Face a estes resultados (escrevo, agora, às 01h05 de dia 11) em que ninguém obtém uma vitória clara – e o Chega até parece que ficou em primeiro lugar -, foi com alívio que Pedro Nuno Santos veio, apressadamente, reconhecer uma derrota que ainda não é certa: nestas condições, o PS não quer governar. O PS a governar com esta fragmentação política e parlamentar e um partido Chega a zumbir aos ouvidos de manhã à noite, não conseguirá fazer nada. Nestas condições especiais, qualquer governo, especialmente socialista, se desgastará em dois tempos. Por isso, o PS deixa passar um governo minoritário da AD mas, quando chegar à discussão do Orçamento do Estado, a AD terá de ir pedir batatinhas ao Chega. Pedro Nuno Santos foi suficientemente claro: “Nós não deixaremos a liderança da oposição ao Chega”.

Dir-se-ia que, daqui a 15 dias, se os resultados apurados nos círculos da emigração revertessem esta derrota, e Marcelo indigitasse Pedro Nuno Santos, este não aceitaria. Nada, na Constituição, o obriga a aceitar, aliás. E avançaria o segundo mais votado. Mas Luís Montenegro disse que não governaria se não ficasse em primeiro. Por sua vez, Marcelo deixou passar informações segundo as quais não indigitará nenhum primeiro-ministro que não tenha ido a eleições. E Pedro Nuno disse que o PS trabalhará, nos próximos meses, para recuperar a confiança dos portugueses…

Só faltou a André Ventura ameaçar que vai enfiar uns tantos no Campo Pequeno…

A conclusão é a seguinte: Pedro Nuno acha que teve pouco tempo para se dar a conhecer ao eleitorado. E aposta tudo em novas eleições, no prazo máximo de um ano. Ou isso, ou – se não agora, mais tarde – o PSD vai mesmo ter de “casar” com o Chega. Ou deixar-se devorar por ele.

Talvez por tudo isto, na sua declaração de vitória, Luís Montenegro parecia estar a viver o seu segundo “momento-Madeira”. E foi com o ar de um mártir que cumpre o seu destino que, na primeira resposta aos jornalistas, fez a declaração mais importante da noite: repetiu que só tem uma palavra, no cumprimento de dois compromissos eleitorais: não governará se não ficar em primeiro. E não fará acordos com o Chega.

PS – O discurso de André Ventura tem lá todos os sinais de um líder autoritário e de alguém que não sabe ganhar. É um discurso de rufia, infantil, revanchista, vingativo, malicioso, prepotente e eloquente na demonstração da sua falta de estatura de homem de Estado. Faltou-lhe só dizer que, na primeira oportunidade, vai enfiar uns tantos no Campo Pequeno.

QOSHE - Pedro Nuno não governa, nem que lhe peçam. Já Montenegro, não tem outro remédio… - Filipe Luís
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Pedro Nuno não governa, nem que lhe peçam. Já Montenegro, não tem outro remédio…

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11.03.2024

Face a estes resultados (escrevo, agora, às 01h05 de dia 11) em que ninguém obtém uma vitória clara – e o Chega até parece que ficou em primeiro lugar -, foi com alívio que Pedro Nuno Santos veio, apressadamente, reconhecer uma derrota que ainda não é certa: nestas condições, o PS não quer governar. O PS a governar com esta fragmentação política e parlamentar e um partido Chega a zumbir aos ouvidos de manhã à noite, não conseguirá fazer nada. Nestas condições especiais, qualquer governo, especialmente socialista, se desgastará em dois tempos. Por isso, o PS deixa passar um governo minoritário da AD mas, quando chegar à........

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