No fundo, todos sabem que foi uma tontaria o que aconteceu no Parque Mayer, na segunda-feira, permitindo que o PS se faça de vítima num caso em que é o responsável pela contestação dos polícias por um subsídio de risco igual ao que foi atribuído à PJ, SIS e não só. Foi António Costa, que usa o seu silêncio como se fosse ouro, que provocou toda esta confusão, e que se recusa a admiti-lo. Mas António Costa tem um grande aliado no movimento INOP, que integra elementos que fazem parte da Plataforma – basta ver quais os sindicatos que Pedro Costa não critica -, e que foram para o Capitólio fazer barulho e incomodar uns jornalistas e comentadores com os seus apitos e bandeiras, mas não travaram, à saída, a marcha dos carros de Pedro Nuno Santos e Luís Montenegro, nem atiraram ovos ou tomates, como alguns temeram.

A luta entre os moderados e os radicais está ao rubro, mas parece que a Plataforma está a perder a mão no ‘conflito’, não se percebendo porque não parou mais cedo os seus protestos. Percebe-se que tenham tentado acalmar as hostes, mas era sabido que o Movimento INOP não iria parar, até porque há uma luta de egos e de poder. Muitas associações socioprofissionais que perderam o estatuto de sindicato, por falta de representatividade, encontraram nos excessos o seu cartão de visita e, como diz um agente que percebe do que fala, para eles «quanto pior, melhor». Repare-se também que os mais radicais são, por norma, homens que estão reformados ou na pré-aposentação.

Esta semana, quando preparava o texto sobre o conflito dos polícias, falei com um dirigente sindical que me explicava que se a Plataforma anunciasse tréguas até às eleições, muito provavelmente «a rapaziada dos movimentos inorgânicos não iria respeitar essa decisão». Bem dito, bem feito. E também me explicava que ao dar-se motivos para a população se virar contra a Polícia só se está a adiar a resolução do conflito, pois o futuro Governo terá argumentos para não negociar sob pressão.

Com esta brincadeira toda, deixou de se discutir um documento do Sindicato dos Oficiais da Polícia que praticamente passou despercebido, e que dá conta da situação caótica da PSP. Está envelhecida, não tem meios, debate-se com a falta de efetivos, os oficiais querem fugir para a PJ, a taxa de suicídio é quase o dobro comparado com a população portuguesa em geral, e que 32 polícias perderam a vida em serviço entre 2000 e 2022.

Muito mais foi dito nesse documento que o ministro da Administração Interna rebateu, no que aos investimentos diz respeito. Não satisfeitos com o que se passou no Capitólio, alguns agentes decidiram que não se deve dar tréguas até às eleições e que os protestos não podem parar enquanto as suas justas reivindicações não forem satisfeitas. Mas qual o sentido de isso? Alguém vai decidir alguma coisa enquanto não houver novo Governo? Esperemos que o bom senso impere e que os polícias não se comportem como os trogloditas da extrema-direita ou da extrema-esquerda.

P. S. A propósito de protestos, os adeptos de vários clubes de futebol alemães decidiram que não querem que as suas equipas sejam compradas por árabes e afins, leia-se capital estrangeiro, e nos jogos realizados atiravam milhares de bolas de ténis interrompendo as partidas. Foi o suficiente para a medida ser deitada ao lixo. Para se protestar não é preciso fazer chinfrim.

QOSHE - Quando os polícias dão trunfos aos políticos - Vítor Rainho
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Quando os polícias dão trunfos aos políticos

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24.02.2024

No fundo, todos sabem que foi uma tontaria o que aconteceu no Parque Mayer, na segunda-feira, permitindo que o PS se faça de vítima num caso em que é o responsável pela contestação dos polícias por um subsídio de risco igual ao que foi atribuído à PJ, SIS e não só. Foi António Costa, que usa o seu silêncio como se fosse ouro, que provocou toda esta confusão, e que se recusa a admiti-lo. Mas António Costa tem um grande aliado no movimento INOP, que integra elementos que fazem parte da Plataforma – basta ver quais os sindicatos que Pedro Costa não critica -, e que foram para o Capitólio fazer barulho e incomodar uns jornalistas e comentadores com os seus apitos e bandeiras, mas não travaram, à saída, a marcha dos carros de Pedro Nuno Santos e Luís Montenegro, nem atiraram ovos ou tomates, como alguns temeram.

A luta entre os........

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