Acossado pela opinião pública local e internacional, isolado na frente diplomática e criticado até pelo governo de turno de seu mentor e financiador, os Estados Unidos, o governo de extrema-direita de Benjamin Netanyahu segue travando uma guerra de propaganda pela sua sobrevivência, tendo como principal aliado o poderoso lobby de Israel nos Estados Unidos.

Além de colocar parlamentares estadunidenses para atacar o movimento estudantil que denuncia o genocídio em Gaza -- muitos dos quais recebedores de dinheiro de campanha do American Israel Public Affairs Committee (AIPAC) -- Netanyahu usa aliados na mídia local para apresentar seus "planos futuros" para o território palestino.

A notícia mais recente saiu no Jerusalem Post.

Trata-se de uma tentativa de comprar a soberania palestina e compartilhar os recursos com outros países árabes.

"Da crise à prosperidade: a visão de Netanyahu para Gaza em 2035 revelada online", anunciou o diário israelense que é quase porta-voz do governo.

Pelo plano:

O poder seria lentamente transferido para um governo local de Gaza ou para um governo palestino unificado (incluindo a Cisjordânia). No entanto, isso depende do sucesso da desradicalização e da desmilitarização da Faixa de Gaza e estará sujeito ao acordo de todas as partes. O passo final seria que os palestinos administrassem Gaza de forma totalmente independente e aderissem aos Acordos de Abraão.

Traduzindo: os palestinos abririam mão de suas reivindicações históricas e aceitariam a presença de 700 mil colonos de Israel implantados em seus territórios.

Seriam "desradicalizados", ou seja, "reeducados" por Israel, o que presumivelmente inclui o controle sobre os currículos escolares; e cederiam todas as armas ao poder colonial.

O golpe final seria a "normalização" das relações diplomáticas com Israel.

Os planos seriam implementados sob a supervisão de paises árabes com relações normalizadas com Tel Aviv: Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Egito, Bahrein, Jordânia e Marrocos.

O que eles ganhariam?

As principais vantagens para os estados do Golfo que participarem incluem pactos defensivos com os EUA e acesso irrestrito aos portos mediterrâneos de Gaza através de ferrovias e oleodutos. O plano também diz que se tal intervenção for bem sucedida em Gaza, poderá ser repetida no Iêmen, na Síria e no Líbano. Para a população de Gaza, as maiores vantagens após o fim do controle do Hamas seriam o investimento maciço na faixa e enormes oportunidades de emprego, bem como um caminho para a reunificação com a Cisjordânia e para alcançar o autogoverno.

Em outras palavras, Netanyahu está prometendo compartilhar a soberania palestina com outros países árabes, que teriam retorno financeiro significativo -- inclusive das reservas de petróleo e gás no mar Mediterrâneo reivindicadas pelos palestinos.

O papel de Israel seria o de um estado colonial turbinado, sob o guarda-chuva dos Estados Unidos, estendendo sua influência ao Sinai, onde seriam replicados os planos da Arábia Saudita de construir uma cidade vertical no deserto -- sempre de acordo com o texto publicado no Jerusalem Post.

Isso permitiria que Gaza funcionasse como um importante porto industrial no Mediterrâneo, que seria o principal entreposto para a exportação de produtos de Gaza, mas também de petróleo saudita e outras matérias-primas do Golfo. O plano também apela à criação de uma zona de livre comércio abrangendo Sderot-Gaza-El Arish, o que permitiria a Israel, Gaza e Egito tirar vantagem da localização, de forma cooperativa.

Por mais bizarro que pareça o plano, é revelador do interesse de Benjamin Netanyahu e aliados pelo potencial econômico de Gaza e explica as iniciativas de Israel para barrar qualquer estado palestino que não esteja sob o controle de Tel Aviv.

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O bizarro plano de Netanyahu para vender a soberania palestina

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06.05.2024

Acossado pela opinião pública local e internacional, isolado na frente diplomática e criticado até pelo governo de turno de seu mentor e financiador, os Estados Unidos, o governo de extrema-direita de Benjamin Netanyahu segue travando uma guerra de propaganda pela sua sobrevivência, tendo como principal aliado o poderoso lobby de Israel nos Estados Unidos.

Além de colocar parlamentares estadunidenses para atacar o movimento estudantil que denuncia o genocídio em Gaza -- muitos dos quais recebedores de dinheiro de campanha do American Israel Public Affairs Committee (AIPAC) -- Netanyahu usa aliados na mídia local para apresentar seus "planos futuros" para o território palestino.

A notícia mais recente saiu no Jerusalem Post.

Trata-se de uma tentativa de comprar a soberania palestina e compartilhar os recursos com outros países árabes.

"Da crise à prosperidade: a visão de Netanyahu para Gaza em 2035 revelada online", anunciou o diário........

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