Figura triste: Marcelo Rebelo de Sousa. Recentemente, Sua Excelência, o Presidente da República informou a nação que, segundo uma sondagem, a sua popularidade se mantém intacta. O alívio da população ouviu-se à distância. Muito mais do que, sei lá, o pandemónio na saúde pública ou a penúria em que progressivamente afocinham, o que afligia os portugueses era, sobretudo, a possibilidade de o prof. Marcelo ter caído em desgraça, no caso com o caso das gémeas brasileiras. Curiosamente, era também essa a única preocupação do próprio prof. Marcelo desde que entrou em Belém. O homem nunca quis ser presidente, tarefa para que aliás mostrou vasta impreparação e desconhecimento: o homem quis, e quer, ser popular. Logo em 2016 ficou claro que ali não há a sombra de um estadista, e sim um artista de variedades emocionalmente dependente dos humores da audiência. Em 2023, deixou sair o dr. Costa quando imaginou que o apoio ao governo poderia beliscá-lo (a ele, o prof. Marcelo) – isto depois de amparar o governo em toda a sorte de loucuras, algumas inconstitucionais, porque calculara que isso o beneficiaria (a ele, o prof. Marcelo). O prof. Marcelo é o assunto exclusivo do prof. Marcelo.

Indecente e má figura: António Costa. Sou dos que acham absurdo o dr. Costa se ter demitido em 2023 por causa de um comunicado da PGR, suspeitas de tráfico de influências e 75 mil euros em notas no gabinete ao lado do seu. Nos oito anos anteriores houvera razões de sobra para o sujeito cair (metaforicamente, vá lá), desde a tragédia de Pedrógão, em 2017, à gestão primitiva e autoritária da Covid, em 2020 e 2021, para não falar da TAP, do SNS, da Justiça, da Educação e, por exemplo, dos srs. Galamba e Cabrita. E isto descontando a trapaça que o levou ao poder em 2015 e, para os menos atentos, lhe definiu o carácter. Em debate de 2014, António José Seguro já o definira. Não serviu de aviso. Para muitos eleitores, a julgar pelas eleições subsequentes, até serviu de estímulo: por cá, a ausência de escrúpulos e de vergonha parece dar votos. Um dia, o dr. Costa congratulou-se pelo aumento de famílias necessitadas de “prestações sociais” (leia-se o aumento da pobreza) e nem uma alminha protestou seriamente a afronta. O país mereceu-o.

Figura de corpo presente: Luís Montenegro. Há exactamente um ano, estava o governo a esfarelar-se em demissões e demais vergonhas típicas da Bolívia, o dr. Montenegro aparecia às vezes a pedir contenção e, raramente, uma ou duas remodelações. Mas não aparecia muito. O dr. Montenegro, em teoria o líder da oposição, na prática não quer incomodar. Principalmente não parece querer governar. De resto, ele tem sido o primeiro a inventariar as situações em que não governará. São várias e as únicas possíveis: o dr. Montenegro não aceita ser primeiro-ministro se perder as eleições e, mesmo que as vença, se precisar do Chega para a maioria parlamentar. Ou seja, o dr. Montenegro só será primeiro-ministro se houver um milagre. Lembro que o adversário do dr. Montenegro nas “legislativas” é alguém desejoso de se aliar a apoiantes da Venezuela, da Rússia e do Hamas, além de que não enjeitaria um pacto de incidência parlamentar com os canibais da ilha Sentinela. Pelo menos no que toca à ambição, a luta é desigual.

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2023: as figuras do ano

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30.12.2023

Figura triste: Marcelo Rebelo de Sousa. Recentemente, Sua Excelência, o Presidente da República informou a nação que, segundo uma sondagem, a sua popularidade se mantém intacta. O alívio da população ouviu-se à distância. Muito mais do que, sei lá, o pandemónio na saúde pública ou a penúria em que progressivamente afocinham, o que afligia os portugueses era, sobretudo, a possibilidade de o prof. Marcelo ter caído em desgraça, no caso com o caso das gémeas brasileiras. Curiosamente, era também essa a única preocupação do próprio prof. Marcelo desde que entrou em Belém. O homem nunca quis ser presidente, tarefa para que aliás mostrou vasta impreparação e desconhecimento: o homem quis, e quer, ser popular. Logo em 2016 ficou claro que ali não há a sombra de um estadista, e sim um artista de variedades emocionalmente dependente dos humores da audiência. Em 2023, deixou sair o dr. Costa quando........

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