O PS apostou no Chega para tirar votos ao PSD e estigmatizar a Iniciativa Liberal. No entanto, as últimas sondagens mostram uma descida acentuada do PS, a estagnação do PSD e as subidas da Iniciativa Liberal e do Chega, com este último à beira dos 40 deputados. Ora, se o Chega sobe e o PSD mantém a votação onde é o que primeiro está a ir buscar votos? A resposta só pode ser ao PS. Os socialistas alimentaram o papão do Chega para dividir a direita e estão ser vítimas dessa estratégia. É irónico, mas tem uma explicação simples.
O processo revolucionário que decorreu entre os 25 de Abril de ’74 e o 25 de Novembro de ’75 alterou significativamente o país. De uma ditadura passámos para uma democracia; de um império com 500 anos virámo-nos para a Europa. Mas num aspecto pouco mudou: o Estado continuou a ser o único garante da estabilidade social. Não me refiro às funções essenciais do Estado, de soberania e de administração do território, mas ao objectivo de bem-estar social que continua a depender do Estado, logo dos governos. Das empresas, primeiro públicas e depois campeãs nacionais ou estratégicas, às instituições, fundações e associações que proliferam por aí e aos inúmeros empregos públicos que o Estado criou com o intuito de pagar salários e, desse modo, retirar as pessoas da pobreza. O resultado foi o país continuar demasiado dependente do poder político para quase tudo e a autonomia social que tanto se desejava não ter acontecido.
O Partido Socialista foi o primeiro a perceber esta realidade. E logo desde 1995 que procurou retirar vantagens disso. Como? Se o garante de bem-estar social é o Estado, só o PS poderia ser a garantia que o Estado seria esse garante. O PS passou a ser o Estado e o Estado passou a ser o PS. O resultado é que os socialistas estão no governo desde então, fora breves intervalos. E isso sucedeu porque a maioria do eleitorado compreendeu que o seu bem-estar social imediato dependia da manutenção do PS no poder. O PS não cortou salários na função pública, o PS não cortou pensões, o PS não cortou as ligações entre o Estado e determinadas empresas, o PS não reduziu a despesa pública, o PS não quis ouvir falar de reforma do Estado. O PS tem sido a garantia que tudo fica igual tal como Salazar era a garantia que nada mudava para bem da estabilidade social. Para quê mexer no que funciona agora, quando a melhoria é futura e incerta? Até 1974 a pergunta foi: para quê uma democracia se a maioria tem o que precisa? Até agora tem sido: para quê tirar de lá o PS se a maioria tem o que precisa?
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