Enquanto jornalista, já passei por muitas situações caricatas, algumas das quais não acabaram em vias de facto porque abomino violência, apesar dos interlocutores se terem chegado à frente, tal era a irritação com o tema em discussão. Fiz reportagens que me marcaram, nomeadamente quando passei três semanas no Casal Ventoso com as brigadas à civil da PSP do Calvário, e que tinham à frente o comissário João Rocha. Raro era o dia em que não víamos um cadáver, alguém que tinha injetado heroína a mais ou algum produto fatal.

Fiz notícias que me emocionaram, até pela pobreza das pessoas envolvidas, e não falo só de razões monetárias. Mas, tirando os temas dramáticos, houve dois ou três que me encanitaram pelo seu absurdo. Uma delas dizia respeito à obrigatoriedade dos espaços como cafés e leitarias serem obrigados a ter três casas de banho, sendo que uma seria para o uso exclusivo dos funcionários. A história era completamente bizarra, pois havia, e há, cafés que mal têm espaço para uma, sendo, seguramente, os precursores dos WC inclusivos, apesar do Governo de então não ligar a essas modernices.

Vem esta conversa a propósito de o atual Executivo pretender aprovar hoje um diploma que transforma as casas de banho das escolas – por agora é aqui, mas vai ser ali – em zonas mistas, podendo a rapaziada escolher a que bem entender. A parvoíce não tem limites, e a ideia só pode ter partido de alguém que vive noutro mundo. Não está em causa respeitar todos os géneros, bem pelo contrário, mas se as casas de banho não forem individuais, qual o sentido para uma rapariga estar a ver um mariolão a urinar no urinol? Ou será que vão acabar com tal adereço nos WC? É que se forem, calculo as filas intermináveis para as casas de banho inclusivas, além de todas as confusões que se vão gerar. Se querem espaços para aqueles que não se sentem bem no seu corpo ou que querem ser Manuel de dia e Maria à noite, então façam casas de banho para esses e deixem os outros em paz.

Repare-se que o Governo britânico prepara-se para acabar com as casas de banho inclusivas, por todos os inconvenientes registados desde que tal medida foi introduzida. Imagine-se que a nova ‘lei’ se alarga a todos os espaços públicos portugueses e a D. Albertina, de Trás-os-Montes, de 80 anos, vai ao Porto e tem de ir a uma casa de banho onde estão uns rapazes alarves, ou não. Isto faz algum sentido? Será que os deputados que têm ideias tão brilhantes conhecem alguma coisa que não sejam os bares do Príncipe Real, em Lisboa?

Mas este Governo é o espelho da tontaria, para não dizer outra coisa, no que diz respeito aos costumes e tradições. Qual a razão para terem substituído o símbolo da bandeira nacional dos documentos oficiais por um ‘boneco’ que qualquer estudante da quarta classe antiga podia fazer? Acabam com os castelos por representarem, em última instância, a vitória de D. Afonso Henriques sobre os mouros? Apagam a esfera armilar por significar as conquistas dos navegadores portugueses?

Nota-se que esta rapaziada tem vergonha da história do seu país e tudo fazem para a esconder. E se pudessem, seguramente, deitavam abaixo a Torre de Belém, os Jerónimos e por aí fora. Ganhem vergonha e não ponham as minorias, que têm de ser respeitadas, a mandar nas maiorias.

vitor.rainho@nascerdosol.pt

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Vergonha da bandeira e estupidez no WC

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09.12.2023

Enquanto jornalista, já passei por muitas situações caricatas, algumas das quais não acabaram em vias de facto porque abomino violência, apesar dos interlocutores se terem chegado à frente, tal era a irritação com o tema em discussão. Fiz reportagens que me marcaram, nomeadamente quando passei três semanas no Casal Ventoso com as brigadas à civil da PSP do Calvário, e que tinham à frente o comissário João Rocha. Raro era o dia em que não víamos um cadáver, alguém que tinha injetado heroína a mais ou algum produto fatal.

Fiz notícias que me emocionaram, até pela pobreza das pessoas envolvidas, e não falo só de razões monetárias. Mas, tirando os temas dramáticos, houve dois ou três que me encanitaram pelo seu absurdo. Uma delas dizia respeito à obrigatoriedade dos espaços como cafés e leitarias serem obrigados a........

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