Desde janeiro que o país assiste a protestos dos polícias e de outras forças de segurança. A contestação tem a ver, como é sabido, com a Polícia Judiciária ter recebido um aumento salarial, tendo ficado de fora a PSP e a GNR, nomeadamente.

É consensual que foi um erro ter o Governo ignorado as outras forças de segurança. Também todos concordam ser necessário corrigir esse erro, estendendo, pelo menos à PSP e à GNR, um benefício semelhante. Mas o atual governo está em gestão, pelo que não pode assumir compromissos permanentes para o futuro, como tem sido repetido. Há que aguardar pelo futuro governo.

Os polícias e os guardas prosseguem, no entanto, os seus protestos. Dizem eles que o fazem para demonstrarem publicamente o seu descontentamento e colocarem a questão na agenda política.

Na passada segunda-feira um protesto marcado para o Terreiro do Paço afinal deslocou-se para junto do cineteatro Capitólio, no Parque Mayer, em Lisboa – onde iria decorrer um debate entre Pedro Nuno Santos e Luís Montenegro. Centenas de polícias, sem farda, praticamente cercaram o Capitólio, mas não impediram a passagem de pessoas, e gritaram palavras de ordem, a par de cantarem o hino nacional. Não houve distúrbios.

Esta pressão exercida sobre um evento importante da pré-campanha eleitoral mereceu justas palavras de repúdio de P. N. Santos, que assim iniciou da melhor maneira a sua intervenção no debate. A autoridade do Estado tinha sido posta em causa.

Entretanto a PSP informou que iria comunicar estes factos ao Ministério Público, porque só havia autorização para protesto no Terreiro do Paço, organizado pela plataforma que congrega sindicatos da PSP e associações da GNR. A Direção nacional da PSP abriu um inquérito.

A propósito desta manifestação não autorizada quanto ao local, o semanário Expresso lembrou a cena – há 35 anos – de polícias afastarem à mangueirada outros polícias em protesto. Este episódio, que ficou célebre como “secos e molhados”, não contribuiu para o prestígio dos polícias.

Duvido que a manifestação não autorizada junto ao Capitólio tenha ajudado os polícias e os guardas a subirem na consideração da opinião pública. O que é negativo para todos – para as justas reivindicações dos polícias e dos guardas e para a segurança dos cidadãos. Os que protestam devem ponderar como o fazem.

QOSHE - ​Os polícias e a opinião pública - Francisco Sarsfield Cabral
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​Os polícias e a opinião pública

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21.02.2024

Desde janeiro que o país assiste a protestos dos polícias e de outras forças de segurança. A contestação tem a ver, como é sabido, com a Polícia Judiciária ter recebido um aumento salarial, tendo ficado de fora a PSP e a GNR, nomeadamente.

É consensual que foi um erro ter o Governo ignorado as outras forças de segurança. Também todos concordam ser necessário corrigir esse erro, estendendo, pelo menos à PSP e à GNR, um benefício semelhante. Mas o atual governo está em gestão, pelo que não pode assumir compromissos permanentes para o futuro, como tem sido repetido. Há que........

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