O Jornal de Angola dá conta da nota expedida pelo Departamento de Comunicação da Igreja Evangélica Congregacional em Angola (IECA), sobre o recente falecimento do Reverendo José Belo Chipenda (1929-2024), com noventa e cinco anos, no Canadá, onde vivia há muito, tendo sido vítima de doença prolongada.

O religioso nasceu a 9 de Outubro de 1929, na aldeia de Lomanda, no município do Bailundo, província do Huambo, era neto dum soba da região e veio a ocupar cargos relevantes no contexto religioso africano. Segundo o referido jornal: “Foi eleito secretário-geral da Igreja Evangélica Congregacional em Angola (IECA) no ano de 1997 e permaneceu no cargo até 2004. José Belo Chipenda foi dos primeiros estudantes da língua Umbundu a ser escolhido para continuar os estudos nos Estados Unidos da América, e pela capacidade intelectual, sabedoria, dinâmica e visão alcançou grandes níveis.”

Em 1988 José Belo Chipenda foi eleito Secretário-Geral da Conferência de Igrejas de Toda a África (CITA) ou AACC (All África Conference of Churches), trabalhando ao lado do arcebispo anglicano da África do Sul, Desmond Tutu, quando este presidia a esta instituição, criada um ano depois da formação da antiga Organização da Unidade Africana (OUA),ocasião em que a língua portuguesa passou a ser valorizada, sendo utilizada nos grandes eventos ecuménicos pan-africanos. Nessa altura, e por orientação do Rev. Chipenda, a CITA publicava o Tam Tam, jornal ecuménico destinado aos países lusófonos africanos.

No Conselho Mundial de Igrejas, em Genebra, José Belo Chipenda trabalhou no Departamento da Luta Contra o Racismo (com destaque para a situação do aparthaid na África do Sul), na Presidência da Associação Mundial de Estudantes Cristãos, no CAIE (Conselho Angolano de Igrejas Evangélicas, actual CICA), onde já fora Secretário-Geral, bem como na Igreja Evangélica Congregacional em Angola em Angola (IECA), como Secretário-Geral.

Daniel Ntangu, jornalista do Conselho de Igrejas Cristãs em Angola recorda com saudade este filho de Angola mas com rosto internacional. Fá-lo com dor e consternação, recordando os bons momentos partilhados ao seu lado, sobretudo as viagens que realizaram juntos no tempo em que o país esteve em guerra civil: “todos nos curvamos diante da vossa memória, agradecendo a Deus pela vida e tudo quanto fez em prol do ecumenismo e da Igreja do nosso Senhor Jesus Cristo na terra, seguindo o exemplo do saudoso vosso pai, Rev. Jessé Chiula Chipenda.” O pai, que já lutava pela independência, foi preso pelo regime salazarista, vindo a morrer na prisão colonial em 1968 no Huambo.

Outro testemunho é o de Daniel P. Simão, diácono da Igreja Evangélica de Angola (IEA), que recorda com saudade e emoção o Rev. Chipenda, seu pai na fé, tendo trabalhado como relações públicas no seu gabinete em Luanda, quando ele era secretário-geral da CICA, entre 1987 e 1988.

O Rev. José Belo Chipenda era um nacionalista notável, militante dos direitos humanos e uma “figura incontornável e indispensável na história da independência e da paz em Angola”, tendo sido galardoado em 2018 com a medalha de Bravura e de Mérito Cívico e Social, que recebeu das mãos do Presidente da República de Angola, João Lourenço.

Era irmão de Daniel Chipenda (1931-1996), que foi futebolista profissional do Benfica (onde foi campeão nacional) e da Académica entre 1956 e 1961, e cujo filho Raul lhe seguiu os passos como jogador profissional, sendo actualmente director na sede da Confederação Africana de Futebol (CAF).

Mais tarde Daniel Chipenda foi embaixador de Angola no Cairo (1989-1992), mas começou como guerrilheiro e combatente na luta pela independência angolana na Frente Leste. Daniel, mais novo, destacou-se na luta contra o colonialismo português enquanto militar e político, José Belo, o mais velho, militou na área religiosa. Ambos prestaram serviços inestimáveis à causa da independência, da afirmação e do progresso de Angola.

A propósito da recente partida do Rev. José Belo Chipenda podemos invocar as palavras do apóstolo Paulo: “Porque sabemos que, se a nossa casa terrestre deste tabernáculo se desfizer, temos de Deus um edifício, uma casa não feita por mãos, eterna, nos céus” (2 Coríntios 5:1).

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José Belo Chipenda: nacionalista e homem de fé

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17.01.2024

O Jornal de Angola dá conta da nota expedida pelo Departamento de Comunicação da Igreja Evangélica Congregacional em Angola (IECA), sobre o recente falecimento do Reverendo José Belo Chipenda (1929-2024), com noventa e cinco anos, no Canadá, onde vivia há muito, tendo sido vítima de doença prolongada.

O religioso nasceu a 9 de Outubro de 1929, na aldeia de Lomanda, no município do Bailundo, província do Huambo, era neto dum soba da região e veio a ocupar cargos relevantes no contexto religioso africano. Segundo o referido jornal: “Foi eleito secretário-geral da Igreja Evangélica Congregacional em Angola (IECA) no ano de 1997 e permaneceu no cargo até 2004. José Belo Chipenda foi dos primeiros estudantes da língua Umbundu a ser escolhido para continuar os estudos nos Estados Unidos da América, e pela capacidade intelectual, sabedoria, dinâmica e visão alcançou grandes níveis.”

Em 1988 José Belo Chipenda foi eleito Secretário-Geral da Conferência de Igrejas de Toda a África (CITA) ou AACC (All África Conference of Churches), trabalhando ao lado do arcebispo anglicano da África do Sul, Desmond Tutu, quando este presidia a esta........

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