Estamos ainda longe do dia 10 de março, mas começam já a multiplicar-se as tentativas de capitalizar receios em torno de cenários para coligações pós-eleitorais. À Direita evoca-se a "geringonça" e diaboliza-se a inédita configuração que mudou a tradicional alternância em democracia. À Esquerda agita-se o fantasma do Chega, repetindo os argumentos das últimas legislativas para convencer eleitores do centrão a não votarem no PSD.

Ouça aqui o comentário de Inês Cardoso

Tentar antecipar somas aritméticas e condicionar escolhas na lógica do voto útil é um truque antigo, aguçado pela fragmentação e pelo crescimento dos extremismos a que vamos assistindo. Como se o voto fosse a escolha de uma segunda opção ou mal menor, em vez de uma escolha positiva do projeto e dos protagonistas a quem realmente queremos entregar a responsabilidade de governar o país.

As sondagens entram nesta equação com efeitos potencialmente perturbadores. Como Luís Paixão Martins bem explica no recentemente publicado livro "Como mentem as sondagens", tendemos a ler como certos dados que, por variadíssimas razões, não são mais do que indicações vagas num determinado momento. E se já é perigoso fazer futurologia e anunciar vencedores como se de ciência exata se tratasse, mais arriscado ainda é decidir individualmente o voto em função do que acreditamos que as sondagens nos dizem.

O voto de cada cidadão pode parecer insignificante face à gigantesca massa de boletins que no final determina os resultados, mas é precisamente da soma de cada uma das partes que se chega ao todo. São as escolhas que nos definem, em tudo na vida. E não devem ser tomadas em função de lógicas calculistas ou pragmáticas, de narrativas criadas a partir de meros cenários, menos ainda em função do medo. Votar é um direito e igualmente uma tremenda responsabilidade. Uma escolha feita em total liberdade e coerência, ou estaremos a desistir dos valores que queremos para a nossa democracia.

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Ignorar as sondagens

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19.11.2023

Estamos ainda longe do dia 10 de março, mas começam já a multiplicar-se as tentativas de capitalizar receios em torno de cenários para coligações pós-eleitorais. À Direita evoca-se a "geringonça" e diaboliza-se a inédita configuração que mudou a tradicional alternância em democracia. À Esquerda agita-se o fantasma do Chega, repetindo os argumentos das últimas legislativas para convencer eleitores do centrão a não votarem no PSD.

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Tentar antecipar somas........

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