Chamem-lhe II Guerra Fria, ou III Guerra Mundial. Pouco importa o nome. O que importa é que já começou, e tem duas frentes acesas, na Ucrânia e em Israel. Ao fazer esta aproximação, haverá quem me diga: mas a Ucrânia combate no seu território; Israel combate no território do inimigo. Sim, a relação de forças no terreno, entre outras coisas, é diferente. Mas a história é a mesma: dois Estados cuja existência é negada por vizinhos poderosos, e que agora enfrentam guerras iniciadas por esses vizinhos. No caso da Ucrânia, é a Rússia que acha que o Estado ucraniano não devia existir; no caso de Israel, foram no passado todos os Estados árabes e é hoje o Irão e os seus exércitos satélites no Líbano, na Síria, em Gaza e no Iémen.

Alguns dos argumentos da Rússia contra a Ucrânia e do Irão contra Israel são específicos, mas há um que é comum: a Ucrânia e Israel são aliados do Ocidente, o que para Putin e os ayatollahs quer dizer “agentes do imperialismo americano”. A propaganda contra a Ucrânia e Israel é também parecida. Ambos são acusados de “genocídio”: a Ucrânia dos falantes de russo, e Israel dos árabes nos territórios outrora atribuídos ao Estado árabe da Palestina. Ambos são ainda, segundo as regras da velha agitprop soviética, tratados como “nazis” e Israel também como “colonialista”.

Está em causa a existência da Ucrânia e de Israel, mas está sobretudo em causa a sua opção de serem democracias liberais aliadas do Ocidente. A Rússia e o Irão fazem parte, com a China, de um eixo de potências que contestam a ordem mundial assente no predomínio do Ocidente e dos seus valores. Por isso, estão alinhadas contra a Ucrânia e contra Israel, apesar do esforço do governo de Israel para apaziguar Putin. A sua arma principal não são os mísseis e os drones, mas a manipulação das opiniões públicas ocidentais. Têm aliados fortes para isso no Ocidente: o esquerdismo, que domina universidades e meios de comunicação; o islamismo extremista, que ajuda a encher ruas em Londres; e o sentimento de culpa imperial, que faz demasiada gente desprevenida imaginar que o mundo seria um paraíso sem os EUA e a UE.

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Israel e Ucrânia: a mesma guerra

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15.12.2023

Chamem-lhe II Guerra Fria, ou III Guerra Mundial. Pouco importa o nome. O que importa é que já começou, e tem duas frentes acesas, na Ucrânia e em Israel. Ao fazer esta aproximação, haverá quem me diga: mas a Ucrânia combate no seu território; Israel combate no território do inimigo. Sim, a relação de forças no terreno, entre outras coisas, é diferente. Mas a história é a mesma: dois Estados cuja existência é negada por vizinhos poderosos, e que agora enfrentam guerras iniciadas por esses vizinhos. No caso da Ucrânia, é a Rússia que acha que o Estado ucraniano não devia existir; no caso de Israel, foram no passado........

© Observador


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