“Dizer a verdade tem de ser mais importante do que pertencer a um grupo.” A frase é da Lídia Jorge, numa entrevista ao Público. Não há novidade nenhuma no que ela diz. É uma questão que se levanta desde que o Homem percebeu que não conseguia sobreviver sozinho: quanto de mim tenho de dar para ser aceite pelo grupo, qual a medida da minha liberdade, qual a importância e a força das minhas convicções face às da comunidade em que me insiro, quanto valem essas crenças para que eu possa suportar mentiras para esse grupo vingar. Os grandes escritores não sabem só ler as almas, sabem ler o tempo. Numa sociedade cada vez mais polarizada, estas questões ganham uma importância decisiva para percebermos o mundo em que vivemos. Há outra dimensão no pensamento de Lídia Jorge. Uma espécie de questão primária: uma comunidade consegue sobreviver à mentira? Não é só eu ter de suportar a mentira para permanecer no grupo, também é questionar se um grupo que vive bem com a mentira tem condições para se manter unido? Pode este propor-se a lutar por bons valores quando a verdade é secundarizada? No mesmo sentido, vale a pena viver numa comunidade que estabelece que, para lhe pertencer, eu tenho de prescindir da minha liberdade de dizer a verdade?

Esta crónica era (e talvez também seja) sobre o que vou ouvindo sobre segurança e imigração, mas, quanto mais pensava nas mentiras que se dizem e nas perceções erradas que se alimentam sobre esses temas, mais à cabeça me vinha a frase da minha conselheira de Estado favorita.

QOSHE - Lídia Jorge, a imigração e a segurança - Pedro Marques Lopes
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Lídia Jorge, a imigração e a segurança

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04.01.2024

“Dizer a verdade tem de ser mais importante do que pertencer a um grupo.” A frase é da Lídia Jorge, numa entrevista ao Público. Não há novidade nenhuma no que ela diz. É uma questão que se levanta desde que o Homem percebeu que não conseguia sobreviver sozinho: quanto de mim tenho de dar para ser aceite pelo grupo, qual a medida da minha liberdade, qual a importância e a........

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