Se pensarmos bem, o que se passou em Portugal em 2023 é de uma enorme irresponsabilidade política. E será ainda maior se perdermos fundos do PRR e a economia, em vez do previsto abrandamento, entrar em recessão. O desprezo pelos cidadãos a quem o Estado presta cada vez piores serviços públicos, com um Governo a contentar-se a distribuir cheques, é, esperemos, o epílogo de uma trajetória em que a forma se sobrepôs ao conteúdo, em que a politiquice venceu as políticas, em que a compra e infantilização dos eleitores condenou a exigência, a responsabilização e o pensamento crítico. E, apesar das eleições, nada nos garante que existam condições para fazer diferente. Quem quiser e puder viver numa sociedade mais exigente pode estar condenado a emigrar.

O PS deu-se ao luxo de desperdiçar uma maioria absoluta com recursos financeiros como nunca o país teve e um controlo do aparelho do Estado como nunca se viu em democracia. Apenas a justiça lhe sai (ainda) do controlo o que, por muitas asneiras que faça, é a válvula de escape que resta, num regime em que o aparelho socialista se tornou no novo Dono Disto Tudo. Como têm dito vários analistas políticos, o PS precisa de uma cura de oposição. Mas essa cura, a acontecer, vai sair-nos cara. Porque quem chegar ao poder vai confrontar-se com muito contra-vapor de um Estado capturado pelos socialistas.

O problema não está em Pedro Nuno Santos como líder do PS. O problema está no partido em que boa parte do PS se transformou, rentista do Estado, perseguidor dos críticos, sem ideias nem capacidade de servir os cidadãos, pensando apenas nas suas pequenas carreiras e com muita conversa de Estado Social que é mais o género “coitadinhos dos pobrezinhos”. Contrariamente ao que se possa antecipar, Pedro Nuno Santos seria, com elevada probabilidade, um primeiro-ministro com uma agenda transformadora e mais liberal do que intervencionista.

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A queda do Governo ou o cisne negro de 2023

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19.12.2023

Se pensarmos bem, o que se passou em Portugal em 2023 é de uma enorme irresponsabilidade política. E será ainda maior se perdermos fundos do PRR e a economia, em vez do previsto abrandamento, entrar em recessão. O desprezo pelos cidadãos a quem o Estado presta cada vez piores serviços públicos, com um Governo a contentar-se a distribuir cheques, é, esperemos, o epílogo de uma trajetória em que a forma se sobrepôs ao conteúdo, em que a politiquice venceu as políticas, em que a compra e infantilização dos eleitores condenou a exigência, a responsabilização........

© Observador


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