Trabalho há muitos anos em jornais e sei bem que a atualidade informativa nem sempre é determinada pelo grau de importância dos factos, pois, por mais dura que seja a realidade, há uns que são mais mediáticos do que outros. Vem esta conversa a propósito de obituários, dando-se, por vezes, e não me estou a excluir, uma importância desmesurada a personagens que foram famosas por terem sido precisamente famosas. No domingo passado morreu um dos homens que mais fez pelos sem-abrigo e, ao que se saiba, nem o Presidente da República, nem o primeiro-ministro fizeram alguma nota de pesar sobre a morte de António Bento.

O homem que há mais de 20 anos criou as primeiras equipas interdisciplinares para o drama daqueles que vivem na rua, que conhecia um a um, que sempre disse que o maior problema dos sem-abrigo é do foro psiquiátrico, e que era preciso agilizar equipas para resolver o drama, morreu como viveu: discretamente, sem quase se dar por ele.

Há um mês e pouco tentámos entrevistá-lo para um dossiê sobre o tema, escusando-se delicadamente, apontando o nome de colegas que podiam falar sobre o assunto. Mas, mesmo assim, no jornal i escreveu um texto notável. Como não se punha em bicos de pés para aparecer, nem a uma nota oficial teve direito. Enfim, é o país que temos.
Mudando de assunto e falando de política. Parece-me que há dois candidatos que estão com o vento a soprar-lhes de feição: Pedro Nuno Santos e André Ventura. Quanto mais os atacam, mais eles ganham adeptos, não percebendo eu a obsessão do PSD em encostar o novo líder socialista à extrema-esquerda. Mas haverá alguém que não saiba o que é o secretário-geral do PS? O homem que não se lembrava de ter aceite uma indemnização milionária a uma administradora da TAP que, curiosamente, depois de abandonar a companhia aérea nacional foi nomeada para outro cargo público, de nomeação governamental?

Pedro Nuno Santos alimenta-se das críticas como o Popeye se agigantava depois de ingerir os espinafres. Quanto mais o encostam ao PCP e ao BE, mais o PS cresce e os outros descem. Já o líder do Chega tem a sorte de os socialistas tudo fazerem para tirarem votos ao PSD, dando gás a André Ventura. Quanto mais falam do papão da extrema-direita, mais o homem sobe nas sondagens, já que o PSD está a dormir há muito tempo. Veja-se o que Macron fez em França ou mesmo a União Europeia em relação aos migrantes. Sim, são precisos mas de uma forma controlada. Isto é: os que vierem têm de se adaptar às nossas leis e aos nossos costumes, à semelhança do que fazemos quando vamos para países islâmicos.

Permitir que venham todos, sem haver condições condignas para os acolher, é um disparate total. A Europa está velha e doente, e vai precisar de muitos milhões de migrantes, mas que saibamos para o que vêm e para onde. Para serem bem recebidos, mas também para nos respeitarem. Quem não percebe que isto não é um discurso de extrema-direita, que é apenas uma questão racional, verá os Andrés Venturas a subirem nas sondagens como uma flecha. Ou será que essas pessoas que acham que é racismo e xenofobia falar do assunto abrem as portas das suas casas a todos aqueles que vivem na rua?