Uma economia a derrapar, um governo paralisado e impossível de remodelar, um ex-ministro desse mesmo governo todas as semanas na televisão a questionar o primeiro-ministro, um presidente da república ferido no seu orgulho e os serviços públicos num caos. Estavam reunidas as condições para que o futuro político de António Costa se reduzisse a um mero arrastar no tempo. O tempo, esse, que nos faz crer que a reacção de Costa não terá sido tão intempestiva quanto pareceu. Foi rápida, certo. Mas preparada, com certeza.

Foi da inconsistência do seu governo que António Costa se libertou. É verdade que, após as graves intromissões políticas na administração de uma empresa pública como a TAP, a mera suspeição de mais um caso a pairar sobre alguns ministros e o seu chefe de gabinete seriam motivos mais do que suficientes para a demissão imediata do primeiro-ministro. Até porque o próprio tinha colado o seu destino político a João Galamba, que foi constituído arguido. Só por estes factos a sua demissão seria o desfecho mais natural.

No entanto, António Costa quis aproveitar o momento. É possível que desde a Primavera pensasse num pretexto para sair. Só não podia ser por iniciativa do Presidente ou derivado do mal-estar social. O ideal é que fosse por uma razão exterior ao mundo político. Assim, pegou num parágrafo do comunicado da Procuradoria-Geral da República para se justificar. E se vitimizar. Ao sair, com o pretexto dessa dúvida que paira sobre a sua honorabilidade, visa criar condições para se redimir. A sua saída terá sido impulsiva porque honesta. Esta já é a narrativa que se conta por aí. Com esta acção pretende condições para se apresentar à corrida a Belém, em 2026, libertar-se de um governo moribundo, obrigar Pedro Nuno Santos a largar a televisão e vir a jogo, exonerar o PS da crise económica e responsabilizar o Ministério Público (e o Presidente da República) pela crise política. Ao fechar a porta para se ir embora, e enquanto deitava uma última vista de olhos ao que restava, ainda se lembrou de Mário Centeno e entalou-o.

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O talentoso Sr. Costa

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19.11.2023

Uma economia a derrapar, um governo paralisado e impossível de remodelar, um ex-ministro desse mesmo governo todas as semanas na televisão a questionar o primeiro-ministro, um presidente da república ferido no seu orgulho e os serviços públicos num caos. Estavam reunidas as condições para que o futuro político de António Costa se reduzisse a um mero arrastar no tempo. O tempo, esse, que nos faz crer que a reacção de Costa não terá sido tão intempestiva quanto pareceu. Foi rápida, certo. Mas preparada, com certeza.

Foi da inconsistência do seu governo que António Costa se libertou. É verdade........

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