A Comissão Técnica Independente apresentou no passado dia 5 as suas recomendações sobre a localização do futuro aeroporto de Lisboa. É uma questão que se discute há 55 anos.

O regime anterior ao 25 de abril, uma ditadura, não decidiu essa localização, apesar de as ditaduras não costumarem preocupar-se com consensos. Depois, em democracia, passou meio século durante o qual nenhuma decisão foi tomada pelo poder político – um “record” de indecisão que poderia figurar no “Guiness”.

Criada há um ano, a Comissão Técnica Independente (CTI) foi alvo de suspeições e críticas ao longo de meses. Mas a verdade é que, agora, surpreendeu pela positiva. A CTI não se limitou a indicar as vantagens e os inconvenientes das várias localizações possíveis, mas informou claramente sobre as que considera preferíveis. A decisão cabe, agora, ao poder político. O próximo Governo deve aproveitar o trabalho realizado pela CTI, mas, no limite, até poderá optar por uma localização não analisada pela CTI – seria insensato, mas possível.

Claro que as recomendações da CTI podem ser criticadas – está a decorrer o mês durante o qual aquelas recomendações se encontram em debate público. Por exemplo, a ANA-Aeroportos de Portugal critica o elevado custo das localizações preferidas pela CTI; a ANA prefere o Montijo.

Com exceção do Montijo, localização afastada por pertinentes motivos económicos, ambientais e aeronáuticos, todas as hipóteses avaliadas pela CTI indicam que uma primeira pista de aterragem do novo aeroporto só deverá ficar pronta em 2031 – serão pelo menos oito anos de obras, com alta probabilidade, acrescento eu, de demorar mais se os costumados atrasos forem adicionados. A CTI estima que a procura para o aeroporto de Lisboa deverá em 2050 ser 2,1 a 3,5 vezes superior à que hoje se verifica.

Significa isto que a Portela (aeroporto Humberto Delgado), que já “rebenta pelas costuras”, terá durante pelos menos oito anos que aguentar um forte aumento de tráfego aéreo, que hoje já afeta negativamente, pelo ruído, grande parte da população de Lisboa. É um dos custos da indecisão das últimas décadas. Daí que o atual Governo tenha tomado medidas para que a ANA - Aeroportos de Portugal apresse obras no aeroporto Humberto Delgado. Aliás, o relacionamento do próximo Governo com a ANA poderá trazer novos atrasos ao novo aeroporto.

PS e PSD deveriam acordar quanto antes numa localização para o futuro aeroporto, sem esperar que o próximo Governo entre em funções e finalmente decida.

QOSHE - O “record” da indecisão - Francisco Sarsfield Cabral
menu_open
Columnists Actual . Favourites . Archive
We use cookies to provide some features and experiences in QOSHE

More information  .  Close
Aa Aa Aa
- A +

O “record” da indecisão

4 1
11.12.2023

A Comissão Técnica Independente apresentou no passado dia 5 as suas recomendações sobre a localização do futuro aeroporto de Lisboa. É uma questão que se discute há 55 anos.

O regime anterior ao 25 de abril, uma ditadura, não decidiu essa localização, apesar de as ditaduras não costumarem preocupar-se com consensos. Depois, em democracia, passou meio século durante o qual nenhuma decisão foi tomada pelo poder político – um “record” de indecisão que poderia figurar no “Guiness”.

Criada há um ano, a Comissão Técnica Independente (CTI) foi alvo de suspeições e críticas ao longo de meses. Mas a verdade........

© Renascença


Get it on Google Play