A magistral obra de Vitorino Nemésio “Mau Tempo no Canal” relembra uma forma única de descrever a idiossincrasia açoriana. Hoje, e após as eleições regionais, essa realidade trouxe lições únicas para todos os partidos políticos, e de forma especial para os do espaço do centro- direita.

Começo pela Iniciativa Liberal que esteve na iniciativa destas eleições antecipadas. Por muito que tenha subido umas centenas de votos, mantém-se sem importância nas diferentes ilhas (foi salva pelo círculo de compensação) e tornou-se totalmente irrelevante no plano das opções políticas. Eu que sempre defendi que o partido se deveria enquadrar numa coligação nacional com PSD e CDS, e por muito que me custe, não posso deixar de assinalar que a inconstância e inconsequência políticas não são premiadas pelo eleitorado. Esta crise apenas serviu para demonstrar a falta de utilidade de voto num partido sem voz e relevância quanto ao futuro político nacional. Talvez as boas pretações nos debates televisivos possa ajudar a reverter um pouco essa situação estratégica muito dificil.

Já quanto à AD, que aproveitou a noite eleitoral para responsabilizar PS e Chega em matéria de potencial instabilidade, e se apresentar como um polo seguro de governação, não pode desperdiçar a oportunidade para, desde já, fazer o discurso da inutilidade do voto nestes partidos. Se não vejamos.

Destas eleições surgiu uma realidade: os partidos do centro-direita somaram 44,3% (AD e IL), os de esquerda 39%, (PS, BE e CDU) e a direita radical 9% (Chega). Apesar das diferenças existentes, estes resultados enquadraram uma realidade – confirmada também em várias sondagens nacionais – de impossibilidade de uma futura maioria “geringonça”. Diria até que nesse aglomerado de votos, à esquerda, as tendências relativas de distribuição interna estão já muito marcadas, como de certa forma tem sido notório nos debates ja realizados.

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O mesmo não acontece à direita (e utilizo aqui a tese dos blocos trazida para a realidade política por António Costa). O seu tamanho total estará próximo de estar definido, mas a sua distribuição está bem longe da concretização.

E aí não pode haver qualquer dúvida quanto ao discurso. Vai ser preciso relembrar ao eleitorado do Chega que a defesa dos seus objetivos cairá em saco roto se a AD não vencer as eleições. No atual cenário, não vale a pena votar num partido de mero protesto. É preciso votar em quem realisticamente pode alterar a realidade da governação. Por todas essas razões um voto no Chega é um voto no PS e na continuidade do atual poder.

Mas sobretudo é preciso deixar um aviso ao eleitorado de centro-esquerda, isto é, aquele que tem optado pelo PS. Como também se viu nas eleições regionais dos Açores, quanto mais forte for a direita moderada, mais irrelevante será a direita mais extremista. A única hipótese de um Governo moderado livre de radicalismos está na AD e na sua força. Para isso tem de vencer as eleições, de uma forma livre de acordos e cedências. Para isso terá de obter mais força eleitoral. É essa a receita que afasta o Chega de qualquer pretensão ao poder. Por esse motivo, o voto no PS beneficia o Chega.

Por outras palavras, para se vencer eleições vai ser necessário combater e desmascarar os aliados estratégicos de lados opostos. Isso terá de ser dito e trabalhado. Qualquer tentativa de deixar este discurso para os últimos dias corre o risco de deixar o eleitorado em águas demasiado calmas. A AD vai ter de ser clara no discurso para os dois companheiros estratégicos: um PS, dominado pela sua fação esquerda, e um Chega, dominado pelo discurso radical. Nesta nova fórmula política de três polos, deve estar no meio dos dois lados extremados da política e ganhar o centro, isto é, o lugar obrigatório da vitória.

A receita até parece simples, agora é necessária a sua execução.

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Ganhar o centro: lições açorianas e dos debates

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16.02.2024

A magistral obra de Vitorino Nemésio “Mau Tempo no Canal” relembra uma forma única de descrever a idiossincrasia açoriana. Hoje, e após as eleições regionais, essa realidade trouxe lições únicas para todos os partidos políticos, e de forma especial para os do espaço do centro- direita.

Começo pela Iniciativa Liberal que esteve na iniciativa destas eleições antecipadas. Por muito que tenha subido umas centenas de votos, mantém-se sem importância nas diferentes ilhas (foi salva pelo círculo de compensação) e tornou-se totalmente irrelevante no plano das opções políticas. Eu que sempre defendi que o partido se deveria enquadrar numa coligação nacional com PSD e CDS, e por muito que me custe, não posso deixar de assinalar que a inconstância e inconsequência políticas não são premiadas pelo eleitorado. Esta crise apenas serviu para demonstrar a falta de utilidade de voto num partido sem voz e relevância quanto ao futuro político nacional. Talvez as boas pretações nos debates........

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