Efetivamente, Deus é Amor e é nos momentos em que nos afastamos deste nobre sentimento que pecamos.

Sempre que nos desviamos da comunhão, sempre que nos afastamos das relações de amizade, do amor mútuo, da proximidade que acolhe genuinamente o outro, quem quer que ele seja, sem olhar a interesses egoístas, então, é aí que que pecamos.

Quantas e quantas vezes este pecado, este afastamento, não tem acontecido nas nossas vidas, nas estruturas familiares, nas empresas? Quantas e quantas vezes os políticos não colocam a tónica na defesa da dignidade da pessoa humana, olvidando a concretização de medidas, de estratégias que permitam o acesso de todos, principalmente dos mais fragilizados, à saúde, à educação, à justiça?

Ainda temos um caminho a percorrer, ninguém é perfeito, e torna-se imperioso acreditar, com uma firme esperança, que este percurso depende, também, de cada um de nós, na capacidade que temos para acolher o próximo, sobremaneira, aquele que está à beira do caminho, na periferia da sociedade e que se sente só.

Neste caminho em que se almeja, hoje, fazer mais do que ontem pela construção de um mundo melhor e em que o outro é o objeto da nossa proteção, da nossa atenção, eis que a Igreja Católica em Portugal, alcançando que o flagelo dos abusos sexuais de menores devastou muitas vidas, que fragilizou muitas pessoas e afastou muitos crentes, com um profundo sinal de humildade, quis conhecer a realidade, “reconhecer que se cometeram erros e pedir perdão”.

O fenómeno dos abusos sexuais de menores acontece nos mais variados grupos, estruturas de uma sociedade e principalmente na família.

A verdade é que sendo Deus Amor, misericórdia, e Cristo o rosto humano desse Amor, que nos chama a dar testemunho, então, recai sobre cada um de nós, membros desta Igreja, uma responsabilidade acrescida… e tudo, tudo, deve ser feito para erradicar esse mal, tal como nos pediu o Papa Francisco.

O Relatório da Comissão Independente para os Estudos dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica foi tornado público aos 13 de fevereiro de 2023 e Pedro Strecht, que liderava a Comissão Independente, trouxe-nos a crueza dos relatos.

Desde esse dia até à presente data um caminho, doloroso é certo, tem sido concretizado.

A Igreja em Portugal alcançando que muitas das vítimas olhavam para as 21 Comissões Diocesana para Proteção dos Menores e Adultos Vulneráveis com desconfiança, então, criou uma outra estrutura para, também, receber as denúncias, o Grupo Vita, liderado pela psicóloga Rute Agulhas.

O grupo Vita, as 21 Comissões Diocesanas e a Equipa de Coordenação Nacional têm trabalhado, diariamente, na busca incessante e uniforme das respostas mais adequadas para a proteção das vítimas, bem como na concretização de políticas de prevenção e de formação.

Acompanha-nos o rosto de cada uma das pessoas que foi ultrajada no mais íntimo do seu ser e é por cada uma delas que a Igreja em Portugal está a fazer um novo caminho repleto de Fé e Esperança.

Efetivamente, já está a ser disponibilizado apoio psicológico e psiquiátrico, bem como medicação, e alguns membros do clero, Presbíteros, Bispos e Arcebispos, nos respetivos encontros, já pediram perdão. Entretanto, está a ser preparado um documento que analisará a matérias das reparações morais, financeiras, e em que serão apresentados critérios e propostas para as vítimas.

Verificamos que a sociedade, por desconhecimento da natureza deste tipo hediondo de ilícito, bem como do trauma que o mesmo causa e do modo de atuação do agressor, ainda, não alcançou que urge alterar a lei no que concerne aos prazos de prescrição. A Igreja em Portugal, por intermédio do Grupo Vita e das 21 Comissões Diocesanas, está, também, a contribuir para essa discussão.

Somos todos interpelados a participar nos caminhos de transformação e de reconstrução da nossa vida comum para refazermos a esperança num mundo melhor. Que assim seja!

* Advogada e Presidente da Equipa de Coordenação Nacional das 21 Comissões Diocesanas

QOSHE - A esperança num mundo melhor - Paula Margarido
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A esperança num mundo melhor

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12.02.2024

Efetivamente, Deus é Amor e é nos momentos em que nos afastamos deste nobre sentimento que pecamos.

Sempre que nos desviamos da comunhão, sempre que nos afastamos das relações de amizade, do amor mútuo, da proximidade que acolhe genuinamente o outro, quem quer que ele seja, sem olhar a interesses egoístas, então, é aí que que pecamos.

Quantas e quantas vezes este pecado, este afastamento, não tem acontecido nas nossas vidas, nas estruturas familiares, nas empresas? Quantas e quantas vezes os políticos não colocam a tónica na defesa da dignidade da pessoa humana, olvidando a concretização de medidas, de estratégias que permitam o acesso de todos, principalmente dos mais fragilizados, à saúde, à educação, à justiça?

Ainda temos um caminho a percorrer, ninguém é perfeito, e torna-se imperioso acreditar, com uma firme esperança, que este percurso depende, também, de cada um de nós, na capacidade que temos para acolher o próximo, sobremaneira, aquele que está à beira do caminho, na periferia........

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