Há dias fiz uma viagem com velhos companheiros de luta e fizemos um exercício engraçado que nos ‘obrigava’ a dizer qual a personagem que nos leva a mudar de canal imediatamente após a sua aparição. Coincidimos em algumas, mas as divergências ideológicas separava-nos no resto. Mas todos concordámos que há jornalistas e comentadores que estão muito mal preparados e que estão em antena como se estivessem no café. Falando por mim, fico com os cabelos em pé com os disparates que têm sido ditos sobre os protestos dos polícias. Que o grupo do Corpo de Intervenção castigado pelo subintentende César Ponte vai mudar de instalações, quando todos estão na Calçada da Ajuda, havendo apenas um pequeno dispositivo em Belas, ‘quartel general’ da Unidade Especial de Polícia. Um subdiretor de um canal dizia com um ar feliz, ao discutir a razoabilidade dos protestos, que não sabia se o que estava em discussão era a equiparação ao subsídio de risco da PJ, outros falavam na possibilidade dos polícias recorrerem às autobaixas, um chorrilho de disparates inacreditáveis. Houve até quem tenha dito com grande assertividade que o valor máximo do subsídio de missão da PJ é de mil e poucos euros, quando na verdade Luís Neves leva mais dois mil euros para casa. Algo que os comandantes da PSP e GNR também levarão se as pretensões dos que estão em luta forem aceites.

Não consigo perceber a razão dos jornalistas não se informarem sobre aquilo que têm de falar, já que alguns comentadores – felizmente há excelentes exceções – dizem, muitas das vezes, banalidades absolutas com o ar mais empedernido do mundo. A televisão não devia ser o espelho do café, mas, muitas vezes, até parece que estamos na tasca dos Bigodes.

Nesta luta dos polícias, AntónioCosta e José Luís Carneiro aproveitaram um disparate do representante de um sindicato com pouca representatividade para caírem em cima dos protestos. É o que se chama chico-espertice, pois nenhum polícia no seu estado normal acredita que pode boicotar as eleições. Mas Costa e Carneiro estiveram bem calados à espera de algum deslize para dizerem de sua justiça. É triste, mas é a verdade.

A propósito do que se passou no Corpo de Intervenção – há quem diga que teve mão ministerial, não sei, pois não consegui confirmar –, não deixa de ser irónico que tenha sido o futebol a começar a colocar o povo contra os polícias. Tudo começou com o adiamento do Famalicão-Sporting e noBenfica-Gil Vicente um grupo do CI acabou por dizer que não se estava a sentir bem e foi tudo para o hospital. Depois disso, o Governo saltou para os jornais a exigir que as baixas médicas sejam analisadas. Haverá alguém em seu perfeito estado que ache que há um médico que vai desdizer um colega? «Mas como é que passaste uma baixa a um gajo que te disse que se estava a sentir mal? Tu és maluco? Ele não se estava a sentir mal, de certeza», poderá ser o diálogo entre o avaliador e o médico que viu os agentes.

Para terminar, deixo aqui o desabafo de um oficial a propósito da polémica com o futebol: «É a dimensão cultural do país: família, fado e futebol. Quando temos esquadras com a capacidade de resposta fragilizada ninguém se preocupa. Quando temos problemas ao nível das fronteiras e outros não há um problema. Quando um jogo não se realiza, cai o Carmo e a Trindade»

QOSHE - A impreparação dos jornalistas e dos comentadores - Vítor Rainho
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A impreparação dos jornalistas e dos comentadores

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10.02.2024

Há dias fiz uma viagem com velhos companheiros de luta e fizemos um exercício engraçado que nos ‘obrigava’ a dizer qual a personagem que nos leva a mudar de canal imediatamente após a sua aparição. Coincidimos em algumas, mas as divergências ideológicas separava-nos no resto. Mas todos concordámos que há jornalistas e comentadores que estão muito mal preparados e que estão em antena como se estivessem no café. Falando por mim, fico com os cabelos em pé com os disparates que têm sido ditos sobre os protestos dos polícias. Que o grupo do Corpo de Intervenção castigado pelo subintentende César Ponte vai mudar de instalações, quando todos estão na Calçada da Ajuda, havendo apenas um pequeno dispositivo em Belas, ‘quartel general’ da Unidade Especial de Polícia. Um subdiretor de um canal dizia com um ar feliz, ao........

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