A escola pública encerra hoje e muitos alunos passaram pelo primeiro período deste ano letivo sem ter uma única aula a uma ou mais disciplinas. Há crianças e jovens que não tiveram aulas de português. Explicações para que isto aconteça assim, ano após ano, há muitas, desculpas é que não há nenhuma. Não são apenas os governos que falham, são as escolas que começam todos os anos do mesmo sítio, como se não houvesse nada a aprender com o ano anterior, como se não existissem problemas que são exatamente iguais ano após ano. E não são apenas as escolas que falham, são também os sindicatos que não aprendem que a única forma de valorizarem a profissão é valorizando a escola pública, porque ela é a única que garante segurança no emprego e futuro para os seus filhos.

Já vai sendo tempo de abandonar a ladainha da geração mais bem preparada de sempre, porque podem ser batidos todos os recordes no número de alunos no ensino superior, mas isso não significa que saiam de lá bem preparados para enfrentar a vida. E não é só a formação académica que é coxa, é também a entrada no mercado profissional que é feita sem o devido prémio pelos anos de estudo. Está a chegar o dia em que ter o ensino superior não vale um euro.

Tudo isto acontece num tempo em que se desvaloriza o papel da comunicação social, em que a informação que circula a grande velocidade nas redes sociais assenta em muitas mentiras. Há cada vez menos gente disponível para pagar por informação de qualidade, há cada vez menos pluralidade na comunicação social. O que podia ajudar a construir um mundo melhor, está cada vez pior.

Não é apenas a sociedade que falha, são também as empresas de comunicação social que insistem na mesma solução errada esperando obter resultados diferentes. Não precisei de andar às voltas para chegar aqui. Esta é mesmo a geração mais mal-amada de sempre e este grupo de comunicação social, de que faz parte a TSF, é o exemplo acabado de que as coisas não estão a correr bem. Não é de agora, vem de há muito. Fiz grande parte da minha carreira profissional neste grupo. Estive duas vezes no JN, três na TSF - oito anos como diretor -, escrevi no Jogo, chefiei e dirigi o DN. Para o bem e para o mal, tenho a minha quota de responsabilidades.

Trabalhei com grandes profissionais por todo o lado onde passei e muitos deles continuam por aqui. Na TSF, no JN, no DN, em O Jogo. Quero afirmar-me solidário com tudo o que lhes está a acontecer. Bem hajam pelo excelente trabalho que fazem em condições tão difíceis.

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QOSHE - A geração mais mal amada de sempre - Paulo Baldaia
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A geração mais mal amada de sempre

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15.12.2023

A escola pública encerra hoje e muitos alunos passaram pelo primeiro período deste ano letivo sem ter uma única aula a uma ou mais disciplinas. Há crianças e jovens que não tiveram aulas de português. Explicações para que isto aconteça assim, ano após ano, há muitas, desculpas é que não há nenhuma. Não são apenas os governos que falham, são as escolas que começam todos os anos do mesmo sítio, como se não houvesse nada a aprender com o ano anterior, como se não existissem problemas que são exatamente iguais ano após ano. E não são apenas as escolas que falham, são também os sindicatos que não aprendem que a única forma de valorizarem a........

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