Como a Renascença noticiou, Boris Pistorius, ministro da Defesa alemão, alertou para que a Aliança Atlântica deve assumir que, tendo em vista as ameaças já realizadas, a Rússia "poderá um dia atacar um país da NATO" e expandir o conflito que agora está limitado à Ucrânia.

B. Pistorius considera ser possível uma situação destas acontecer num "período entre cinco e oito anos". Pistorius disse, ainda, que pretende garantir que as forças armadas alemãs estejam "preparadas para a guerra" e, ao mesmo tempo, quer "despertar" a sociedade alemã quanto a esta situação.

Declarações destas não são populares, mas um político responsável não pode evitá-las. Há cerca de um século, e depois do grande trauma que foi a mortandade na I guerra mundial, em vários países europeus reinava um ambiente de negação, de afastar a possibilidade de uma nova guerra, porque isso agradava à tranquilidade das pessoas. Nessa altura, em várias das mais prestigiadas universidades britânicas foram solenemente proclamadas recusas de pegar em armas e de participar em eventuais conflitos militares.

Quem não se conformou com esta atitude foi Winston Churchill, que assistia, angustiado, aos atrasos no reequipamento das forças armadas do seu país, quando era manifesto que a Alemanha nazi se rearmava em força. Ora este espírito de não encarar os perigos que ameaçavam as democracias europeias culminou no desastroso acordo de Munique.

Em 1938, perante a ameaça de Hitler de tomar pela força uma parte da Checoslováquia (a região dos sudetas) onde viviam muitos alemães, o Reino Unido e a França promoveram uma reunião de emergência com a Alemanha, em Munique, para, alegaram eles, evitarem a guerra. Nesta reunião, onde também participou Mussolini – mas não a Checoslováquia! -, Hitler garantiu o controle não apenas da região dos sudetas como do resto da Checoslováquia. Hitler prometeu que esta seria a última reivindicação territorial da Alemanha.

O primeiro-ministro britânico Neville Chamberlain foi recebido como um herói no seu regresso ao Reino Unido. Entusiasmado, afirmou ele à multidão que em Munique tinha conseguido “peace for our time", paz para o nosso tempo. Respondeu-lhe depois Churchill: “Entre a desonra e a guerra, escolheste a desonra, e terás a guerra”.

Assim aconteceu. Em março de 1939, Hitler, desrespeitando o acordo de Munique, ordenou a invasão do resto da Checoslováquia e as tropas alemãs ocuparam Praga. Em setembro seguinte a Alemanha invadiu a Polónia, dando início à II guerra mundial.

No Reino Unido em 1940 W. Churchill foi chamado para chefiar o Governo – e para salvar o seu país e a Europa do nazismo.

Esta lição não pode ser esquecida hoje.

QOSHE - ​Lembrar Munique - Francisco Sarsfield Cabral
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​Lembrar Munique

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24.01.2024

Como a Renascença noticiou, Boris Pistorius, ministro da Defesa alemão, alertou para que a Aliança Atlântica deve assumir que, tendo em vista as ameaças já realizadas, a Rússia "poderá um dia atacar um país da NATO" e expandir o conflito que agora está limitado à Ucrânia.

B. Pistorius considera ser possível uma situação destas acontecer num "período entre cinco e oito anos". Pistorius disse, ainda, que pretende garantir que as forças armadas alemãs estejam "preparadas para a guerra" e, ao mesmo tempo, quer "despertar" a sociedade alemã quanto a esta situação.

Declarações destas não são populares, mas um político responsável não pode........

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