Na Argentina, há uma geração que nasceu e cresceu sob uma economia em permanente estado de crise, com uma inflação que, este ano, se aproxima dos 150%, com uma moeda em contínuo declínio e com a pobreza a atingir cada vez mais camadas da população. E, no segundo maior país da América do Sul, há também várias gerações que, ao longo das últimas décadas, foram vendo diversos líderes a passar pelo poder sem conseguirem evitar o agravamento da situação, mesmo que, no momento da sua eleição, prometessem que iriam fazer diferente. Desde o início deste século, milhões de argentinos assistiram a diversas desvalorizações da moeda, a vários programas económicos e também a muitos jogos políticos, embora sem nunca terem visto uma verdadeira renovação da classe dirigente.

É nesta realidade que temos de procurar a explicação para o terramoto político que ocorreu, no último domingo, na Argentina, com a eleição para Presidente de um ultraliberal sem qualquer experiência política, saído da esfera dos partidos tradicionais, que se autodefine como anarcocapitalista e que tem como programa imediato de governo romper com o statu quo. E quer fazê-lo, logo de início, em grande e em força: extinguir o banco central, trocar o peso pelo dólar e, dessa forma, deixar a moeda do país às ordens da Reserva Federal dos EUA. Mas não só: logo a seguir a ser eleito, anunciou a privatização da petrolífera argentina, da televisão pública e da agência estatal de notícias. Pretende fechar ainda a maioria dos ministérios, tornar a educação e a saúde privadas e, sem rodeios, despedir milhares e milhares de funcionários públicos. Avisa também que o seu plano de cortes orçamentais é ainda mais duro do que aquele que é exigido pelo Fundo Monetário Internacional – onde já vimos isto?…

QOSHE - O terramoto Milei não nasceu no vácuo - Rui Tavares Guedes
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O terramoto Milei não nasceu no vácuo

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23.11.2023

Na Argentina, há uma geração que nasceu e cresceu sob uma economia em permanente estado de crise, com uma inflação que, este ano, se aproxima dos 150%, com uma moeda em contínuo declínio e com a pobreza a atingir cada vez mais camadas da população. E, no segundo maior país da América do Sul, há também várias gerações que, ao longo das últimas décadas, foram vendo diversos líderes a passar pelo poder sem conseguirem evitar o agravamento da........

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