Hoje é o meu último dia como colunista do Observador. O primeiro foi num distante 19 de Maio de 2014, também o dia de lançamento do jornal. Recordo o entusiasmo com que então aceitei o convite para ser uma pequena parte de um projecto jornalístico inovador e arrojado. Desde então, o Observador trilhou o seu caminho de sucessos e, para mim, foi um privilégio ter feito parte da viagem. A 3 meses de se assinalar o 10.º aniversário do Observador, saio orgulhoso e agradecido por esta também ter sido a minha casa durante (quase) uma década.

Nos últimos anos, assistiu-se a uma acelerada degradação do debate público. A tendência é internacional — o ar do nosso tempo revelou-se inflamável e permeável a ressentimentos que fragmentam o tecido social. Por isso, o trabalho de quem está nos jornais ficou (ainda) mais difícil, inclusive para quem comenta actualidade e escreve opinião semanalmente. Não é só a responsabilidade de desconstruir discursos simplistas ou de contribuir com um argumento novo e pertinente para a torrente de discussões. É, também, resistir à tentação da polarização, apontar às evidências, convencer que os factos importam e valem mais do que narrativas, mostrar que entre o tudo e o nada subsistem caminhos possíveis. É, sobretudo, trazer exigência argumentativa para o debate, mas fazê-lo sob a serenidade e o bom-senso que contribuem para o diálogo democrático, infelizmente cada vez mais sujeito a histerismos. Uma das lições que os leitores me ensinaram nestes anos foi que, entre o ruído mediático, há uma ampla maioria de pessoas disponível para ler/ ouvir e que respeita a complexidade dos desafios sociais e políticos.

Por essa razão, começo por lhes agradecer a eles: obrigado a todos os leitores que me acompanharam. Os que me leram regularmente e os que me leram por acidente, os que concordaram comigo e os que discordaram ferozmente, os que elogiaram e os que criticaram, os que tive o privilégio de contactar e os que permaneceram silenciosamente anónimos. Encarei sempre o respeito por quem me lia como um dever reforçado de expor ideias e argumentos de forma séria, sustentada e construtiva. Não tenho a pretensão de ter sido sempre bem-sucedido — o calor do debate por vezes também nos queima e aceito que tenha a minha quota de artigos falhados —, mas espero que os leitores não se sintam defraudados.

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22.02.2024

Hoje é o meu último dia como colunista do Observador. O primeiro foi num distante 19 de Maio de 2014, também o dia de lançamento do jornal. Recordo o entusiasmo com que então aceitei o convite para ser uma pequena parte de um projecto jornalístico inovador e arrojado. Desde então, o Observador trilhou o seu caminho de sucessos e, para mim, foi um privilégio ter feito parte da viagem. A 3 meses de se assinalar o 10.º aniversário do Observador, saio orgulhoso e agradecido por esta também ter sido a minha casa durante (quase) uma década.

Nos últimos anos, assistiu-se a uma acelerada degradação do debate público. A tendência é internacional — o ar do........

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