O apelo do agente Pedro Costa revela a força das redes sociais e de como estas substituem, cada vez mais, organizações sólidas e que ditavam leis. A PSP tem, salvo erro, 17 sindicatos que se foram canibalizando, contribuindo muitos para o descrédito dos mesmos. Esta semana, alguém me contava: “Já viu o que pode pensar um agente que tem a noite da Consoada combinada com a família, pois está de folga, e de repente é informado que tem de trabalhar nessa noite pois um delegado sindical ‘meteu’ um crédito sindical nesse dia, obrigando um colega a trabalhar por ele?”. Penso que a resposta é óbvia.

Talvez pelo desgaste de 17 sindicatos, as chamadas vozes inorgânicas ganham cada vez mais peso. Pedro Costa fez um apelo genuíno e na carta que escreveu aos colegas, extensiva aos da GNR e da Guarda Prisional, revelou as contas do que ganham e do que perdem com o facto de não protestarem. Rapidamente se formaram grupos no Telegram e no Whatsapp, sendo este mais restrito, e de onde saíram as ideias mais concretizáveis. Houve quem tivesse sugerido entregar as armas – em 1997 caiu o último comandante nacional oriundo do Exército por causa de um protesto desses – e houve quem tivesse avançado que se deviam barricar nas esquadras. Nada disso foi avante e alguém se lembrou que não pegar nos carros que não cumprem as regras do Código da Estrada seria a melhor medida. Independentemente do sucesso estrondoso da medida – tive acesso à lista de carros em situação irregular em Lisboa e no Porto e os números são assustadores – o que se torna evidente é que este movimento se vai espalhar às outras forças de segurança que vão querer igualdade de tratamento em relação à PJ, no que ao subsídio de risco diz respeito.

A situação da PSP, GNR, Guardas Prisionais e Forças Armadas bateu no fundo e agora chegou a hora da revolta. Como se sabe, a esquerda nunca simpatizou muito com a ‘bófia’ nem com a tropa, daí o desinvestimento. Agora, com o ‘protesto dos carros’ é natural que sejam obrigados a abrir os cordões à bolsa e olhem para o fenómeno com outros olhos, até porque o Chega surfa nesta onda com a mesma facilidade com que o Garret McNamara enfrenta as ondas da Nazaré.

Muitos só gritam pela polícia quando estão aflitos, pois nada simpatizam com eles. Esta semana falei com alguns agentes e oficiais da PSP que têm simpatia zero pelo Chega. Um deles, próximo do PCP, dizia-me que não percebe como é que o Governo – e os outros partidos – empurra os polícias para o partido de André Ventura, já que este é o único que está do seu lado, dizendo que lhes quer dar mais dinheiro, instalações com dignidade e por aí fora. Um oficial dizia-me que fica com urticária por perceber que os polícias só têm Ventura para os defender.

Faltam menos de dois meses para as eleições, e veremos como os partidos se irão colocar perante o desinvestimento nas forças de segurança e nas Forças Armadas. Percebe-se que o Governo está mais interessado em legislar sobre a entrada de trans e afins nas Forças Armadas do que resolver os verdadeiros problemas da instituição. Mas isso pode sair-lhes caro.

P. S. Em setembro, o Governo decidiu correr com a anterior direção nacional, naquilo que muitos consideraram um saneamento político. Magina da Silva e os seus pares bem podem dizer que ‘atrás de mim virá quem de mim bom fará’.

QOSHE - A esquerda não gosta da Polícia nem das FA’s - Vítor Rainho
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A esquerda não gosta da Polícia nem das FA’s

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14.01.2024

O apelo do agente Pedro Costa revela a força das redes sociais e de como estas substituem, cada vez mais, organizações sólidas e que ditavam leis. A PSP tem, salvo erro, 17 sindicatos que se foram canibalizando, contribuindo muitos para o descrédito dos mesmos. Esta semana, alguém me contava: “Já viu o que pode pensar um agente que tem a noite da Consoada combinada com a família, pois está de folga, e de repente é informado que tem de trabalhar nessa noite pois um delegado sindical ‘meteu’ um crédito sindical nesse dia, obrigando um colega a trabalhar por ele?”. Penso que a resposta é óbvia.

Talvez pelo desgaste de 17 sindicatos, as chamadas vozes inorgânicas ganham cada vez mais peso. Pedro Costa fez um apelo genuíno e na carta que escreveu aos colegas, extensiva aos da GNR e da Guarda Prisional, revelou as contas do que........

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