Em tempo recorde, o PSD apresentou a sua lista de deputados, estando já confirmados, também, alguns nomes do CDS para integrarem as candidaturas da coligação AD. O PSD reuniu, esta semana, um pouco à pressa, com economistas, depois da apresentação prévia de uma lista de nomes apoiantes onde procurou pescar na sociedade civil – mas Luís Montenegro não teve tempo de ensaiar uma espécie de “Estados Gerais”, à maneira de António Guterres, nos anos 90, que mobilizassem os setores mais dinâmicos do País (como então) e que quisessem colaborar na substituição (como então) de uma maioria absoluta exaurida. Todavia, parece ter feito um genuíno esforço para melhorar a qualidade da sua bancada parlamentar, tornada quase irrelevante pelas escolhas de Rui Rio em 2022. (Saúdem-se, nomeadamente, os regressos de Aguiar Branco e de Teresa Morais).

O problema da degradação da qualidade do pessoal político, que se tem notado, sobretudo, nas listas de deputados dos dois maiores partidos, não tem a ver apenas com o facto de os políticos (ao contrário da perceção pública geral) serem muito mal pagos, o que afasta os melhores. O afastamento dos melhores também não tem apenas a ver com a insuportável exposição mediática ou com o escrutínio crescentemente orwelliano das pessoas. Esta degradação da qualidade começa no sectarismo das direções partidárias, que tende a privilegiar a fidelidade canina – e a dependência respetiva do favor do líder… – sobre a competência. Tempos houve, na primeira metade destes 50 anos de democracia, em que a pluralidade interna dos partidos democráticos se refletia nas respetivas bancadas parlamentares. Hoje, o líder, em vez de negociar, tende a recompensar os que apoiaram a sua ascensão e a punir os que se lhe opõem. O resultado disso é que, uma vez removido, o seu substituto pode nem sequer ter sido eleito deputado, e não tem, portanto, oportunidade de debater, no lugar próprio, com o primeiro-ministro. Mais, ele fica a braços com bancadas medíocres que ainda por cima lhe são hostis. Aconteceu a António José Seguro, que herdou uma bancada ferrenhamente “socrática”, ou a Luís Montenegro que, sem sequer ter entrado nas listas anteriores, recebeu uma bancada amorfa e desmoralizada.

QOSHE - AD lança os seus dados - Filipe Luís
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AD lança os seus dados

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18.01.2024

Em tempo recorde, o PSD apresentou a sua lista de deputados, estando já confirmados, também, alguns nomes do CDS para integrarem as candidaturas da coligação AD. O PSD reuniu, esta semana, um pouco à pressa, com economistas, depois da apresentação prévia de uma lista de nomes apoiantes onde procurou pescar na sociedade civil – mas Luís Montenegro não teve tempo de ensaiar uma espécie de “Estados Gerais”, à maneira de António Guterres, nos anos 90, que mobilizassem os setores mais dinâmicos do País (como então) e que quisessem colaborar na........

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