Algures entre as muitas e variadas leituras que se farão sobre os resultados das eleições de dia 10, encontra-se um dado difícil de ignorar: mais de meio milhão de portugueses que não votaram nas anteriores eleições decidiram fazê-lo agora e maioritariamente na direita e na extrema-direita. Se foi um voto de protesto, de irreverência, antissistema ou até de iliteracia política – hipótese que se coloca quanto ao ADN – teremos tempo para analisar. Importa reter agora que entre eles estavam muitos jovens.

Um número significativo de jovens voltou às urnas (ou decidiu fazê-lo pela primeira vez) e este é um dado que nenhum partido pode ignorar. Estudos recentes indicam que a Iniciativa Liberal, o Livre e o Chega são os partidos mais escolhidos pelo eleitorado jovem e o Partido Socialista o que colhe menos preferências nestas faixas etárias.

Neste quadro, cabe ao PS iniciar um novo caminho: não só apostar na recuperação da confiança dos que perdeu, mas também ir buscar os jovens que se abstiveram ou que não encontram no partido respostas para os seus problemas, mas que têm mostrado interesse em participar na vida cívica através de vias não convencionais, como a assinatura de petições, o boicote a produtos por motivos políticos ou a participação em ações de rua apartidárias.

O PS tem de perceber como pode falar para esse eleitorado aparentemente perdido nas urnas e nesse sentido há dois pontos importantes e decisivos: as oportunidades profissionais disponíveis para esse eleitorado e o custo de vida que impossibilita um elevador social para a esmagadora maioria e não apenas para uma pequena excecional minoria.

À semelhança da resposta a muitas outras manifestações na Europa no final do séc. XX, espelhadas hoje silenciosamente nas ruas, mas bem audíveis em muitas outras plataformas, aliás instrumentais para o resultado do Chega, o PS precisa de se renovar sob uma liderança forte e unida, mas de olhos postos no futuro, na confiança e na resposta aos problemas concretos dos jovens. Se este não é o tempo da tática política, este deve ser o tempo de uma nova tática de comunicação.

Um partido que aposta nos jovens é um partido que comunica com eles e que lhes transmite de forma muito objetiva como é que propostas de liberdade, igualdade e justiça melhoram as suas vidas.

Reconhecer a derrota, com humildade, analisar os resultados, interpretar os sinais de descontentamento, ir ao encontro dos mais jovens – falar com e para eles – é, por isso, o trabalho que se impõe.

E, para isso, é também importante encontrar os melhores interlocutores, algo que não aconteceu nestas eleições: dos 226 deputados eleitos (ainda sem contabilizar os votos da emigração) apenas oito têm idades inferiores a 30 anos. Ainda vamos a tempo de corrigir a tendência. Haja vontade, coragem e (mais) juventude nos centros de decisão política. O eleitorado mostrou estar disponível para votar... Talvez seja hora de os partidos tradicionais também estarem disponíveis para os convencer. Com ou sem quotas, mas com muita vontade de transformar o país.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

QOSHE - Portugal, o PS e os jovens - Bruno Gonçalves
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Portugal, o PS e os jovens

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17.03.2024

Algures entre as muitas e variadas leituras que se farão sobre os resultados das eleições de dia 10, encontra-se um dado difícil de ignorar: mais de meio milhão de portugueses que não votaram nas anteriores eleições decidiram fazê-lo agora e maioritariamente na direita e na extrema-direita. Se foi um voto de protesto, de irreverência, antissistema ou até de iliteracia política – hipótese que se coloca quanto ao ADN – teremos tempo para analisar. Importa reter agora que entre eles estavam muitos jovens.

Um número significativo de jovens voltou às urnas (ou decidiu fazê-lo pela primeira vez) e este é um dado que nenhum partido pode ignorar. Estudos recentes indicam que a Iniciativa Liberal, o Livre e o Chega são os partidos mais escolhidos pelo eleitorado........

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