocídio do povo palestiniano são os mesmos que defendem que a Ucrânia tem de acabar com a guerra… cedendo as suas repúblicas aos russos. Pode ser que o império do mal para essas pessoas, os EUA, consiga pôr alguma ordem na cabeça de Netanyahu, e se caminhe para dois Estados independentes, embora esse cenário não se vislumbre tão cedo. Entre os fundamentalistas do Hamas e os radicais ultraortodoxos não se adivinha nada de bom.

P. S. 1 Os patetas do politicamente correto ficaram indignados por a equipa de futebol feminina do Arsenal, em Inglaterra, só ter jogadoras brancas. Pensam e agem como aqueles que se indignaram por uma seleção francesa não ter nenhum branco. Agora o talento vê-se pela cor dos atletas?

P.S. 2. Não conheço a cultura nórdica em pormenor, mas há coisas que adoro. Num jogo de futebol, o ex-treinador da equipa da casa foi recebido com um enorme cartaz onde aparecia um enorme rato com cabeça de humano a ser enforcado, numa clara alusão ao técnico ‘traidor’. Resposta do homem em causa: «É preciso aceitar o facto de que há adeptos que não acham que a mudança foi correta. Acho que está tudo bem em fazerem isto desta maneira. É bom humor. Se o rato me descreve? Não, acho que não». E assim se acaba com uma polémica.

vitor.rainho@newsplex.pt

QOSHE - A diferença entre a Ucrânia e o Hamas - Vítor Rainho
menu_open
Columnists Actual . Favourites . Archive
We use cookies to provide some features and experiences in QOSHE

More information  .  Close
Aa Aa Aa
- A +

A diferença entre a Ucrânia e o Hamas

4 1
05.11.2023

A guerra na Ucrânia, que já dura quase há dois anos, praticamente desapareceu do mapa informativo, embora se vá tendo alguma informação avulsa. Desde o início da invasão bárbara dos russos que não vemos imagens chocantes, se é que posso usar o termo, em comparação com o que vimos da Faixa de Gaza. Ainda há dias, uma voz equilibrada dizia na televisão que a Rússia destruiu já 55 hospitais, mas não vimos imagens como as que nos chegam do Médio Oriente.

A estratégia ucraniana é, seguramente, bem diferente da do Hamas, que começou por dar a informação que teriam morrido largas centenas de pessoas num ataque a um hospital, tendo o número diminuído ligeiramente com o passar dos dias. O Hamas usa os palestinianos como escudos humanos e pouco se importa que sejam 500 ou 10. Na sua bíblia, apenas consta a morte de mártires para escandalizar o........

© Jornal SOL


Get it on Google Play