Já todos vimos esta cena no cinema. Passa-se num restaurante, ou num avião, ou num lobby de hotel, onde uma pessoa tem um AVC, um ataque epiléptico ou engasga-se com um rebuçado. Nisto, alguém grita: “Há algum médico aqui?” e aparece um doutor à paisana para salvar o dia. Num filme americano é um cliché. Num filme português é ficção científica. Em Portugal não há médicos de folga. Por que raio haveria um médico de estar num restaurante ou numa avião? Estão todos a trabalhar, normalmente no 4º ou 5º turno seguido. Mais depressa alguém responde a: “Há algum extraterrestre aqui?”

No caso inverosímil de haver por ali um médico, só se for maluquinho é que o admite em público. Nunca se sabe se não está alguém do Governo por perto. Rapidamente o arrebanha e a leva à força para fazer um banco de urgências.

Se fizessem um remake da Canção de Lisboa, desta vez a personagem do Vasco Santana não seria o estudante boémio e cábula a fingir às tias que já é médico. Para ser credível, tinha de ser um já formado obstetra a fazer de conta que é um fadista estroina. A esconder o diploma para não envergonhar a família. As tias a perguntarem: “Ó Vasquinho, é impressão minha ou fizeste um curativo àquela moça?” E diz o Vasquinho: “Eu? Que ideia, Titi! Estava a dizer um galanteio e a prometer-lhe uma serenata”. “Ah!”, diz a velha. “Assim, sim! Só me faltava que estivesses a praticar medicina. Pior, só se soubesses o que é o esternocleidomastóideo”.

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Médicos Sem Limites

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07.11.2023

Já todos vimos esta cena no cinema. Passa-se num restaurante, ou num avião, ou num lobby de hotel, onde uma pessoa tem um AVC, um ataque epiléptico ou engasga-se com um rebuçado. Nisto, alguém grita: “Há algum médico aqui?” e aparece um doutor à paisana para salvar o dia. Num filme americano é um cliché. Num filme português é ficção científica. Em Portugal não há médicos de folga. Por que raio haveria um médico de estar num restaurante ou numa avião?........

© Observador


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