Na semana passada, enquanto anunciava a sua candidatura à liderança do PS, Pedro Nuno Santos divulgou que era neto de um sapateiro. Mais do que uma curiosidade, a revelação tem um objectivo político de contrabalançar a fama de PNS ser herdeiro de um abastado industrial do Norte. Sim, Pedro Nuno acelerava no Maserati do papá, mas com sapatos remendados pelo próprio avô.
No fundo, PNS deseja usufruir da muito na moda superioridade moral da penúria. Nos dias de hoje, é muito raro haver uma figura pública que não sinalize a virtude de, algures na árvore genealógica, sobressair um pobre. Um antepassado pobre é o antigo antepassado nobre. Em termos de notoriedade, o avoengo de sangue azul foi substituído pelo avoengo todo azul, por causa do frio que passava. A família com brasão passa a família que nem braseiro tinha. A aristocracia deu lugar à miseristocracia.
As dificuldades passadas por um familiar há três gerações são sofridas pela descendência actual, mesmo que tenha uma confortável existência de classe média. Isso granjeia prestígio social e um lugar elevado na escala da opressão.
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