Os mercados são um mecanismo muito útil para, entre outras finalidades, fixar preços de bens e serviços. Mas os mercados têm limites. Não faria sentido esperar que os mercados determinassem, por exemplo, os salários das forças armadas ou das forças de segurança.

E sabe-se como muitos agricultores têm um papel importante em evitar a desertificação do território. Ora esse contributo ecológico dos agricultores não conseguiria ser recompensado se apenas se atendesse ao mercado dos produtos que eles cultivam – a sociedade tem que pagar aquele benefício.

Naturalmente que, quando a retribuição de polícias ou de agricultores não decorre do mercado, entra em jogo a política. A democracia consagra o livre direito de expressão, bem como o direito de manifestação. Há quem negue a política e por isso nas autocracias não existem esses direitos e liberdades, ou são extremamente reduzidos.

Nas democracias também existem fundamentalistas do mercado, que apontam as incomodidades dos protestos de quem reivindica melhores condições de vida e de trabalho – greves e manifestações, por exemplo. Mas importa lembrar que essas incomodidades são um preço a pagar pela liberdade.

Esse é o grande desafio que os populistas tendem a ignorar. E é sempre mais fácil convencer as pessoas invocando prejuízos imediatos do que encarar a situação no seu conjunto, incluindo o longo prazo. Por isso se pode afirmar que o populismo é anti-político.

Para quem ainda viveu em Portugal antes do 25 de abril é fácil recordar como esse regime não democrático dizia mal da política, contrapondo-lhe mitos como a alegada eficácia da tecnocracia ou o carácter inatacável dos governantes. Será que 50 anos após o 25 de abril os portugueses se fartaram da política?

Devem os portugueses exigir um comportamento sério dos políticos. Mas seria uma ilusão pensar que, em ditadura, os políticos são alheios à corrupção. Só que se fala menos dela, porque os dirigentes das autocracias limitam a liberdade de expressão.

QOSHE - Limites dos mercados e política - Francisco Sarsfield Cabral
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Limites dos mercados e política

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29.01.2024

Os mercados são um mecanismo muito útil para, entre outras finalidades, fixar preços de bens e serviços. Mas os mercados têm limites. Não faria sentido esperar que os mercados determinassem, por exemplo, os salários das forças armadas ou das forças de segurança.

E sabe-se como muitos agricultores têm um papel importante em evitar a desertificação do território. Ora esse contributo ecológico dos agricultores não conseguiria ser recompensado se apenas se atendesse ao mercado dos produtos que eles........

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