Os empréstimos das famílias ao Estado “encolheram” 184 milhões de euros em Dezembro, informou o Banco de Portugal há dias. Não é uma surpresa, pois sabia-se que o acentuado corte na taxa de juro dos Certificados de Aforro, em junho, levara a uma onda de resgates. Também nos Certificados do Tesouro as saídas de dinheiro foram superiores às entradas.

Os bancos têm vindo a subir os juros que pagam pelos depósitos a prazo, depois de longos meses durante os quais a taxa de juro dos novos depósitos a prazo nos bancos que atuam em Portugal se manteve como a mais baixa da zona euro. Mas aqueles meses criaram uma má imagem da banca, que, dizia-se, tinha sido salva da bancarrota com dinheiro dos contribuintes portugueses, mas que se recusava a remunerar decentemente os seus depositantes.

Creio que foi um erro dos bancos não terem dado explicações públicas sobre essa aparente relutância em subir os juros dos depósitos. Tal falta de transparência permitiu, por outro lado, que na praça pública circulem fantasias sobre lucros “excessivos, astronómicos” dos bancos, levando políticos populistas a proporem novos impostos sobre lucros e comissões da banca.

Num artigo do jornal Público da passada segunda-feira Vítor Bento, presidente da Associação Portuguesa de Bancos, veio desfazer algumas fantasias sobre a dimensão dos lucros bancários. Aí se mostra, por exemplo, que a rendibilidade dos capitais próprios das empresas bancárias ficou, entre 2015 e 2022, bem abaixo da rendibilidade de grandes empresas em outros catorze sectores. Assim, “apesar dos ‘enormes lucros’, a rendibilidade da banca andou sempre abaixo do custo do capital”, que deve atrair para apoiar a economia.

Esclarecimentos deste tipo são úteis, mas serão porventura mais eficazes se surgirem quando se verificam certas situações. Por exemplo, quando os clientes da banca que não são especialistas financeiros têm dificuldade em entender a muito lenta subida dos juros bancários; e agora pode ser o valor das comissões.

QOSHE - ​Sobre juros e lucros da banca - Francisco Sarsfield Cabral
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​Sobre juros e lucros da banca

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26.01.2024

Os empréstimos das famílias ao Estado “encolheram” 184 milhões de euros em Dezembro, informou o Banco de Portugal há dias. Não é uma surpresa, pois sabia-se que o acentuado corte na taxa de juro dos Certificados de Aforro, em junho, levara a uma onda de resgates. Também nos Certificados do Tesouro as saídas de dinheiro foram superiores às entradas.

Os bancos têm vindo a subir os juros que pagam pelos depósitos a prazo, depois de longos meses durante os quais a taxa de juro dos novos........

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