No meio de múltiplas tempestades é fácil ceder a impulsos e a apelos. Cercados – ou aparentemente cercados – pela incompetência, corrupção ou inépcia é frequente o pé fugir para o extremismo.

Há uns anos pediram-me e fiz uma intervenção sobre como, em tais circunstâncias, se pode permanecer na moderação.

Nesse quadro, os moderados são vistos como fracos e cobardes; e os radicais como fortes e corajosos.

Os primeiros sabem que o radicalismo fácil se paga mais tarde e com juros elevados. Por isso resistem a propor caminhos que levem os países para o abismo, mas, frequentemente, ficam a meio caminho, sem esclarecerem o necessário.

Os segundos dizem o que algumas multidões desejam ouvir, apelam aos instintos mais baixos, instrumentalizam descontentes, desfazem-se em promessas que nunca poderão cumprir. Vale tudo para chegar ao poder, explorando sofrimentos, necessidades ou ignorâncias.

Nas próximas eleições legislativas, este é o quadro em que os eleitores vão votar.

Para mudar o que está mal na saúde, na justiça, na educação ou na segurança estamos a ser inundados, pela extrema-direita e pela extrema-esquerda, com propostas mirabolantes, irrealizáveis e enganadoras. Desde igualar as pensões mais baixas ao salário mínimo nacional até aos cem mil alojamentos adicionais que iriam aparecer da noite para o dia para resolver o drama da habitação dos mais pobres.

Não são utopias nem delírios. São enganos deliberados que um eleitorado carente de liderança e à beira da exaustão, recebe como se de uma poção mágica se tratasse.

Aos moderados – aos partidos que não se reconhecem nos extremos – pedem-se propostas claras, inteligíveis e realistas. E que as saibam comunicar e credibilizar.

Nas atuais circunstâncias exige maior coragem permanecer na moderação do que simplesmente cavalgar os mais variados discursos radicais ao sabor do vento.

Afinal, é mais fácil ser moderado ou radical?



QOSHE - Tão fácil ser radical! - José Luís Ramos Pinheiro
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Tão fácil ser radical!

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06.02.2024

No meio de múltiplas tempestades é fácil ceder a impulsos e a apelos. Cercados – ou aparentemente cercados – pela incompetência, corrupção ou inépcia é frequente o pé fugir para o extremismo.

Há uns anos pediram-me e fiz uma intervenção sobre como, em tais circunstâncias, se pode permanecer na moderação.

Nesse quadro, os moderados são vistos como fracos e cobardes; e os radicais como fortes e corajosos.

Os primeiros sabem que o radicalismo fácil se paga mais tarde........

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