Quando, a 3 de novembro do ano passado, o SOL fez manchete com uma entrevista do presidente do Supremo Tribunal de Justiça, foram muitos os que chamaram nomes ‘bonitos’ a Henrique Araújo por este ter dito que «a corrupção está instalada em Portugal». Os lacaios do poder logo trataram de fazer todas as conjeturas e ainda mais disseram quando rebentou a ‘Operação Influencer’. Hoje, três meses depois, alguém tem dúvidas que Henrique Araújo sabia do que falava? Que a corrupção, à esquerda e à direita, é uma realidade? Que nas malhas da Justiça vão aparecendo figuras de todos os quadrantes políticos? Quererá isto dizer que são todos corruptos? Claro que não, mas que os há, lá isso é verdade.

Também nessa entrevista, o presidente do Supremo Tribunal de Justiça afirmava que tinha deixado um caderno de reformas que muito melhorariam a Justiça, mas ninguém quis saber das propostas.

Manuel Soares, presidente da Associação Sindical dos Juízes, que tem vindo a alertar para os mesmos problemas, de uma Justiça lenta e ineficaz, também tem ficado a falar com as paredes. Vejam o artigo que escreveu esta semana no Público: em meia dúzia de carateres, Manuel Soares explica como se pode acabar com processos tão longos e que muitas vezes acabam por prescrever.

Tenho para mim que muitos políticos e muitos escritórios de advogados não querem melhorar o sistema pois é nesse limbo que vivem bem. Processos que duram eternidades, com recursos absurdos, que acabam muitas vezes prescritos. Em vésperas de eleições, alguém já chamou as duas figuras em questão, além de outras, para se dar um passo em frente neste forrobodó que é a nossa Justiça? Talvez queiram que tudo se mantenha na mesma, até para que advogados que interpuseram dezenas de recursos tenham a distinta lata de dizer que apenas fizeram um. A propósito, José Sócrates ainda não pensou recorrer para a lua? – a ideia podia ter sido sugerida por Manuel Soares…

Continuando na Justiça, há muitos anos que se fala do poder do líder dos Super Dragões, que mereceu até reportagem do New York Times, que quis ver como Fernando Madureira tinha criado uma modalidade nova, uma mistura de futebol e boxe no seu Canelas. Estou convencido que o líder da claque do FC_Porto e os seus capangas julgaram que eram imortais ou algo parecido. De certeza que se acharam acima da lei e que podiam fazer as suas próprias regras. O que se passou na Assembleia Geral do FC_Porto, em 13 de novembro de 2023, foi apenas um retrato do dia-a-dia de quem tinha a veleidade de os enfrentar. Ameaças de morte e agressões eram uma constante e se muitos árbitros quisessem contar o que sofreram ainda ficaríamos surpreendidos. Chega a ser curiosa a afirmação do comunicado da PSP a propósito da ‘Operação Pretoriano’. «A investigação iniciada no ano passado, na sequência dos factos ocorridos no dia 13 de novembro de 2023, aquando da realização da Assembleia Geral Extraordinária do Futebol Clube do Porto, determinou uma ação conjugada no sentido de devolver às instituições e aos cidadãos a sua liberdade de decisão e, promover ainda, que o sentimento de impunidade e insegurança seriam restaurados no âmbito desta realidade desportiva e não só». Mais palavras para quê?

vitor.rainho@newsplex.pt

QOSHE - Por que não se resolve o problema da Justiça? - Vítor Rainho
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Por que não se resolve o problema da Justiça?

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04.02.2024

Quando, a 3 de novembro do ano passado, o SOL fez manchete com uma entrevista do presidente do Supremo Tribunal de Justiça, foram muitos os que chamaram nomes ‘bonitos’ a Henrique Araújo por este ter dito que «a corrupção está instalada em Portugal». Os lacaios do poder logo trataram de fazer todas as conjeturas e ainda mais disseram quando rebentou a ‘Operação Influencer’. Hoje, três meses depois, alguém tem dúvidas que Henrique Araújo sabia do que falava? Que a corrupção, à esquerda e à direita, é uma realidade? Que nas malhas da Justiça vão aparecendo figuras de todos os quadrantes políticos? Quererá isto dizer que são todos corruptos? Claro que não, mas que os há, lá isso é verdade.

Também nessa entrevista, o presidente do Supremo Tribunal de Justiça afirmava que tinha deixado um........

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