A Moody`s subiu dois graus a notação (“rating”) da dívida soberana de Portugal. Estando a situação política nacional em fase de transição, não se sabendo que governo sairá das eleições de 10 de março, é uma medida positiva.

Os governos de A. Costa tiveram como prioridade não perturbar investidores estrangeiros que tenham comprado ou tencionem comprar dívida portuguesa. São as célebres “contas certas”. Julgo que essa posição deriva do imperativo de não repetir situações dramáticas como a que em 2011 trouxe ao nosso país a “troika” (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional), como única maneira de evitar a bancarrota.

Antes da crise ouvíamos o então primeiro ministro J. Sócrates explicar que as dívidas não são para pagar, mas para gerir. E Pedro Nuno Santos, hoje forte candidato a líder do PS, invetivava os credores, ameaçando-os de não pagar dívidas, o que poria as pernas dos banqueiros a tremerem de medo. Espera-se, hoje, que esta afirmação seja considerada por P. N. Santos como um dos seus erros.

A mudança para as “contas certas” permitiu ganhar a confiança dos investidores internacionais e limitar os juros da dívida portuguesa, pagos com dinheiro do bolso dos contribuintes.

Nada merecedor de aplauso foi o fraco empenho dos governos de A. Costa em dinamizar o crescimento económico português. "Somos a única economia europeia que investiu menos no século XXI do que investiu no século XX”, afirmou recentemente Augusto Mateus, um economista que conhece bem a realidade económica nacional.

Mateus lembrou que não há crescimento sem investimento. Ora entre nós regista-se uma “redução muito significativa do investimento público”. No Orçamento de Estado para 2024, que deverá ser aprovado no parlamento a 29 do corrente mês, o investimento público previsto deverá representar apenas 2% do PIB, contra os 3,7% anteriores à crise da dívida soberana de 2011.

Será desejável, por isso, que o próximo governo, seja ele qual for, não só mantenha o empenho dos executivos de A. Costa de manter a “contas certas”, como dê mais atenção ao crescimento económico e não deixe cair o investimento público, que precisa de ser dinamizado. É que um débil crescimento da economia arrisca-se, a médio prazo, a pôr em causa as “contas certas”. Aliás, sacrificar o investimento é sempre “contas erradas”.

QOSHE - Contas certas e erradas - Francisco Sarsfield Cabral
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Contas certas e erradas

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22.11.2023

A Moody`s subiu dois graus a notação (“rating”) da dívida soberana de Portugal. Estando a situação política nacional em fase de transição, não se sabendo que governo sairá das eleições de 10 de março, é uma medida positiva.

Os governos de A. Costa tiveram como prioridade não perturbar investidores estrangeiros que tenham comprado ou tencionem comprar dívida portuguesa. São as célebres “contas certas”. Julgo que essa posição deriva do imperativo de não repetir situações dramáticas como a que em 2011 trouxe ao nosso país a “troika” (Comissão Europeia, Banco Central........

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