O primeiro mês do novo Governo tem sido uma desilusão. Durante a campanha, a AD prometeu um grande aumento de rendimentos para os eleitores, mas até agora tem-nos dado muito pouco. Era suposto sentirmos um alívio fiscal, mas afinal está tudo na mesma. O que fizeram é meramente simbólico, não tem impacto real. É alívio no sentido em que uma mãe dá um beijinho no braço partido da criança para aliviar o dói-dói. Trata-se de uma reforma fiscal placebo. No máximo, homeopatia tributária. Até agora, a grande mexida nos impostos é a transformação do IRS, que passa a ser IR aos ésses: em política fiscal o Governo faz lembrar um ébrio que ameaça ir numa direcção, cambaleia para outra, mas acaba por se estatelar e ficar no mesmo sítio.

É como naquelas conversas telefónicas em que um alguém se queixa de não estar a ouvir bem e o interlocutor, sem fazer nenhuma acção para remediar a qualidade da chamada, se limita a ir perguntando “E agora? Está melhor? E agora?”, até a situação normalizar por si. O Primeiro-Ministro não está a fazer nada, continua tudo na mesma, mas ele pergunta: “E agora? Está melhor?”

Luís Montenegro comporta-se como o noivo que fez o pedido de casamento com um estupendo anel de diamantes, mas no dia seguinte à boda retira-o à mulher e devolve-o à joalheria. Diz que é para o mandar apertar, mas a noiva nunca mais vai pôr os olhos na jóia. Não se pode dizer que estejamos impressionados. O Governo e os portugueses não vivem uma lua de mel, vivem uma lua de meh.

(Nesta bem esgalhada metáfora matrimonial, a oposição faz o papel daquela amiga que, quando viu o cachucho, disse à noiva para ter cuidado porque o noivo era um gastador; agora, diz à recém-casada para ter cuidado porque o marido é um unhas-de-fome).

Reconheço que estou a ser duro para um Governo que ainda agora tomou posse. Sei que há quem critique a minha postura. “Eh, pá, o Governo ainda devia poder desfrutar do estado de graça!” Mas é justamente esse o problema. O Governo está a abusar do estado de graça: todas as medidas que apresenta são de graça, não gasta dinheiro com os cidadãos. Parece as pessoas que oferecem brindes que vêm com as revistas como presentes de Natal.

Cortar impostos que não se pagam é uma medida irrelevante. No fundo, é o tipo de acção que se espera do alfaiate na história do Rei que vai nu. Pode fazer muitas provas no fato, mas são arranjos em nada. O Governo está a anunciar que subiu a bainha numas calças que não se vêem. Se a chico-espertice pagasse imposto, apesar das proclamações do Governo, Montenegro ia continuar a pagar a mesma taxa que se pagava antes.

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Montenegro e Portugal em lua de meh

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23.04.2024

O primeiro mês do novo Governo tem sido uma desilusão. Durante a campanha, a AD prometeu um grande aumento de rendimentos para os eleitores, mas até agora tem-nos dado muito pouco. Era suposto sentirmos um alívio fiscal, mas afinal está tudo na mesma. O que fizeram é meramente simbólico, não tem impacto real. É alívio no sentido em que uma mãe dá um beijinho no braço partido da criança para aliviar o dói-dói. Trata-se de uma reforma fiscal placebo. No máximo, homeopatia tributária. Até agora, a grande mexida nos impostos é a transformação do IRS, que passa a ser IR aos ésses: em política fiscal o Governo faz lembrar um ébrio que ameaça ir numa direcção, cambaleia para........

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